São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

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Colônia coreana migra para bairros nobres

Hoje são 24.095 coreanos residentes no país, sendo 20.811 no Estado de São Paulo e 18.963 na capital

Maria do Carmo/Folha Imagem
Yoo Na Kim na viagem que fez a Seul para escrever um livro


FERNANDO MASINI
DA REVISTA DA FOLHA

Eles chegaram há mais de 40 anos. Arregaçaram as mangas nas lavouras do interior de SP. Conquistaram seu pedacinho de terra, mas voltaram à cidade para ganhar a vida naquilo que sabem fazer: negócios.
De início, venderam roupas e perucas a vizinhos, de porta em porta, no Bom Retiro. Bateram perna numa região que já foi reduto de italianos e judeus. Logo, transformaram o ganha-pão em coisa séria.
Hoje os coreanos dominam o mercado de roupas no local, e estão alargando seus horizontes em direção a bairros mais nobres do centro da cidade de São Paulo, como Higienópolis, Perdizes e Pacaembu.
É mais uma clássica história de mobilidade social e inserção de imigrantes em São Paulo. A saga parece uma repetição da trajetória dos judeus na cidade. Não fosse o intervalo de décadas que os separam.
"É natural seguir o caminho dos judeus. Eles vieram antes e ocuparam o mesmo espaço que nós ocupamos hoje", afirma Yoo Na Kim, 27, espécie de porta-voz da comunidade coreana em São Paulo. "A gente ainda não tem tanta força porque há poucos profissionais liberais, enquanto os judeus não se concentram mais em um só ramo."
A jovem, que chegou ao Brasil com seis anos, em 1988, faz um retrato bem colorido da fixação dos imigrantes em São Paulo no livro "A Jovem Coreia" (ed. SSUA, 176 págs.).
A própria história de Yoo Na é emblemática. Os pais abriram uma loja de confecção, em 1990, numa galeria da rua José Paulino. Investiram na educação das filhas. Yuree, 24, ajuda os pais na loja. Yoo Na, formada em jornalismo, foi atrás dos parcos documentos disponíveis sobre o grupo em São Paulo e fez uma viagem a Seul para mergulhar na cultura do seu país de origem.
Os asiáticos são um dos grupos mais recentes a aportar por aqui. Os primeiros coreanos chegaram de navio em 1963, no porto de Santos.

Mobilidade
Há dois anos, a família Chung trocou um apartamento pequeno no Bom Retiro por um imóvel em Higienópolis. Depois de terem o antigo endereço invadido por assaltantes, Diego Chung, 54, e Delia, 51, resolveram mudar de endereço.
O trauma passou e hoje eles desfrutam o que o bairro de classe média alta oferece. Apesar de manterem raízes no Bom Retiro, costumam passear com os três yorkshires nas imediações de casa e gastar um tempinho no shopping. Como manda a tradição, Delia é dona de uma loja de roupas no Bom Retiro.
"A mudança para Higienópolis acontece apenas como moradia. A área comercial continua concentrada no reduto de origem", explica Oswaldo Truzzi, professor da Universidade Federal de São Carlos, especialista em imigração. Comerciantes bem-sucedidos, é natural que os coreanos busquem viver com mais conforto.
A rotina da família Chung ainda é dividida entre os dois bairros. Delia demora 15 minutos para chegar ao trabalho.
Além do marido, ela divide o apartamento com um dos filhos, Rodrigo, 22, estudante de comércio exterior. Ele vai a pé para a faculdade e já frequentou a mais badalada academia do bairro, cuja mensalidade é de R$ 300, numa prova de que a segunda geração de coreanos saiu de vez do gueto.
O fenômeno também tem a ver com educação. Boas escolas são prioridade para os coreanos. O recente êxodo em direção a áreas mais nobres tem relação com a geração atual de coreanos que conseguiu superar as dificuldades e triunfar num mercado competitivo.


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