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CONTRACEPÇÃO
Saúde libera implante anti-sangramento e esquenta polêmica sobre fase que toma até 2.000 dias em uma vida
Médicos debatem o fim da menstruação
AURELIANO BIANCARELLI
LUCIA MARTINS
da Reportagem Local
As meninas do ano 2000 vão poder escolher entre menstruar ou
não. Pela primeira vez, um implante que pode acabar com o sangramento feminino por até um
ano foi aprovado pelo Ministério
da Saúde e deve chegar às farmácias até o fim de 1998.
Mais do que uma droga para
contraconcepção -o que já existe
há 30 anos-, o implante acende o
debate sobre a supressão da menstruação como alternativa de maior
conforto para as mulheres.
A verdade é que, para boa parte
das mulheres, menstruar significa
viver, a cada mês, dias em que tudo muda -e para pior. O corpo
incha, as cólicas aparecem, o humor some, angústia e nervosismo
parecem escapar ao controle.
As que sofrem com a menstruação passam mais de 2.000 dias irritadas ou incomodadas. Ao longo
de sua vida reprodutiva, a mulher
perde cerca de 30 litros de sangue.
Pílulas, injeções e outros implantes com menor duração já fornecem à mulher a opção de parar
de menstruar. Mas o novo implante, o Elmetrin, suprime a menstruação por mais tempo e tem o
aval do Ministério da Saúde.
Aplicada sob a pele, uma cápsula
de 4 cm de comprimento libera
hormônio, evitando a ovulação e a
menstruação. A eficácia é de 100%
para gravidez e de 50% para o sangramento, declara Coutinho.
A luta pela "libertação" da mulher de seu sangramento mensal é
comandada pelo médico baiano
Elsimar Coutinho, criador do Elmetrin e de outros métodos.
Ele garante que mais de 10 milhões de mulheres no mundo já se
livraram dessa "sangria inútil" e
que esse contingente tende a crescer. Seu nome e sua pregação provocam polêmica. "Por que ele não
sugere aos homens que cortem os
testículos?", foi a reação de duas
médicas ouvidas.
"Ninguém nunca me convenceu de que ficar sangrando é
bom", afirma a apresentadora
Marília Gabriela, que começou a
usar implante após entrevistar
Coutinho, ainda nos anos 70.
Para muitos médicos, a menstruação é um importante indicador da saúde da mulher. Acabar
com ela significaria acabar com
um sistema de alarme no caso de
algum problema.
"Quando a mulher pára de
menstruar, sabemos que algo está
acontecendo. Se ela não menstrua,
perdemos essa referência", afirma o professor-adjunto de ginecologia da Universidade Federal de
São Paulo Mauro Haidar.
Nelson Vitiello, secretário-geral
da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana, diz que o fim da
menstruação é possível, mas não
totalmente isento de riscos. "Ainda não há estudos de longo prazo e
com número grande de mulheres
que possam afastar completamente qualquer tipo de patologia."
"Não conheço uma única enfermidade que tenha sido originada
pela supressão da menstruação",
afirma Coutinho. "Não menstruar só traz benefícios."
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