São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998

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CONTRACEPÇÃO
Saúde libera implante anti-sangramento e esquenta polêmica sobre fase que toma até 2.000 dias em uma vida
Médicos debatem o fim da menstruação

AURELIANO BIANCARELLI
LUCIA MARTINS
da Reportagem Local

As meninas do ano 2000 vão poder escolher entre menstruar ou não. Pela primeira vez, um implante que pode acabar com o sangramento feminino por até um ano foi aprovado pelo Ministério da Saúde e deve chegar às farmácias até o fim de 1998.
Mais do que uma droga para contraconcepção -o que já existe há 30 anos-, o implante acende o debate sobre a supressão da menstruação como alternativa de maior conforto para as mulheres.
A verdade é que, para boa parte das mulheres, menstruar significa viver, a cada mês, dias em que tudo muda -e para pior. O corpo incha, as cólicas aparecem, o humor some, angústia e nervosismo parecem escapar ao controle.
As que sofrem com a menstruação passam mais de 2.000 dias irritadas ou incomodadas. Ao longo de sua vida reprodutiva, a mulher perde cerca de 30 litros de sangue.
Pílulas, injeções e outros implantes com menor duração já fornecem à mulher a opção de parar de menstruar. Mas o novo implante, o Elmetrin, suprime a menstruação por mais tempo e tem o aval do Ministério da Saúde.
Aplicada sob a pele, uma cápsula de 4 cm de comprimento libera hormônio, evitando a ovulação e a menstruação. A eficácia é de 100% para gravidez e de 50% para o sangramento, declara Coutinho.
A luta pela "libertação" da mulher de seu sangramento mensal é comandada pelo médico baiano Elsimar Coutinho, criador do Elmetrin e de outros métodos.
Ele garante que mais de 10 milhões de mulheres no mundo já se livraram dessa "sangria inútil" e que esse contingente tende a crescer. Seu nome e sua pregação provocam polêmica. "Por que ele não sugere aos homens que cortem os testículos?", foi a reação de duas médicas ouvidas.
"Ninguém nunca me convenceu de que ficar sangrando é bom", afirma a apresentadora Marília Gabriela, que começou a usar implante após entrevistar Coutinho, ainda nos anos 70.
Para muitos médicos, a menstruação é um importante indicador da saúde da mulher. Acabar com ela significaria acabar com um sistema de alarme no caso de algum problema.
"Quando a mulher pára de menstruar, sabemos que algo está acontecendo. Se ela não menstrua, perdemos essa referência", afirma o professor-adjunto de ginecologia da Universidade Federal de São Paulo Mauro Haidar.
Nelson Vitiello, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana, diz que o fim da menstruação é possível, mas não totalmente isento de riscos. "Ainda não há estudos de longo prazo e com número grande de mulheres que possam afastar completamente qualquer tipo de patologia."
"Não conheço uma única enfermidade que tenha sido originada pela supressão da menstruação", afirma Coutinho. "Não menstruar só traz benefícios."




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