São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998

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VÍTIMAS DA PÍLULA
Mulheres que tomavam anticoncepcional de farinha afirmam que ausência de menstruação foi o alerta
Gravidez chega com surpresa e lágrimas

CARLA CONTE
da Reportagem Local

A ausência de menstruação foi o grande alerta para elas. Adeptas do anticoncepcional como forma de prevenir a gravidez, a menstruação era o sinal de que estavam conseguindo o que queriam -evitar filhos.
Mas a surpresa foi descobrir que, apesar de tomar o anticoncepcional Microvlar, estavam grávidas. Um grupo de mulheres -pelo menos sete até agora se manifestaram- diz ter sido vítima das pílulas de farinha que chegaram às farmácias (leia texto abaixo).
Umas comemoram a chegada do filho não planejado, mas outras ainda tentam superar a notícia inesperada, o nervosismo, e se preparam para enfrentar uma mudança radical de vida.
Valquíria de Souza Carvalho, 25, grávida de dois meses, passou por uma cirurgia -retirou parte do colo do útero em setembro do ano passado e começou tratamento.
Por recomendação médica, ela não poderia engravidar nos próximos dois anos. "Quando eu soube da gravidez fiquei desesperada. Não acho isso justo, eu estava me cuidando direitinho", afirma.
Segundo ela, os médicos disseram que não haverá complicações. "O tratamento vai ter que ficar para depois do parto, mas o médico disse que está tudo bem."
Agora, mais aliviada e animada com a gravidez, afirma que só espera que o filho "venha com saúde". "Deixei na mão de Deus."
Márcia Nóbrega, 33, também levou um susto. Após saber da gravidez, teve um sangramento. "Tive medo de perder a criança. Mas agora está tudo bem", diz. "Desde que fiquei sabendo da gravidez, desejo esse filho a cada minuto."

"Não acredito"
"Não posso acreditar." Leni Aparecida Pires Vieira, 32, mãe de um menino de 6 anos e grávida de dois meses, fez teste de farmácia e deu positivo. "Como pode isso?" Só se convenceu da gravidez depois de fazer um exame de sangue e passar por um médico.
"Eu tomo pílula há 10 anos. Tudo sempre ocorreu certo: depois do fim da cartela vinha a menstruação, sem nunca atrasar. Quando vi que não veio no dia previsto, já sabia que algo sério estava acontecendo."
Sua prima Celma Aparecida da Silva, 31, também ficou grávida no mesmo período. Mãe de dois filhos, diz que não queria mais nenhum. "Já tenho um casal e está muito bom." Com medo de novas surpresas, ela afirma que que quer ligar as trompas.
"Não dá, eu ajudo meu marido, que é camelô. Mais um filho realmente não estava no programa." Celma afirma que no começo da gravidez tinha crises de choro. "Mas não tem jeito, né? É me preparar para que tudo ocorra bem," afirma Celma, que teve sua primeira consulta de pré-natal na quinta-feira.

Lágrimas
Maria Seila Gonçalves, 32, tem dois filhos -um menino de 6 anos e uma menina de 9, que estudam em colégio público. "Não tenho condições financeiras. Meus filhos têm plano de saúde, mas o dinheiro não dá para mais um." Mesmo com as dificuldades, ela diz que precisa ser forte. "Não posso rejeitar uma criança."



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