São Paulo, Segunda-feira, 28 de Junho de 1999
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USP troca seringas no centro de SP

da Reportagem Local

Um núcleo de estudos da Universidade de São Paulo está trocando seringas para dependentes de drogas injetáveis numa galeria da rua 24 de Maio, no centro de SP. Na mesma sala funciona o primeiro centro de convivência do país dedicado a esse tipo de dependente.
Desde a semana passada, o Centro de Convivência É de Lei -como é chamado- vem realizando "bate-papos" com usuários de drogas e outros interessados em prevenção à Aids, sexo e drogas. Os encontros acontecem a partir das 18h das segundas-feiras e têm o sugestivo nome de "Chá de Lírio -Venha Conhecer Nossas Ervas". Nesse "happy-hour preventivo", são servidos diferentes sabores de chás disponíveis no mercado.
O projeto é desenvolvido pelo Nepaids, Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids da Universidade de São Paulo. O mesmo projeto do posto de troca e do centro de convivência inclui um "trabalho de campo", que já existe há três anos e que antes era desenvolvido pela Apta, uma ONG que trabalha com prevenção à Aids.
A troca de seringas faz parte do trabalho de redução de danos, já que o uso compartilhado é uma das principais formas de contaminação pelo vírus HIV.
"Optamos por uma galeria no centro porque queríamos um espaço aberto, onde as pessoas pudessem entrar sem passar por portarias", diz Cristina Maria Brites, coordenadora do projeto.
O espaço vem sendo visitado por cerca de 30 jovens por mês. "Eles se aproximam com cautela, o que é natural", diz Jandira Brasão de Barros, que passa o dia na galeria.
O trabalho de campo, onde as técnicas vão até os locais de uso, vem trocando seringas para cerca de 50 usuários. "O campo é um espaço onde eles compram e usam a droga; o centro de convivência é um espaço livre de drogas", diz a psicóloga Andrea Domanico, que trabalha nos dois lugares.
Luciana R., 29, é uma ex-usuária e trabalha como voluntária do projeto. Pegou Aids do marido, que morreu no ano passado e que também era voluntário. "Muitos de nós mudamos o jeito de usar depois que começou o trabalho de dar seringa e informação", diz.
Às quartas, às sextas e aos sábados, ela passa horas junto a uma danceteria da periferia, trocando e distribuindo seringas. "Trocar é difícil, pois eles jogam ali no mato mesmo, assim que usam."
Além do programa de trocas do Nepaids, dois outros funcionam em São Paulo. Um promovido pela Associação Lar, de Osasco, que troca 40 seringas por semana. "Eles passaram a cuidar mais da saúde", diz Nivaldo Aguiar, ex-usuário e presidente da ONG.
O outro projeto, o "Bocada", é desenvolvido pelo Programa Estadual de DST-Aids em três campos da zona norte da cidade. Cerca de 250 seringas são trocadas por mês.
No Estado, há 16 projetos de redução de danos, diz a coordenadora e psicóloga Sueli Santos. "O mais difícil vem sendo a implantação dos programas em postos de saúde." (AURELIANO BIANCARELLI)

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