São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2000


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SEGURANÇA PÚBLICA
A suspeita é que haja a participação de comando de detentos e auxílio de funcionários de presídios
Facilitação de fugas em SP é investigada

RAQUEL LIMA
DA FOLHA CAMPINAS

A Corregedoria da Coesp (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado de São Paulo) investiga a ação de comandos de presos e a participação de policiais nas fugas das três penitenciárias de Hortolândia (119 km de São Paulo), consideradas de segurança máxima.
Pelo menos dois comandos -o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade)- mantêm membros presos em Hortolândia, segundo a Corregedoria.
Os comandos são grupos organizados de presos, que seguem, inclusive, um estatuto. Entre as normas destes grupos, está o compromisso de resgatar os que permanecem detidos.
"Há pelo menos três integrantes do Primeiro Comando em cada uma das penitenciárias de Hortolândia. Na P 2, há ainda um dos líderes do Comando Revolucionário", disse o corregedor-geral Renato Talli.
De acordo com Talli, o PCC conta com cerca de 480 integrantes presos e em liberdade em todo o Estado. O líder, Edmir Carlos Ambrósio, conhecido como "Sombra", está detido na Casa de Custódia de Taubaté (134 km de São Paulo).
O corregedor não descarta a possibilidade de uma "guerra de comandos". Os dois grupos são rivais, segundo ele.
"Todo grupo quer o sucesso, o comando da cadeia e, para conseguir isso, pode até haver morte entre eles", disse Talli.

Parceria
A Corregedoria investiga uma possível parceria entre os integrantes dos comandos e os agentes penitenciários nas fugas.
Segundo dados da Coesp, aconteceram 34 fugas entre janeiro do ano passado e fevereiro deste ano nas três penitenciárias. A Coesp não divulgou dados atualizados.
A última fuga foi na P 3, no último domingo, quando cinco presos pularam a muralha com o auxílio de cordas e madeira.
Dez dias antes, oito presos também escaparam da P 3 na madrugada. "Aconteceram umas fugas inexplicáveis nestas três unidades", disse o corregedor-geral.
Nas blitze realizadas anteontem pela Corregedoria da Coesp nas Penitenciárias 2 e 3 foram encontrados 94 estiletes, 12 aparelhos de telefone celular e 644 gramas de maconha.
"Estamos investigando as fugas ocorridas nas penitenciárias e suspeitamos que exista um esquema de fuga", disse Talli.
O corregedor-geral disse que investiga o esquema por meio de denúncias. Em uma delas, o traficante Paulo César Alves Pereira, 25, teria pago R$ 200 mil para fugir da P 3 de Hortolândia. Pereira fugiu no último dia 13. Ele havia sido preso em dia 24 de maio deste ano, em Mogi Guaçu (167 km de São Paulo), com 140 kg de maconha.
A Polícia Civil de Mogi Guaçu disse que só soube da fuga de Pereira 11 dias depois, por meio de uma denúncia anônima.
"A penitenciária tinha de nos informar da fuga dele (Pereira) porque o processo ainda está em aberto", disse o delegado-seccional de Mogi Guaçu, Márcio Souza e Silva Dutra.
"Ela (penitenciária) é muito segura. Acredito que, para fugir de lá, só com propina", disse Dutra.
Um agente penitenciário, que trabalha há sete anos na P 2 e pediu para não ser identificado, confirmou a existência de "esquema de fuga".
"Este esquema existe sim. Os presos oferecem de R$ 10 mil a R$ 20 mil para ter a fuga facilitada".


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