São Paulo, sábado, 28 de julho de 2001

Próximo Texto | Índice

SISTEMA PRISIONAL

Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, foi espancado e enforcado em Taubaté; facção vive disputa interna

PCC racha e mata um de seus fundadores

Claudio Capucho/Folha Imagem
Funcionários do Instituto Médico Legal transportam o corpo de Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra


DA REPORTAGEM LOCAL
DA FOLHA VALE

Uma disputa interna no PCC (Primeiro Comando da Capital) levou ao assassinato, ontem, de Idemir Carlos Ambrósio, 41, o Sombra, um dos fundadores da facção e mentor da maior rebelião da história do país, em fevereiro.
Sombra foi morto dentro da Casa de Custódia de Taubaté (130 km de SP) durante o banho de sol do "Piranhão" -anexo que abriga 80 presos de alta periculosidade. Segundo o presídio, ele foi atacado por seis detentos às 7h30, que o espancaram contra as grades de ferro e o estrangularam com um cadarço de tênis.
Os acusados são membros do PCC: Vinicius Brasil Nascimento, Luciano Fernandes da Silva e Carlos Magno Vito Alvarenga. De forma secundária, teriam participado Wilson Vitor Huchek (transferido do Paraná no mês passado), Fernando José Januário e Alex Aparecido Olimpia.
Teriam presenciado a morte sem tentar impedi-la: Wilson da Silva, Emerson Souza de Almeida e Roberto Carlos Martins.
Sombra deveria deixar a Custódia na próxima segunda. Pelas novas regras do presídio, em vigor desde maio, nenhum preso pode ficar lá mais do que 180 dias.
Os advogados do PCC não acreditam que ele tenha sido morto pela facção. "A ordem do PCC era que não ocorressem mais mortes", disse Jerônimo Ruiz Andrade, que representa líderes da organização, como Sombra e José Márcio Felício, o Geleião.
O corpo de Sombra será enterrado hoje, no Cemitério da Vila Alpina (SP), com "todas as honras do PCC", segundo outra advogada da facção, Ana Maria Olivatto. Segundo a advogada, ele receberá coroas de flores com a sigla da facção e que, nas prisões onde há membros do grupo, panos pretos serão expostos, em sinal de luto.
Para autoridades e alguns presos, porém, a unidade não existe mais, e a facção vive um racha.

Ascensão e queda
Sombra, um membro secundário do PCC, assumiu a liderança da organização no Estado quando os chefes do grupo -entre eles, Geleião- foram transferidos para o Paraná, em 1997.
De lá para cá, passou a recrutar "soldados" com violência e chantagens e a submeter os "irmãos" a extorsões, em nome da facção, mas sem dividir o dinheiro com os demais líderes. Depois, organizou a megarrebelião. A forma de ação abalou seu prestígio.
""Ele já estava jurado e não era mais líder", afirmou o juiz-corregedor dos presídios de São Paulo, Otávio Augusto de Barros Filho.
A megarrebelião expôs o grupo e atraiu a atenção da polícia, que passou a investigá-lo, fechando centrais telefônicas e impedindo ações. Um desses grampos evitou que Geleião escapasse, em junho, do presídio de Piraquara (PR). Com o plano frustrado, ele comandou uma rebelião e conseguiu voltar para São Paulo, com aliados, no mês passado.
"O Sombra tentou um comando paralelo. O erro foi fatal", avalia o delegado Alberto Pereira Matheus Jr., que investiga a ação do grupo. "Com a volta dos líderes originais, há conflitos."
Para as autoridades, a morte de Sombra reforça a liderança de Geleião. Mas, nas próximas semanas, deve retornar Marcos Herbas Camacho, o Marcola, preso em Brasília. Ele era ligado a Sombra, e o retorno deve acirrar a disputa.
O corpo de Sombra foi encontrado por agentes penitenciários. Segundo a direção do presídio, os presos teriam amarrado a porta que dá acesso ao pátio com cadarço para dificultar a reação. O número de funcionários no setor, na hora do crime, não foi revelado.
A Casa de Custódia não registrava assassinatos fora de rebeliões desde 1993. Desde a fundação do "Piranhão", há 16 anos, oito foram mortos no banho de sol.
Segundo o diretor, Ismael Pedrosa, os presos saem para banho de sol em grupos de dez, escolhidos por sorteio. Ele negou que Sombra estivesse ameaçado e que possa ter havido conivência. O crime será apurado por sindicância e inquérito policial.
(ALESSANDRO SILVA, SÍLVIA CORRÊA, JOSÉ CARLOS JÚNIOR e ELIANE MENDONÇA)


Próximo Texto: Sem caixa, facção agora sequestra presos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.