São Paulo, sábado, 28 de julho de 2001

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SAÚDE

Pesquisa mostra que má qualidade da informação fornecida em unidades afasta gestantes do tratamento adequado

Mulher com Aids não recebe orientação

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo passando por todas as consultas do pré-natal, 20% das mulheres com Aids só descobriram a infecção quando o filho caiu doente. Entre aquelas que foram orientadas a fazer o teste de HIV na gestação, metade não recebeu explicações sobre o motivo do exame. Um quarto delas não entendeu o risco que o bebê corria. A 30% das gestantes, ninguém perguntou se tinha Aids. No Estado de São Paulo, cerca de 4.200 crianças nascem de mães com HIV/Aids a cada ano.
Esse quadro de desinformação foi encontrado em mulheres acompanhadas em serviços de referência em Aids de São Paulo, Santos e São José do Rio Preto.
Os resultados aparecem no estudo "Vulnerabilidade e Cuidado às Mulheres Vivendo com HIV/ Aids", envolvendo pesquisadores de várias instituições paulistas dentro de um projeto coordenado pelo Harvard Aids Institute. Foram ouvidas 1.068 mulheres com HIV/Aids, com filhos ou não, e outras 116, também com o vírus, que tiveram filhos em 1998.
"Queríamos entender por que apenas uma parte das gestantes com HIV se beneficiava do tratamento quando todas tinham condições de ser tratadas", diz Vera Paiva, do Instituto de Psicologia da USP e do Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids.
A pesquisa mostrou que o problema não estava na falta de medicamentos, mas na qualidade da informação passada à paciente. Segundo números do Ministério da Saúde, em 98 e 99, só 35% das gestantes com HIV receberam o tratamento adequado. No ano passado, foram 55%. "Queremos terminar 2001 com 70% de cobertura", disse Paulo Teixeira, do programa nacional de Aids.
O tratamento implica o uso do AZT pela gestante e pelo bebê durante certo período, o que reduz o risco da transmissão da mãe para o filho de 25% para 8%.
De acordo com a pesquisa, ninguém perguntou a 30% das gestantes, na maternidade, se tinham HIV. O teste rápido só foi oferecido a 3% delas.
A precariedade na informação aparece em outros itens da pesquisa. Apenas 42,1% das entrevistadas receberam informações sobre o teste de Aids antes de realizá-lo. Quase metade delas não entenderam o que eram os testes de CD-4 e carga viral, empregados para monitorar o tratamento.
A pesquisa, que foi coordenada por Ricardo Carvalho Ayres, da Faculdade de Medicina da USP, revela também questões de direitos humanos.
Mais de 20% das mulheres entrevistadas disseram ter sido discriminadas pelos profissionais de saúde quando receberam o resultado positivo. Segundo os pesquisadores, os casos de discriminação foram relatados em hemocentros e laboratórios privados.
O estudo faz parte do ECI (sigla em inglês para Iniciativa para Melhoria do Cuidado), com apoio da Merck Foundation.


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