|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Pesquisa mostra que má qualidade da informação fornecida em unidades afasta gestantes do tratamento adequado
Mulher com Aids não recebe orientação
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo passando por todas as
consultas do pré-natal, 20% das
mulheres com Aids só descobriram a infecção quando o filho
caiu doente. Entre aquelas que foram orientadas a fazer o teste de
HIV na gestação, metade não recebeu explicações sobre o motivo
do exame. Um quarto delas não
entendeu o risco que o bebê corria. A 30% das gestantes, ninguém
perguntou se tinha Aids. No Estado de São Paulo, cerca de 4.200
crianças nascem de mães com
HIV/Aids a cada ano.
Esse quadro de desinformação
foi encontrado em mulheres
acompanhadas em serviços de referência em Aids de São Paulo,
Santos e São José do Rio Preto.
Os resultados aparecem no estudo "Vulnerabilidade e Cuidado
às Mulheres Vivendo com HIV/
Aids", envolvendo pesquisadores
de várias instituições paulistas
dentro de um projeto coordenado
pelo Harvard Aids Institute. Foram ouvidas 1.068 mulheres com
HIV/Aids, com filhos ou não, e
outras 116, também com o vírus,
que tiveram filhos em 1998.
"Queríamos entender por que
apenas uma parte das gestantes
com HIV se beneficiava do tratamento quando todas tinham condições de ser tratadas", diz Vera
Paiva, do Instituto de Psicologia
da USP e do Núcleo de Estudos
para a Prevenção da Aids.
A pesquisa mostrou que o problema não estava na falta de medicamentos, mas na qualidade da
informação passada à paciente.
Segundo números do Ministério
da Saúde, em 98 e 99, só 35% das
gestantes com HIV receberam o
tratamento adequado. No ano
passado, foram 55%. "Queremos
terminar 2001 com 70% de cobertura", disse Paulo Teixeira, do
programa nacional de Aids.
O tratamento implica o uso do
AZT pela gestante e pelo bebê durante certo período, o que reduz o
risco da transmissão da mãe para
o filho de 25% para 8%.
De acordo com a pesquisa, ninguém perguntou a 30% das gestantes, na maternidade, se tinham
HIV. O teste rápido só foi oferecido a 3% delas.
A precariedade na informação
aparece em outros itens da pesquisa. Apenas 42,1% das entrevistadas receberam informações sobre o teste de Aids antes de realizá-lo. Quase metade delas não entenderam o que eram os testes de
CD-4 e carga viral, empregados
para monitorar o tratamento.
A pesquisa, que foi coordenada
por Ricardo Carvalho Ayres, da
Faculdade de Medicina da USP,
revela também questões de direitos humanos.
Mais de 20% das mulheres entrevistadas disseram ter sido discriminadas pelos profissionais de
saúde quando receberam o resultado positivo. Segundo os pesquisadores, os casos de discriminação foram relatados em hemocentros e laboratórios privados.
O estudo faz parte do ECI (sigla
em inglês para Iniciativa para Melhoria do Cuidado), com apoio da
Merck Foundation.
Texto Anterior: Saúde: HC realiza mutirão contra catarata Próximo Texto: Sertãozinho: Despejo de cinza deixa 9 queimados Índice
|