São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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SEGURANÇA

Inquérito não esclarece como foi a operação montada para impedir suposta tentativa de assalto a avião pagador

PM pode ter ""plantado" alvo em Sorocaba

DA REPORTAGEM LOCAL

Presos infiltrados pelo Gradi podem ter inventado um plano de assalto em Sorocaba para atrair o comboio do PCC até o meio de uma operação que envolveu mais de cem homens da Polícia Militar e terminou com 12 mortos.
Até agora o alvo do grupo é incerto. A PM diz que iriam roubar um avião pagador, fala em R$ 28 milhões. A Polícia Civil acredita em resgate de presos. Segundo o Departamento Aeroviário de São Paulo, o aeroporto não recebia há tempos esse tipo de vôo. Líderes do PCC, ouvidos pela Folha no dia seguinte ao confronto, disseram que era um assalto a avião.
Era madrugada ainda, dia 5 de março, quando os supostos homens do PCC saíram de São Paulo. Seguiam em uma Parati, duas camionetes e um ônibus. De 12 deles, apenas um não tinha antecedentes criminais. Carregavam 14 armas, entre fuzis e pistolas.
A PM também se preparava. Documentos internos dizem que o Gradi havia obtido informações da ação por meio de grampos telefônicos -os quais nunca apareceram-, falando do trajeto do comboio. ""Não se tinha certeza de onde se reuniria e de onde partiria o grupo, sendo certo, tão somente, que chegariam ao local pela Castello Branco", disse um capitão ouvido no IPM (Inquérito Policial Militar) sobre as 12 mortes.
Por esse motivo, escolheram a rodovia Senador José Antônio Ermírio de Moraes, saída da Castello, em um praça de pedágio, local de reduzido tráfego de veículos.
Na verdade, o Gradi tinha informações mais complexas do assalto. Ao menos dois presos estavam envolvidos na operação: o assaltante de banco e carro-forte M., jurado de morte pelo PCC, e G., condenado por roubo.
Ambos saíram da prisão para o Gradi quatro dias antes, como mostra registro em suas fichas de antecedentes (veja quadro nesta página). Seus nomes não serão revelados porque eles estão detidos sem proteção especial.
Os dois presos, além de policiais do Gradi, estariam no único carro que escapou do cerco: uma Parati prata que vinha à frente do comboio. Ninguém perseguiu o veículo ou anotou a sua placa.
A leitura dos depoimentos sobre a ação mostram que as forças especiais posicionadas ali dependeram, exclusivamente, do sinal dado pelo Gradi para agir.
O coronel Osvaldo de Barros Júnior, responsável pelo IPM, afirma em seu relatório de conclusão que o tenente H., oficial do Gradi colocado na cabine do pedágio, avisou os demais, por rádio, da chegada do comboio.
O tenente H. é o mesmo que assina pedidos de retirada de presos feitos à Corregedoria de Presídios.
No dia da ação, PMs disseram à Folha que a Parati tinha no teto um giroflex (luz) azul. Isso depois de atravessar a praça de pedágio.
""É preciso investigar a investigação da polícia", afirma o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo (PT), presidente do Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo, que vem acompanhando o caso.
Não se conseguiu até agora saber em que veículo viajava cada um dos mortos porque o cenário do confronto não foi preservado. A PM diz que tinha de socorrer os feridos. A maioria chegou morta no hospital de Sorocaba.
Os laudos trouxeram mais dúvidas sobre o confronto. Das 17 armas apreendidas com o grupo, oito deram tiros recentes -mas não se pode dizer se na ação.
Quatro fuzis, um revólver 38 e uma pistola deram negativo, ou seja, não foram usados no tiroteio, segundo Instituto de Criminalística de Sorocaba.
Dos 12 mortos, apenas três atiraram, o que não significa que os outros não tenham atirado, pois a retirada dos corpos pode ter alterado o resultado do exame.
No total, os peritos encontraram 78 tiros no ônibus que seriam da polícia. Dois carros da PM tinham marcas de tiros, o prédio da Viaoeste, cinco, e três em casas distantes dali foram atingidas.
Os inquéritos sobre o confronto, nas polícias Civil e Militar, ainda não foram concluídos.


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