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Prova de transferência exige sacrifício
DA REPORTAGEM LOCAL
Quinta-feira da semana passada à noite. O estudante Jonatas
Santiago Souto, 23, sai de casa, no
Butantã (zona oeste de SP), e se
dirige a Pinheiros (também na zona oeste), bairro que tem uma das
maiores concentrações de bares,
boates e restaurantes da capital
paulista. Só que o destino do rapaz é, na verdade, uma biblioteca.
Ele precisa devolver alguns e pegar emprestado outros tantos livros de alemão, seus companheiros inseparáveis nos últimos meses. Souto tem pouco tempo para
dar uma "arrancada final" nos estudos. Se tudo saiu como ele esperava ontem, na primeira fase do
processo de transferência para a
USP (Universidade de São Paulo),
o rapaz deverá fazer a prova específica de alemão em setembro.
Passar ou não na seleção poderá
ser decisivo no futuro profissional
dele porque, depois de um ano e
meio, Souto não consegue mais
pagar os cerca de R$ 800 mensais
no curso de letras, com ênfase em
inglês, da Universidade Mackenzie. A solução, diz, é entrar numa
universidade pública -mesmo
que isso signifique aprender alemão (habilitação com vaga disponível) em menos de um semestre.
Souto estudou em escola pública e se sustenta desde os 17 anos
dando aulas de inglês e português
para estrangeiros. Órfão, não tem
a quem pedir ajuda financeira.
"Na universidade pública, além
de pesquisa e pós-graduação de
melhor qualidade, você tem tudo,
de assistência médica a lazer",
afirma. "As pessoas acham que é
impossível entrar, mas, se você é
bom aluno, tem chance de conseguir a transferência", completa.
Recomeço
Breno Enrico Lemos, 25, é um
exemplo disso. Estudante de destaque na Universidade de Mogi
das Cruzes (Grande SP), ele também recorreu à transferência por
causa do alto custo da mensalidade no curso de odontologia: pouco mais de R$ 1.000.
"Já estava até recebendo ajuda
do Fies [programa de financiamento estudantil do MEC], mas,
mesmo assim, estava pesado",
lembra. Entrar na USP em 2000
significou ter de praticamente jogar fora os dois anos de faculdade
já cursados e começar do zero.
"Mas valeu a pena. Foi como
uma segunda chance. A concorrência [mais ou menos 30 candidatos por vaga] foi até maior do
que no vestibular, mas, sem matemática e física para me atrapalhar,
deu tudo certo", conta, rindo.
Lemos havia tentado entrar
duas vezes na USP pelo vestibular,
mas não conseguia passar da primeira fase. "Fiz o terceiro ano [do
ensino médio] numa escola estadual e estava em desvantagem na
concorrência", diz.
Tanto Lemos quanto Souto afirmam que, em geral, os estudantes
que entram numa universidade
pública por transferência dão
mais valor à vaga e têm melhor
aproveitamento do curso.
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