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São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2003

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Prova de transferência exige sacrifício

DA REPORTAGEM LOCAL

Quinta-feira da semana passada à noite. O estudante Jonatas Santiago Souto, 23, sai de casa, no Butantã (zona oeste de SP), e se dirige a Pinheiros (também na zona oeste), bairro que tem uma das maiores concentrações de bares, boates e restaurantes da capital paulista. Só que o destino do rapaz é, na verdade, uma biblioteca.
Ele precisa devolver alguns e pegar emprestado outros tantos livros de alemão, seus companheiros inseparáveis nos últimos meses. Souto tem pouco tempo para dar uma "arrancada final" nos estudos. Se tudo saiu como ele esperava ontem, na primeira fase do processo de transferência para a USP (Universidade de São Paulo), o rapaz deverá fazer a prova específica de alemão em setembro.
Passar ou não na seleção poderá ser decisivo no futuro profissional dele porque, depois de um ano e meio, Souto não consegue mais pagar os cerca de R$ 800 mensais no curso de letras, com ênfase em inglês, da Universidade Mackenzie. A solução, diz, é entrar numa universidade pública -mesmo que isso signifique aprender alemão (habilitação com vaga disponível) em menos de um semestre.
Souto estudou em escola pública e se sustenta desde os 17 anos dando aulas de inglês e português para estrangeiros. Órfão, não tem a quem pedir ajuda financeira. "Na universidade pública, além de pesquisa e pós-graduação de melhor qualidade, você tem tudo, de assistência médica a lazer", afirma. "As pessoas acham que é impossível entrar, mas, se você é bom aluno, tem chance de conseguir a transferência", completa.

Recomeço
Breno Enrico Lemos, 25, é um exemplo disso. Estudante de destaque na Universidade de Mogi das Cruzes (Grande SP), ele também recorreu à transferência por causa do alto custo da mensalidade no curso de odontologia: pouco mais de R$ 1.000.
"Já estava até recebendo ajuda do Fies [programa de financiamento estudantil do MEC], mas, mesmo assim, estava pesado", lembra. Entrar na USP em 2000 significou ter de praticamente jogar fora os dois anos de faculdade já cursados e começar do zero.
"Mas valeu a pena. Foi como uma segunda chance. A concorrência [mais ou menos 30 candidatos por vaga] foi até maior do que no vestibular, mas, sem matemática e física para me atrapalhar, deu tudo certo", conta, rindo.
Lemos havia tentado entrar duas vezes na USP pelo vestibular, mas não conseguia passar da primeira fase. "Fiz o terceiro ano [do ensino médio] numa escola estadual e estava em desvantagem na concorrência", diz.
Tanto Lemos quanto Souto afirmam que, em geral, os estudantes que entram numa universidade pública por transferência dão mais valor à vaga e têm melhor aproveitamento do curso.


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