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Pais boicotam pergunta sobre cor
Questão sobre etnia não foi respondida por 17% dos alunos do ensino fundamental e 20% do médio
Segundo o Inep, a pergunta sobre raça foi incluída no levantamento escolar por ser uma demanda histórica dos movimentos sociais
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A inclusão do item "raça/cor"
no Censo Escolar provocou polêmica no ano passado, levando
pais e dirigentes de escolas a
boicotarem essa resposta no
questionário.
Isso ajuda a explicar o fato de
que 17% dos alunos do ensino
fundamental e 20% do médio
não declararam a etnia.
O Inep, órgão ligado ao Ministério da Educação, diz que a
questão é uma "demanda histórica dos movimentos sociais" e
por esse motivo foi incluída no
levantamento.
Após seminários e encontros, o instituto optou pela metodologia utilizada pelo IBGE
no Censo Demográfico, a autodeclaração. Na pergunta, o item
é denominado raça/cor e as
respostas podem ser: branca,
preta, parda, amarela, indígena
ou sem declaração.
Há especialistas que divergem dessa classificação, considerando mais adequado usar o
termo negro quando se trata de
pretos e pardos.
No Censo Escolar, a etnia é
declarada pelo pai quando o
aluno é menor de 16 anos. Acima dessa idade, cabe ao próprio
estudante fazer a declaração.
A diretora de Estatísticas da
Educação Básica do Inep, Maria Inês Gomes de Sá Pestana,
diz que a resistência chegou ao
ponto de algumas escolas enviarem uma única resposta para todos os alunos. "Não avaliamos o tamanho do boicote. Mas
o dado é importante como indicador da resistência", diz.
Segundo a diretora, o Inep
manteve a questão no Censo
deste ano. "Alguns disseram
que estávamos incentivando o
preconceito. Não é isso, mas
sim um incentivo ao debate",
afirma, dando como exemplo
escolas que aproveitaram a polêmica para discutir o tema
com os alunos.
A estudante Juliana Pereira
da Silva, 16, foi uma das entrevistas pelo Censo Escolar que
fez questão de responder sobre
sua condição racial. "Respondi
que era negra", recorda.
Aluna do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual
Armando Sestini, em Caieiras
(Grande São Paulo), Juliana
descobriu que era minoria na
comunidade escolar depois de
um trabalho feito na época do
censo para saber a quantidade
de alunos, funcionários e professores negros.
Apesar disso, diz não sofrer
com o preconceito. "A minha
professora diz que não sofro
preconceito porque ando bem
arrumada", completou.
Sonho
O estudante Diogo Rodrigues
Dias, 13, também é minoria,
mas numa escola particular.
Ele realiza o sonho de seu pai,
Carlos Donizeti Dias, 44, de ter
um ensino de qualidade numa
escola privada. Oriundo da rede
pública, Carlos percebeu que
seu conhecimento estava abaixo da média na época do vestibular, no qual foi reprovado.
"Foi quando assumi o compromisso de que uma das bases
da minha família seria a educação e que iria subsidiar o estudo
dos meus filhos", diz Carlos,
que investe 50% de seu salário
como representante comercial
no pagamento da mensalidade
escolar do filho.
Diogo é quase uma exceção
no Colégio Aliado, no Jardim
Brasil, na zona norte de São
Paulo, onde cursa a 8ª série do
ensino fundamental. "Só tenho
um colega negro", disse o garoto, que lamenta o fato de a escola não tratar do tema preconceito racial, do qual diz já ter sido vítima. "Já fui ofendido, mas
não respondi. Fiquei quieto."
A questão racial é apenas um
detalhe para o estudante Thiago Cândido Penna Silva, 15, aluno da 1ª série do ensino médio
na Escola Estadual Benedito
Tolosa, na Casa Verde, zona
norte de São Paulo. "Não me incomodo com o fato de ser negro. Levo numa boa."
Thiago acredita que o fato de
ser extrovertido e brincalhão
evita situações preconceituosas, pelas quais nunca passou.
Na escola, disse ser um "tipo raro", daqueles que conversa,
mas faz lição. "Sou popular,
mas bom aluno. Eu me garanto", afirma.
O professor Ivan Cláudio Pereira, 37, sabe o que é ser exceção em sala de aula, tanto como
educador como aluno. Tinha
apenas um colega negro na faculdade de letras, o que se repete agora na Escola Estadual
Afrânio Peixoto, na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo, onde leciona literatura.
Cláudio acredita que sua
condição é resultado da evasão
de alunos negros, tanto na escola pública como na particular. "No ensino médio, o número de alunos negros despenca."
Com várias experiências de
preconceito racial vividas, o
professor até se diverte com algumas. "Já deixei de ser assaltado por ser negro. Porém, não
me posiciono como vítima."
Com a colaboração de REGIANE SOARES
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