São Paulo, quinta, 28 de agosto de 1997.



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SAÚDE
Para 73%, FHC deve aprovar lei que obriga hospitais a realizar cirurgias em caso de estupro ou de risco para a mãe
Paulistano apóia projeto do aborto legal

da Reportagem Local

A polêmica em torno do projeto de lei que obriga os hospitais credenciados do SUS (Sistema Único de Saúde) a realizar o aborto legal chegaria ao fim se fosse considerada a opinião dos paulistanos.
Pesquisa Datafolha mostra que a grande maioria da população da cidade de São Paulo é favorável à realização do aborto em caso de estupro (77%) ou quando há risco de vida para a gestante (79%).
Esses dois casos já estão previstos na lei desde a década de 40, mas um projeto dos deputados Eduardo Jorge (PT-SP) e Sandra Starling (PT-MG), aprovado na Comissão de Constituição de Justiça da Câmara, obriga todos os hospitais do SUS do país a fazerem o aborto nesses casos.
Hoje, apenas nove hospitais em todo o pais realizam a interrupção da gravidez.
Para 56% dos entrevistados, a lei deve continuar como está. Além disso, o mesmo número de pessoas reprova as declarações do ministro da Saúde, Carlos Albuquerque, que disse ser contrário à lei e comparou aborto a um assassinato.
Para 73%, o presidente Fernando Henrique Cardoso deveria apoiar a lei e sancioná-la. 65% dizem que ele deveria manifestar essa opinião publicamente.

Não ao aborto
Apesar de aprovar o projeto, o paulistano está mais conservador. Apenas 21% querem que o aborto seja permitido por lei em mais situações, 22 pontos percentuais a menos do que o apurado pelo Datafolha em agosto de 1994.
O índice dos que aprovam o aborto em qualquer situação ficou praticamente inalterado. Passou de 19% na pesquisa anterior para 18% desta vez, variação dentro da margem de erro.
Além do que a lei já prevê, o paulistano acha aceitável o aborto quando a mãe tem Aids ou quando há má-formação do feto.
Problemas financeiros ou do casal não justificam a interrupção da gravidez para a maioria dos entrevistados pelo Datafolha.
A grande maioria também acha que o médico (63%) e a mãe (54%) têm que ser punidos quando fazem abortos. 21% acreditam que os médicos deveriam perder o direito de praticar a profissão e 14% disseram que eles deveriam prestar serviços para a comunidade. A punição escolhida para as mulheres que abortam foram os serviços comunitários (27%).
Os entrevistados concordam também com o projeto de lei no que se refere ao fato de o médico poder escolher se faz ou não um aborto. 62% afirmaram que os profissionais devem ter o direito de escolher.
O tema é de interesse da maioria dos paulistanos, porque 85% já ouviram falar da lei do aborto.
Há discordância sobre se a Igreja Católica deveria aproveitar a visita do papa João Paulo 2º ao Brasil (prevista para outubro) para discutir o assunto. 52% acham que sim e 45%, que não.


Para a pesquisa, o Datafolha ouviu ontem 1.080 pessoas com mais de 16 anos na cidade de São Paulo. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais para cima ou para baixo.



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