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Após aula de convivência, morador pede muro contra tráfico no Rio
Ex-moradores de favela que ganharam apartamento do PAC dizem temer que local vire rota de fuga de bandidos; pessoas ouviram palestras de "integração"
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Após ganharem os apartamentos construídos pelo PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento) e cursarem oito
"aulas de convivência" para
morar no conjunto habitacional, ex-moradores de favelas do
Rio pediram ontem ao governador Sérgio Cabral Filho a
manutenção dos muros no entorno do imóvel ainda em construção. Eles temem ficar expostos à ação de traficantes.
Cabral entregou ontem 52
apartamentos -outros 96 já
haviam sido dados em junho,
com a presença de Lula. Um
grupo de dez pessoas pedia,
com cartazes, a manutenção do
muro que circunda a obra do
ainda incompleto conjunto habitacional. Para eles, a barreira
-herança de uma antiga fábrica que funcionou no local-
protegeria a nova vizinhança da
rota de fuga usada por bandidos
que atuam no Complexo do
Alemão. "A rua de trás é usada
como rota de fuga [de traficantes]. E as portas são muito frágeis", disse Ângelo Silva, síndico de um dos blocos. O projeto
prevê a retirada do muro.
Ao ver a reivindicação do
grupo, Cabral negou o pedido
no palanque: "Os moradores
daqui têm que ter integração
com a comunidade. Isso aqui é
bairro, tem que passar caminhão de lixo". No início do ano,
o governador enfrentou resistência de associações de moradores ao projeto de cercar 13 favelas com muros para, oficialmente, proteger a mata atlântica de invasões. A secretária de
Ambiente, Marilene Ramos,
chegou a comparar favelas a
condomínio.
Segundo o presidente da Empresa de Obras Públicas, Ícaro
Moreno, se o local for murado,
toda a manutenção, como recolhimento de lixo e poda de árvores, seria custeada pelos moradores. "É prejuízo para eles."
Curso de convivência
Para ocupar o conjunto
-composto por cinco blocos,
quadra poliesportiva e um espaço para cursos profissionalizantes- os moradores tiveram
que ouvir oito palestras sobre
"convivência".
Segundo Ruth Jurberg, coordenadora da área social do PAC
no Rio, o objetivo foi "ensiná-los a viver em integração".
"Eles estão indo morar com novos vizinhos. Viviam em condições precárias, não sabem viver
num condomínio", disse ela.
Além das aulas, o conjunto de
152 apartamentos possui um
regulamento. Entre as regras
há a proibição de usar o imóvel
para oferecer serviços comerciais, como preparar marmita
ou reparar roupas -meio comum de renda extra entre os
moradores. Cada bloco -entre
20 a 40 apartamentos- elege
um síndico. Ele é o responsável
por zelar pelo bem-estar.
Há cinco dias no condomínio, a aposentada Elza Soares
diz que o local é bem cuidado,
mas que nem todos os vizinhos
respeitam as regras.
"Outro dia um mulher pisou
no gramado. Reclamaram com
ela e foi uma confusão. Por isso
também que eu só falo com as
minhas netas e filhas. Por isso
que não quero amizade com vizinho. Pedem muito."
Os apartamentos entregues
têm 58 m 2 divididos em dois
andares. Possuem dois quartos
no segundo pavimento, um banheiro e uma sala conjunta
com a cozinha no primeiro.
Moradores que estão no conjunto há dois meses apontam
problemas de infiltração, no
acabamento e no escoamento
de água da chuva. "Quando
chove, as varandas ficam cheias
d'água. As bases dos parapeitos
estão todas enferrujadas",
apontou Ângelo Silva, síndico
de um dos blocos.
A medição de luz é um dos
principais problemas. Moradores afirmam que os relógios estão trocados. "Quase não tenho
eletrodoméstico e estou pagando R$ 160 de luz", disse a aposentada Erondina da Silva, 53.
O presidente da Empresa de
Obras Públicas afirmou que os
problemas serão solucionados.
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