São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

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Após aula de convivência, morador pede muro contra tráfico no Rio

Ex-moradores de favela que ganharam apartamento do PAC dizem temer que local vire rota de fuga de bandidos; pessoas ouviram palestras de "integração"

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Após ganharem os apartamentos construídos pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e cursarem oito "aulas de convivência" para morar no conjunto habitacional, ex-moradores de favelas do Rio pediram ontem ao governador Sérgio Cabral Filho a manutenção dos muros no entorno do imóvel ainda em construção. Eles temem ficar expostos à ação de traficantes.
Cabral entregou ontem 52 apartamentos -outros 96 já haviam sido dados em junho, com a presença de Lula. Um grupo de dez pessoas pedia, com cartazes, a manutenção do muro que circunda a obra do ainda incompleto conjunto habitacional. Para eles, a barreira -herança de uma antiga fábrica que funcionou no local- protegeria a nova vizinhança da rota de fuga usada por bandidos que atuam no Complexo do Alemão. "A rua de trás é usada como rota de fuga [de traficantes]. E as portas são muito frágeis", disse Ângelo Silva, síndico de um dos blocos. O projeto prevê a retirada do muro.
Ao ver a reivindicação do grupo, Cabral negou o pedido no palanque: "Os moradores daqui têm que ter integração com a comunidade. Isso aqui é bairro, tem que passar caminhão de lixo". No início do ano, o governador enfrentou resistência de associações de moradores ao projeto de cercar 13 favelas com muros para, oficialmente, proteger a mata atlântica de invasões. A secretária de Ambiente, Marilene Ramos, chegou a comparar favelas a condomínio.
Segundo o presidente da Empresa de Obras Públicas, Ícaro Moreno, se o local for murado, toda a manutenção, como recolhimento de lixo e poda de árvores, seria custeada pelos moradores. "É prejuízo para eles."

Curso de convivência
Para ocupar o conjunto -composto por cinco blocos, quadra poliesportiva e um espaço para cursos profissionalizantes- os moradores tiveram que ouvir oito palestras sobre "convivência".
Segundo Ruth Jurberg, coordenadora da área social do PAC no Rio, o objetivo foi "ensiná-los a viver em integração". "Eles estão indo morar com novos vizinhos. Viviam em condições precárias, não sabem viver num condomínio", disse ela.
Além das aulas, o conjunto de 152 apartamentos possui um regulamento. Entre as regras há a proibição de usar o imóvel para oferecer serviços comerciais, como preparar marmita ou reparar roupas -meio comum de renda extra entre os moradores. Cada bloco -entre 20 a 40 apartamentos- elege um síndico. Ele é o responsável por zelar pelo bem-estar.
Há cinco dias no condomínio, a aposentada Elza Soares diz que o local é bem cuidado, mas que nem todos os vizinhos respeitam as regras.
"Outro dia um mulher pisou no gramado. Reclamaram com ela e foi uma confusão. Por isso também que eu só falo com as minhas netas e filhas. Por isso que não quero amizade com vizinho. Pedem muito."
Os apartamentos entregues têm 58 m 2 divididos em dois andares. Possuem dois quartos no segundo pavimento, um banheiro e uma sala conjunta com a cozinha no primeiro.
Moradores que estão no conjunto há dois meses apontam problemas de infiltração, no acabamento e no escoamento de água da chuva. "Quando chove, as varandas ficam cheias d'água. As bases dos parapeitos estão todas enferrujadas", apontou Ângelo Silva, síndico de um dos blocos.
A medição de luz é um dos principais problemas. Moradores afirmam que os relógios estão trocados. "Quase não tenho eletrodoméstico e estou pagando R$ 160 de luz", disse a aposentada Erondina da Silva, 53.
O presidente da Empresa de Obras Públicas afirmou que os problemas serão solucionados.


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