São Paulo, quinta, 28 de agosto de 1997.



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FIM DE PENA
Ex-detento visita o 7º Batalhão da PM de SP e cumprimenta policiais durante passeio no 1º dia de liberdade
Luz Vermelha ganha roupa e dá autógrafo

João Wainer/Folha Imagem
João Acácio Pereira da Costa, o "Bandido da Luz Vermelha", deixa avião que o transportou de São Paulo a Curitiba


ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

João Acácio Pereira da Costa, 55, o "Bandido da Luz Vermelha", ou simplesmente "Luz", como quer ser chamado a partir de agora, em sua primeira manhã de liberdade, ontem, passeou, comprou roupas, cumprimentou pedestres, deu autógrafos e comprou um caderno para escrever suas idéias.
Luz foi libertado anteontem após cumprir 30 anos e quatro dias de prisão. Ele deixou a Casa de Custódia de Taubaté (134 km de SP), onde estava desde o último sábado.
O ex-detento, que foi condenado por 88 crimes, passou as primeiras horas de sua primeira noite em liberdade no hotel Othon (centro de São Paulo), após conceder entrevista a uma emissora de televisão.
No hotel, não saiu de perto da televisão. Quis assistir a todas as reportagens sobre sua libertação.
Às 4h, foi para a casa de seu advogado, José Luiz Pereira, no Carandiru (zona norte). Uma das filhas de Pereira não gostou e dormiu fora de casa. "Ele dormiu umas duas horas. Às 7h acordou, tomou café e saímos para passear", contou Pereira, que dormiu no mesmo quarto que o cliente.
Luz visitou o 7º Batalhão da PM, na zona norte, e depois seguiu para a rua Voluntários da Pátria, em Santana. No começo, a presença de um dos ex-bandidos mais temidos do Brasil causou constrangimento entre os policiais. O "gelo" foi quebrado quando Luz começou a cumprimentar os PMs.
Na Voluntários da Pátria, Luz comprou uma calça jeans branca, um colete de lã azul e uma camisa de linho vermelha, na loja Santana Chic. Perguntado sobre por que gosta de vermelho, ele respondeu: "Eu gosto de vermelho, mas não é porque é cor de bandido. É porque representa a vida e a nobreza."
Em uma papelaria, comprou um caderno com a figura de um gramofone rodeado de ursinhos, duas canetas e um cortador de unhas.
Ele disse que não vai escrever sobre os dias de prisão, mas sobre filosofia, as Américas e "o esplendor de Deus". Luz disse diversas vezes que se sentia recuperado. "Já paguei pelos meus atos. A população não tem medo de mim, tanto é que algumas pessoas me pediram autógrafos", disse.
Luz Vermelha ficou emocionado e chegou a chorar duas vezes durante as entrevistas que concedeu ontem de manhã na casa do advogado. A primeira foi quando comentou a atitude de presos da Penitenciária do Estado, que fizeram greve de fome por sua libertação.
"Eu pensei que só existiam inimigos na cadeia, mas me enganei", disse. Outro momento de lágrimas foi quando disse que ficou decepcionado com a decisão do irmão de não recebê-lo em sua casa.
Ele disse que não sabe o que vai fazer agora, pois não tem uma profissão. Luz afirmou que tentou se enforcar três vezes na prisão.



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