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CASO CARANDIRU
Cinco anos depois, ex-governador fala em ações de extermínio; comandante rebate: "Ele não estava lá"
Fleury admite massacre na Detenção em 92
ROGÉRIO SIMÕES
ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local
Cinco anos depois da invasão da
Casa de Detenção de São Paulo pela Polícia Militar, que resultou na
morte de 111 presos, o ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho admite que houve um massacre no
dia 2 de outubro de 1992.
Em entrevista à Folha, Fleury
afirmou que o massacre ocorreu
depois da "perda de comando" da
operação causada pelo ferimento
sofrido pelo coronel Ubiratan
Guimarães, comandante da ação.
"Enquanto houve comando, a
ação estava sendo correta", disse o
então governador. "Quando, pelas circunstâncias fáticas, desapareceu o comando, surgiram as
ações individuais sem controle. Aí
sim, dessas ações individuais, você
pode falar em massacre, em ações
de extermínio."
Até então, o governador havia
admitido apenas que "policiais se
excederam" na invasão.
O hoje deputado estadual Ubiratan Guimarães (PSD), 54, nega ter
havido falta de comando e diz que,
quando foi ferido por uma explosão, a operação já estava praticamente concluída.
"Foi no final, eu já não ouvia
mais tiros", diz. "Seria cômodo
para mim agora pular fora." O coronel foi o responsável pela invasão e é o único policial acusado de
todas as 111 mortes no processo
que tramita na Justiça comum.
Guimarães rebate a acusação de
que presos foram massacrados e
diz que Fleury fala sem conhecimento sobre o que aconteceu.
"Ele não estava lá, ele nunca me
ouviu, nunca me perguntou nada;
o que falaram para ele eu não sei",
afirma. "Nunca houve massacre."
Um dos participantes da operação, o hoje major Wanderley Mascarenhas, então comandante do
Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), também apontou falhas
na condução da operação.
Segundo Mascarenhas, os policiais não tinham clareza sobre os
seus objetivos.
"Em uma operação dessa envergadura, a primeira coisa -o que
não aconteceu na época, e quase
ninguém assumiu- é realmente
saber o que se tinha de fazer e
quem estava mandando fazer. Não
se sabia", disse.
"Tinha muita gente dando ordem, muita gente autorizando."
Guimarães nega que isso tenha
ocorrido. "Ele (Mascarenhas) sabia a missão desde o começo, cada
um sabia o que fazer. Cada um tinha uma ação definida."
O promotor da Justiça Militar
Luiz Roque Lombardo Barbosa,
autor da denúncia contra 120 PMs
que atuaram durante a invasão,
afirma que a ação foi "um caos".
"Aquela operação ficou a critério de quem estava lá. Instaurou-se
uma balbúrdia", diz.
Apesar de criticar as "ações individuais absolutamente condenáveis" de alguns PMs, Fleury diz
que a decisão de invadir o presídio
foi correta.
"Eu teria dado a ordem para entrar", disse o ex-governador, que
afirma só ter tomado conhecimento da invasão depois que ela já havia ocorrido.
Na próxima quinta-feira, a invasão da Casa de Detenção pela PM
completa cinco anos sem que nenhum acusado tenha sido julgado.
Nenhuma família das vítimas recebeu ainda o dinheiro de indenizações conseguidas na Justiça.
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