São Paulo, Terça-feira, 28 de Setembro de 1999
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Promotor investiga "zelador de rua"

da Reportagem Local

O Ministério Público irá investigar as milícias antimiséria pagas por comerciantes e moradores do centro de São Paulo para expulsar mendigos de ruas e praças.
O promotor da Cidadania Luiz Salles Nascimento quer identificar e convocar as empresas que prestam esse tipo de serviço na cidade para audiência.
"De imediato, vamos tentar a assinatura de um termo em que elas se comprometem a suspender esse trabalho, sob pena de multa diária", disse.
A ação dos "zeladores de ruas", como se autodenominam os agentes que expulsam os mendigos, foi denunciada ontem pela Folha.
"Se todos adotarem essa medida, os moradores de rua de São Paulo serão obrigados a viver em guetos", disse.
De acordo com o promotor, a expulsão fere o direito de livre locomoção e circulação garantido pela Constituição.
O promotor também vai verificar se houve crime na forma como que a população de rua foi retirada pelos seguranças.
Mendigos ouvidos pela Folha disseram que foram ameaçados, mas não registraram queixa na polícia.

Trabalho
Os zeladores de rua são, em geral, ex-seguranças particulares que ganham salário de R$ 350 mensais para impedir a presença de mendigos em praças ou calçadas públicas.
O perímetro vigiado é definido segundo a adesão dos moradores e comerciantes da região incomodados com a vizinhança.
Existem quatro locais onde funciona o plano particular antimendicância: avenida São João, Arouche, Santa Cecília e Higienópolis.
Na semana passada, a Folha localizou os moradores de rua expulsos desses locais instalados na praça da República e nas avenidas fora dos limites de vigilância.
"Se nós moramos em um lugar, temos o direito de zelar pelo nosso espaço e isso não é ilegal", disse José Luiz Braz, 46, um dos sócios da Conviver. Ele afirmou ter se inspirado em empresas do Canadá para montar o negócio.
Donos da Conviver negaram o uso da violência para lidar com os mendigos. Segundo eles, há apenas conversa.
A Corregedoria da Polícia Militar também irá investigar a ação das empresas de zeladoria por causa do envolvimento de policiais nesse tipo de atividade.
A Conviver, empresa recém-criada e que atua há quatro meses no centro de São Paulo, tem dois policiais militares como sócios.
Os policiais são impedidos de fazer ""bicos", ou seja, não podem ser dirigentes de empresas, somente investidores.
(ALESSANDRO SILVA)


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