São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2000

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INVESTIGAÇÃO
Justiça Eleitoral e Polícia Federal vão apurar distribuição de folhetos com documento a ser assinado pelos fiéis
Evangélico exige garantia de voto em MG

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Nove evangélicos candidatos a vereador em oito cidades de Minas Gerais vão ser investigados pela Justiça Eleitoral e pela Polícia Federal. Eles são suspeitos de utilizar na campanha folhetos de propaganda onde exigem a garantia de voto do eleitor.
Os folhetos -que foram entregues anonimamente ao Ministério Público do Estado, no último dia 17- contêm foto do candidato, nome, número, partido e a frase "fé para mudar". Cada um traz mais 12 páginas iguais, com o título "compromisso de voto".
O eleitor tem de preencher nome, endereço, número do título de eleitor, da seção e da zona de votação. Logo abaixo, há a frase "comprometo-me a votar no candidato pastor (nome do candidato)" e um espaço para assinatura.
Todos os suspeitos são ligados à Igreja Universal do Reino de Deus (do bispo Edir Macedo). Seis são do PL, um do PMDB, outro do PFL e um do PSL.
Os promotores eleitorais Rômulo de Carvalho Ferraz e Antônio Sérgio Tonet enviaram representação à Comissão de Fiscalização da Propaganda Eleitoral pedindo que se determine a apreensão do material. Solicitaram ainda à Polícia Federal a abertura de inquérito criminal.
"O inusitado compromisso, a par de se constituir em uma forma vil e repugnante de exploração do sentimento de religiosidade de seus fiéis, está a denotar uma clara afronta à liberdade de voto desses mesmos fiéis, posto que não é difícil de imaginar quais coações estão sujeitos a sofrer nesse contexto", diz o texto da representação.
O documento foi redigido com base no artigo 301 do Código Eleitoral, que proíbe o "uso da violência ou grave ameaça para coagir alguém a votar ou não votar em determinado candidato ou partido". A pena prevista é de até quatro anos de cadeia, mais multa.
Segundo os promotores, com o número da seção e da zona, os candidatos podem conferir se foram bem ou mal votados em locais onde há muitos fiéis.
Os promotores disseram suspeitar que os folhetos tinham cópias para que os fiéis procurassem mais 11 eleitores que também preenchessem o documento.
Apenas uma candidata, a vereadora Maria Helena Alves Soares (PFL), que tenta a reeleição, é de Belo Horizonte. Os demais investigados são do interior do Estado: Carlos Pereira da Silva (PL/Uberaba), Edgar João da Silva (PSL/ Contagem), Edvan Ferreira de Araújo (PL/Betim), João Oliveira Lemos (PL/Ribeirão das Neves), José Antônio Leandro (PL/Uberlândia), Luiz Alberto Almeida Monteiro (PMDB/Contagem), Morgana Antônia de Faria Reis (PL/Santa Luzia) e Rosevaldo Oliveira Nascimento (PL/Governador Valadares).



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