São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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EDUCAÇÃO

Com base em exame internacional, pesquisa mostra que desempenho de estudantes mais ricos é inferior ao de outros países

Elite brasileira perde em ranking do ensino

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Não é apenas a educação pública no Brasil que apresenta resultados muito inferiores à média de países desenvolvidos. O desempenho dos alunos da elite brasileira no ensino fundamental também está muito abaixo dos padrões internacionais de países mais ricos ou em desenvolvimento.
Estudo do pesquisador Creso Franco, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro, mostra que os alunos mais ricos do Brasil têm desempenho inferior ao dos estudantes das classes mais altas de outros países.
O estudo, divulgado pelo Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), tem como base as notas dos melhores alunos de cada país nos resultados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).
Nessa avaliação, apenas 21% dos alunos da elite brasileira conseguiram notas que os colocavam nos dois níveis mais avançados de aprendizado, o que indica que conseguem ler e interpretar textos e gráficos com níveis mais avançados de complexidade.
O resultado é muito inferior ao encontrado entre as elites dos outros sete países pesquisados: França (57%), Coréia do Sul (55%), Estados Unidos (53%), Portugal (48%), Espanha (46%), Rússia (33%) e México (27%).
"Na área da educação, o lado Bélgica do Brasil não existe. Se existe, é bem menor do que uma Bélgica", afirmou Franco, fazendo uma referência à frase do economista Edmar Bacha que comparava o Brasil a uma "Belíndia", mistura de Bélgica com Índia. Isso porque uma pequena parcela da população vive com indicadores comparáveis aos de um país rico, enquanto uma grande maioria vive em condições semelhantes às de nações muito pobres.
Para chegar a essa conclusão, Franco comparou as notas dos estudantes que representam a fatia dos 7% mais ricos de países considerados "emergentes", como Brasil e México, com o desempenho dos alunos que representam a fatia dos 25% mais ricos nos países desenvolvidos, como Coréia do Sul e EUA.
A fatia da elite no Brasil é menor para que seja possível comparar os mesmos grupos socioeconômicos, pois em países desenvolvidos há mais pessoas com padrões de vida elevado do que nos países pobres ou em desenvolvimento.
Como o estudo de Franco compara só a elite brasileira, o perfil dos alunos é de classe média ou alta, que estuda em escolas particulares e que tem acesso a bens como computadores conectados à internet. Ou seja, são os estudantes preparados nas melhores escolas brasileiras.
"Isso mostra que algo de muito errado parece estar acontecendo com a educação aqui. E o problema agora não está na repetência, na escola pública ou na qualidade oferecida para a maioria dos jovens. Com as exceções de praxe, a boa escola brasileira não é uma boa escola no mundo globalizado", afirmou Franco.
A secretária-executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Castro, afirma que o Pisa revela que a distância entre os estudantes mais ricos do Brasil e dos outros países é ainda maior do que a distância entre as notas de alunos pobres daqui e de fora.
"Os alunos de baixa renda do Brasil têm um desempenho mais equilibrado com a média dos demais países do que os de alta renda", disse Maria Helena.
Mas, quando são analisados apenas os estudantes brasileiros de mais alto nível socioeconômico com os de menor no Brasil, o resultado continua favorável aos mais ricos.


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