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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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DANUZA LEÃO

Animando a vida

Se sua vida estiver meio sem graça, é bom criar uma novidade; talvez, de vez em quando, trocar de personalidade e inventar, às vezes, uma boa tragédia.
Se você for fazer um bolo e descobrir que não tem fermento em casa, faça disso um drama. Telefone para uma amiga, diga "estou com um problema enorme" e conte, em tom de melodrama, o fato. É claro que primeiro ela vai se assustar, depois achar que você é louca -o que é sempre bom- e em seguida propor a solução, aliás, facílima: dar uma graninha ao porteiro para que ele vá até a padaria comprar o que vai ser a chave de sua felicidade: um pacotinho de fermento.
Adquira o hábito de agir assim com uma certa frequência: se o seu jeans não fechar, ligue para o seu marido, interrompa a reunião e faça uma grande cena, como se a casa estivesse pegando fogo. Mas uma cena de verdade, com direito a choro e grande desespero. E peça socorro: homens adoram mulheres frágeis.
Ele vai concordar rapidinho com a única solução possível: uma lipo básica, se possível na manhã seguinte.
Tudo na sua vida deverá ser exagerado, para mais ou para menos, e com toques dramáticos, todos diferentes a cada vez. É bom ter como amigas pessoas parecidas, pois quando estiver sem uma boa idéia sempre poderá se inspirar nelas.
Quando telefonar, seja para quem for, comece sempre assim: "me aconteceu uma coisa horrível". Essa coisa horrível pode ter sido seu "t-shirt" que manchou com água sanitária ou um brinco que você perdeu. Mas quando contar tem que ser num tom muito dramático, como se o mundo estivesse prestes a acabar.
Crie sempre cenas, se desespere, chore, se possível, arranque os cabelos, se necessário. Tudo tem que ser um drama, e mesmo que agindo assim algumas pessoas se afastem de você, elas nunca te esquecerão. E não é isso que a gente mais quer na vida?
Quantas histórias você já ouviu contar de casamentos que acabaram porque o casal era tão sensato, tão equilibrado, tão compreensivo, aquele de quem o outro não tem, nunca, do que se queixar? Na teoria, é lindo; no dia a dia, um tédio, e um companheiro zen, só esfaqueando. E lembre-se: existem homens (e mulheres) que passam a vida dizendo "não aguento mais, ele (ela) me enlouquece, não me dá um minuto de paz, a única coisa que eu queria é um pouco de sossego". Tudo mentira. Um casamento sossegado pode até durar a vida toda, mas é de uma monotonia atroz.
O dia em que você, mulher, estiver sem inspiração para inventar um drama, mude todos os móveis da casa de lugar. Inclusive -e sobretudo- os do quarto, botando a cabeceira da cama, por exemplo, encostada na quina da parede. Nada desestabiliza mais um homem do que chegar em casa e a televisão estar num lugar diferente, o telefone em outro, tudo ao contrário de como estava de manhã; as roupas dele em outro armário, claro, e o sabão de barba numa prateleira que ele nem sabia que existia. Isso vai criar uma perturbação tão grande que pode acabar na delegacia, mas não é melhor do que ouvir um "como foi seu dia?" e responder com um "tudo bem"? A falta de assunto entre os casais é o verdadeiro drama dos casamentos, e para evitá-lo, vale absolutamente tudo. Ou quase.
E criar um drama, sobretudo por coisas bem banais, faz com que a vida se torne bem mais interessante.

E-mail - danuza.leao@uol.com.br

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