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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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SAÚDE MENTAL

Neurocirurgiões de GO e RJ que operam pacientes com transtornos mentais apontam sucesso em 70% dos casos

Médicos defendem técnica psicocirúrgica

DA REPORTAGEM LOCAL

Os médicos de Goiânia (GO) e Rio de Janeiro (RJ) que admitiram realizar operações cirúrgicas para tratamento de transtornos mentais disseram que pretendem passar a notificar os conselhos regionais de medicina de seus Estados sobre os próximos casos em que atuarem. Todos defenderam que o índice de sucesso desses procedimentos beira os 70% e afirmaram que, com as novas técnicas, as áreas atingidas no cérebro são muito menores do que na antiga lobotomia.
O neurocirurgião Luiz Fernando Martins disse que a ausência de consulta a CRMs não é restrita a Goiás. "Não só eu, como nenhum cirurgião de São Paulo, de Belo Horizonte, do Rio Grande do Sul, consultou nenhum conselho regional para fazer essa cirurgia."
Para Martins, no entanto, isso não interfere na qualidade das cirurgias realizadas em Goiás. "Nós seguimos as indicações da Inglaterra. Nossos critérios para indicações são critérios rigorosos. E isso, para mim, já basta, já são suficientes para poder limitar. Porque a cirurgia psiquiátrica é uma cirurgia como outra qualquer. Tendo critérios definidos de indicação cirúrgica, não tem por que interpelar o Conselho Regional de Medicina."
Martins acredita que o CRM só deveria ser consultado em "casos específicos", citando como exemplo "pacientes com alterações sexuais". Indagado se realizou alguma cirurgia para casos semelhantes, Martins disse que dois casos chegaram a ser encaminhados, inclusive por um juiz de Uberaba (MG), mas os pacientes não chegaram às suas mãos.
Martins apresentou um balanço dos resultados que teria alcançado nos 289 pacientes que operou: 22% teriam sido curados, 43% teriam tido "melhora acentuada", 19%, "melhora moderada", 14%, "pouca melhora", e 2%, "piora".

Sem mortes
O cirurgião Osvaldo Vilela Filho disse que ouvir o CRM antes de uma psicocirurgia "não é praxe em Goiânia". Ele também defendeu os critérios que utiliza para realizar as operações.
"Você sabe que a gente sempre tenta seguir absolutamente tudo, todo o protocolo. Às vezes acaba, no tumulto do dia-a-dia, não se recordando de absolutamente tudo. A gente prima pelo paciente, e a preocupação é basicamente com o paciente, e, às vezes, a gente pode não se lembrar dessas outras [coisas] que são mais formais. Mas, sempre que possível, a gente procura se lembrar disso, sim, sempre, sempre."
Vilela Filho disse que obteve, em suas cirurgias, "70% de efeitos bastante significativos", sem ocorrência de óbitos.
O médico José Augusto Nasser, 40, que atua no Rio de Janeiro, disse que "vai seguir a jurisprudência cabível". "Se isso é uma coisa a se fazer daqui para a frente, se a gente não tem isso registrado dentro de um conselho [CRM], acho perfeito, acho que você tem razão. Mas a gente não passa por cima da lei."
Nasser divulgou, no Congresso Brasileiro de Psiquiatria do final do ano passado, um estudo com 12 pacientes com TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), nos quais aplicou a técnica da capsulotomia anterior (destruição da cápsula anterior). O estudo concluiu que "houve uma melhora de 70% na média dos casos".
Segundo o estudo, os casos foram "selecionados por um grupo experiente neuropsiquiátrico com um parecer de outro neuropsiquiatra consultor que nunca tinha avaliado o paciente anteriormente".
Para Nasser, "se tem uma resolução, ela tem de ser cumprida". "Mas eu, como cirurgião, faço parte de um grupo de estudo. Essas pessoas são de notoriedade internacional, que indicam essas cirurgias, então sabem muito bem o que é certo e o que é errado."
Nasser disse que todas as cirurgias são acompanhadas e preparadas por pessoal capacitado. "Teoricamente, [o caso] deveria passar pelo conselho. Com isso eu concordo. Agora, o que se faz normalmente é que você já tem as pessoas que são especializadas nisso, são poucos os psiquiatras especializados nisso. Você encaminha para um, encaminha para outro, ele dá o parecer, e o prontuário do paciente e o dossiê do paciente já está pronto."
O psiquiatra Salomão Rodrigues Filho, que indica cirurgias psiquiátricas para pacientes de Goiânia, disse que os casos são antes avaliados por um grupo formado por ele, outro psiquiatra e uma psicóloga. O psiquiatra disse que "vários pacientes" chegam a Goiânia com indicação para cirurgia já emitida por psiquiatras das cidades de origem. Mas eles são novamente avaliados pela equipe goiana, antes da cirurgia.
Filho disse que as equipes de Goiânia se preocupam em prestar esclarecimentos ao paciente para o qual é indicada a operação.
"[A necessidade da cirurgia] é levada ao paciente, que não é levado à cirurgia sem o conhecimento do que está sendo feito, sem assinar um termo de consentimento, também com assinatura de familiar ou responsável". (RV e PDL)

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