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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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No PR, polêmica chegou a promotor

DO ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Uma mulher de 23 anos que há dez meses era considerada um caso sem cura de transtorno mental, em que a única solução seria uma cirurgia no cérebro, hoje escreve poesias, desenha e se relaciona com os outros pacientes.
A história começa bem antes de novembro de 2002, quando o Ministério Público do Paraná interveio e pediu explicações ao hospital, barrando a psicocirurgia.
Segundo pessoas que tiveram contato com a paciente -a Folha não foi autorizada pelos médicos a entrevistá-la-, ela relata ter sido, aos três anos de idade, abandonada em uma lata de lixo pela mãe. Foi então adotada por um casal de ex-lavradores, hoje com 80 e 81 anos, em uma pequena cidade do interior do Paraná.
As internações começaram aos nove anos e não mais pararam, conforme relatos dela a médicos. Agressões a moradores da cidade, registradas em boletins de ocorrência, alternavam-se com internações em vários hospitais psiquiátricos do interior paranaense. No início de 1999, ela foi enviada então a um hospital estadual nos arredores de Curitiba.
Após nove meses de tratamento, a equipe que a assistia decidiu que era hora de ela voltar para casa. Mas, na entrada da cidade, moradores bloquearam o acesso do carro que a transportava.
De volta ao hospital na região de Curitiba, passava a maior do tempo "contida" -eufemismo para amarrada. Quando era solta, novos conflitos. Além de agredir os outros, feria a si mesma. Seus braços são cheios de marcas.
Segundo um dos psiquiatras que trataram dela, que pediu para não ser identificado, foram testados todos os remédios, em todas as doses. Em meados de 2002, a cirurgia psiquiátrica já era considerada a única solução.

Denúncia
Não concordando com o diagnóstico, uma psicóloga fez uma denúncia que chegou ao Ministério Público do Paraná. O promotor Marco Antonio Teixeira então pediu explicações ao hospital.
O principal ponto era a concordância da paciente. Para que a psicocirurgia fosse realizada, ela tinha de ter plena consciência do procedimento a que seria submetida -e aceitá-lo.
No dia 19 de novembro, o neurocirurgião que iria realizar o procedimento enviou um ofício ao Ministério Público, reiterando que deveria haver a operação.
O promotor pediu a avaliação do caso ao Conselho Regional de Medicina, que designou uma banca para analisar a situação. Na primeira visita, em março, os médicos deram a entender que a cirurgia seria cabível, mas não a recomendaram explicitamente. A segunda equipe, em junho, explicou a ela o que poderia acontecer.
No dia 11 de julho, em uma reunião entre o Ministério Público, equipes que atendiam a paciente e especialistas, houve um intenso debate, opondo os defensores e os críticos da psicocirurgia. Depois disso, a equipe ficou mais tranquila, e a melhora, que vinha ocorrendo desde o final de abril, tornou-se mais significativa.
Os desenhos dela, antes extremamente infantis, hoje são "verdadeiros quadrinhos", segundo Celeste de Freitas, a psicóloga do Ministério Público. As poesias também melhoraram. Hoje, a paciente afirma que não quer mais fazer a cirurgia. (PEDRO DIAS LEITE)

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