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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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EDUCAÇÃO

Em média, 25% dos alunos não pagam mensalidade; especialista prevê "estouro da bolha" com onda de falências e fusões

Inadimplência dobra em universidades de SP

LUIS RENATO STRAUSS
DA REPORTAGEM LOCAL

A inadimplência mais que dobrou nas universidades privadas do Estado de São Paulo neste ano. Segundo o Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior no Estado de São Paulo), a média de alunos que não pagam as mensalidades é de 25% -a média histórica é de 12%.
A situação está exigindo ajustes das instituições para enfrentar a crise. A Universidade Metodista de São Paulo, por exemplo, que teve um aumento da inadimplência de 7% (média dos anos anteriores) para 33% (neste ano), vai negociar amanhã com os professores. A pauta: pedir aos docentes que abdiquem de uma parcela de 7% do aumento salarial referente ao dissídio da categoria -ao todo o reajuste é de cerca de 14%.
O pagamento seria feito só em 2004, dependendo dos indicadores do início do ano. Além disso, um quarto do 13º salário e o salário de férias seriam pagos com um mês de atraso. Em contrapartida, haveria garantia de manutenção do emprego.
A PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo é outra instituição em crise: na semana passada, pagou com atraso parte dos salários e propôs aos professores um plano de corte de gastos que prevê, entre outros pontos, fusão de turmas com poucos alunos.
A alta inadimplência é apenas um dos problemas do setor. A concorrência teve um aumento recorde -o número de universidades privadas no país cresceu 45% em dois anos. Como consequência, é alta ociosidade das vagas (31% das matrículas).
Para Gabriel Mario Rodrigues, presidente do Semesp, as universidades precisam encontrar novas formas de financiamento. Alternativas, diz ele, estão surgindo com a especialização de empresas financeiras no crédito educativo.
O Semesp lançou neste ano o Cebrade (Centro Brasileiro de Desenvolvimento do Ensino Superior), que também oferecerá crédito educativo. Estima-se que haja cerca de 3 milhões de estudantes que não estão em uma faculdade por falta de recursos -poderiam arcar com mensalidades entre R$ 200 e R$ 250, mas elas são, em geral, superiores a R$ 400.
Ryon Braga, diretor do Grupo CM de Consultoria Educacional, diz que a "bolha especulativa do setor" está prestes a estourar.
A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), de 1996, permitiu a criação de universidades com objetivos empresariais-até então, eram admitidas só instituições sem fins lucrativos.
"Houve uma expansão rápida, que procurava a lucratividade do setor. No entanto isso não ocorreu de forma equilibrada." Para Braga, o aumento da inadimplência irá acelerar o "estouro da bolha", o que significa que, muito em breve, devem ocorrer falências e fusões no setor.
A crise não se limita ao ensino superior. Escolas particulares também têm enfrentado problemas como ociosidade e inadimplência.
Na semana passada, o Colégio São Bento, uma das instituições mais tradicionais da capital paulista, anunciou que deixará de funcionar em 2004. O motivo é a dificuldade de fechar as contas, já que 30% dos alunos não estão pagando as mensalidades.

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