São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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Relatos revelam que dor começa antes da morte

DA SUCURSAL DO RIO

O trauma na vida das vítimas ocultas da violência começa antes mesmo da morte de um familiar ou amigo. Elas sofrem quando têm uma pessoa querida viciada em drogas, na emergência dos hospitais para conseguir atendimento para algum parente ou quando precisam reconhecer o corpo. Leia a seguir relatos colhidos na pesquisa de Gláucio Soares.
D. teve o filho morto por PMs em São João de Meriti. Mas seu drama começou antes, ao descobrir que ele era viciado em drogas. O adolescente de 16 anos fugiu de casa, temendo a reação do pai. Ficou um ano e meio desaparecido.
Quando houve o reencontro, o rapaz disse que estava trabalhando. D. o ameaçou.
"Se vir você no meio de bandidos, vou te manter dentro de casa. Porque, se um dia você for preso, vai dizer que eu sou seu pai e eu vou desmentir."
Uma semana após o encontro, D. descobriu que o filho fora morto por PMs e enterrado como indigente. "Não cheguei a vê-lo. Os PMs o enterraram porque não sabiam quem ele era, nem procuraram saber quem era o pai ou a mãe."
Em 1995, Z. perdeu o irmão em assalto a um ônibus e passou a ter trauma. Z. não morava no Rio e, quando se mudou para lá, não podia ver um ônibus. "Eu começava a chorar."


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