São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2006

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Abandono ameaça obras de botânica no Rio de Janeiro

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Centro de referência no estudo de botânica no Rio, o Serviço de Ecologia Aplicada (SAE), do governo estadual, guarda um acervo vulnerável à ação de ladrões e às precárias condições de conservação.
Trancados de modo improvisado em um armário de ferro, livros clássicos da botânica e do naturalismo editados na Europa nos séculos 18, 19 e 20 correm o risco de apodrecer caso não sejam protegidos do mofo e da umidade.
O prédio do SAE fica na reserva Vista Chinesa, de 10 mil metros quadrados, no Alto da Boa Vista, trecho da floresta da Tijuca (zona norte). Cercado por árvores altas, a até 580 m de altitude, a edificação é protegida do sol, o que agrava o problema da umidade.
O acervo também está ameaçado por quadrilhas que agem em museus e arquivos que guardam raridades históricas. Hoje, três vigilantes de firmas privadas trabalham no SAE. Um de cada vez, por turno de oito horas. Por falta de seguranças, as pesquisas nas trilhas da reserva estão proibidas. Ladrões já atacaram o prédio duas vezes. A primeira, em arrombamento, de madrugada. A segunda, em assalto à mão armada.
Para a chefe do SAE, a zoóloga Norma Crud, os assaltantes queriam computadores -eles desconheciam a qualidade do acervo reunido ao longo de 45 anos da instituição, desde 1975 subordinada à Feema (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente).
"Mantenho as obras raras trancadas a cadeado, e só eu sei onde fica a chave", disse ela, que lamenta as condições ruins em um órgão que considera "fragmentado e dilacerado".
Neste ano, a Feema destinou ao SAE apenas R$ 6.000. Trabalham no órgão dez funcionários, dois deles na unidade da Reserva Biológica da Praia do Sul, na Ilha Grande (Angra dos Reis, a 150 km do Rio). Há 30 anos, 45 servidores eram lotados no órgão, quantidade considerada ideal pela chefe.
Entre as obras raras guardadas estão dois tomos do "Sectum Palmarum Brasiliensium", clássico editado em Bruxelas em 1903, do botânico J. Barbosa Rodrigues (1842-1909). Com pontos de ruptura na encadernação de mais de cem anos, os volumes trazem textos e pranchas com reproduções coloridas de espécies de palmeiras nacionais retratadas por especialistas no século 18.
Faz parte do acervo o livro "Genera Plantorum", outro clássico da botânica editado na França em 1743. Seu autor é o naturalista, botânico e médico sueco Carl von Linné (1707-1778), pai da taxinomia (classificação de espécies) moderna.
Integram as coleções do SAE cerca de 200 ilustrações em aquarela e 400 em nanquim de espécies vegetais brasileiras. No herbário, pesquisado mensalmente por 300 estudiosos, há 50 mil registros de exsicatas (plantas secas) que podem apodrecer devido à umidade.


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