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Abandono ameaça obras de botânica no Rio de Janeiro
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Centro de referência no estudo de botânica no Rio, o Serviço
de Ecologia Aplicada (SAE), do
governo estadual, guarda um
acervo vulnerável à ação de ladrões e às precárias condições
de conservação.
Trancados de modo improvisado em um armário de ferro,
livros clássicos da botânica e do
naturalismo editados na Europa nos séculos 18, 19 e 20 correm o risco de apodrecer caso
não sejam protegidos do mofo e
da umidade.
O prédio do SAE fica na reserva Vista Chinesa, de 10 mil
metros quadrados, no Alto da
Boa Vista, trecho da floresta da
Tijuca (zona norte). Cercado
por árvores altas, a até 580 m de
altitude, a edificação é protegida do sol, o que agrava o problema da umidade.
O acervo também está ameaçado por quadrilhas que agem
em museus e arquivos que
guardam raridades históricas.
Hoje, três vigilantes de firmas
privadas trabalham no SAE.
Um de cada vez, por turno de
oito horas. Por falta de seguranças, as pesquisas nas trilhas
da reserva estão proibidas. Ladrões já atacaram o prédio duas
vezes. A primeira, em arrombamento, de madrugada. A segunda, em assalto à mão armada.
Para a chefe do SAE, a zoóloga Norma Crud, os assaltantes
queriam computadores -eles
desconheciam a qualidade do
acervo reunido ao longo de 45
anos da instituição, desde 1975
subordinada à Feema (Fundação Estadual de Engenharia do
Meio Ambiente).
"Mantenho as obras raras
trancadas a cadeado, e só eu sei
onde fica a chave", disse ela,
que lamenta as condições ruins
em um órgão que considera
"fragmentado e dilacerado".
Neste ano, a Feema destinou
ao SAE apenas R$ 6.000. Trabalham no órgão dez funcionários, dois deles na unidade da
Reserva Biológica da Praia do
Sul, na Ilha Grande (Angra dos
Reis, a 150 km do Rio). Há 30
anos, 45 servidores eram lotados no órgão, quantidade considerada ideal pela chefe.
Entre as obras raras guardadas estão dois tomos do "Sectum Palmarum Brasiliensium",
clássico editado em Bruxelas
em 1903, do botânico J. Barbosa Rodrigues (1842-1909). Com
pontos de ruptura na encadernação de mais de cem anos, os
volumes trazem textos e pranchas com reproduções coloridas de espécies de palmeiras
nacionais retratadas por especialistas no século 18.
Faz parte do acervo o livro
"Genera Plantorum", outro
clássico da botânica editado na
França em 1743. Seu autor é o
naturalista, botânico e médico
sueco Carl von Linné (1707-1778), pai da taxinomia (classificação de espécies) moderna.
Integram as coleções do SAE
cerca de 200 ilustrações em
aquarela e 400 em nanquim de
espécies vegetais brasileiras.
No herbário, pesquisado mensalmente por 300 estudiosos,
há 50 mil registros de exsicatas
(plantas secas) que podem apodrecer devido à umidade.
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