São Paulo, segunda-feira, 28 de setembro de 2009

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Cai poluição na lagoa mais famosa do Rio

Obras na Rodrigo de Freitas e fiscalização de despejos irregulares conseguem reduzir concentração de coliformes fecais

Nível de coliformes fecais, que esteve em 16 mil por 100 ml há cerca de três anos, agora oscila entre mil e 1.700, segundo o Inea


DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

Nos anos 1940, o jovem Antônio Carlos Jobim nadava nas águas da lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio. "Tinha peixe e camarões por lá", escreveu o compositor em anotação exposta no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico.
Depois de décadas recebendo esgoto de prédios próximos, a lagoa agora consome investimentos de quase R$ 150 milhões para tentar reverter o processo de degradação que, em anos recentes, impressionou os cariocas com cenas como a registrada no verão de 2002, quando toneladas de peixes mortos cobriram o espelho da água.
Após assinar um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público, em 2000, a Cedae (Companhia de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) concluiu neste mês a reforma da última das oito elevatórias da região, responsáveis por bombear milhões de litros de esgoto por dia. Algumas foram inauguradas na década de 1950 e nunca tinham passado por nenhuma intervenção, o que provocava vazamentos na lagoa.
Com o bom funcionamento do sistema, o material agora segue para o emissário submarino de Ipanema, de onde é despejado em alto mar.
As obras incluíram também a construção de uma galeria de cintura, uma rede de tubulações que tem como função recolher o esgoto que escorre indevidamente pela rede pluvial em direção à Lagoa.
As obras foram acompanhadas por um esforço de fiscalização para detectar o despejo irregular nas galerias, que deveriam receber apenas as águas das chuvas.
O flagrante é feito por uma câmera acoplada a um robô que percorre a rede subterrânea para identificar a chegada do esgoto, após a colocação de um corante na saída dos prédios sob suspeita.
"Já localizamos mais de 200 ligações clandestinas", afirma o presidente da Cedae, Wagner Victer, que diz ter investido R$ 80 milhões nas ações.
Segundo o professor de biologia da Universidade Santa Úrsula, José Andreata, o número de espécies de peixes na Lagoa caiu de 59 no início da década de 1990 para apenas nove em 2007, quando o pesquisador interrompeu o trabalho de monitoramento que conduziu por quase 20 anos. As espécies de água marinha, antes maioria, foram as que mais sofreram.
"No fim de agosto mesmo houve uma pequena mortandade de savelha, mas a prefeitura correu para recolher os peixes e isso acabou não vindo a público", diz. "Testei o nível de oxigênio dissolvido na água e estava em 2, quando o ideal é acima de 7", afirma Andreata.
Os efeitos sobre a qualidade da água já se fazem sentir: o nível de coliformes fecais, que esteve em 16 mil por 100 ml há cerca de três anos, chega a ficar abaixo de mil. Normalmente, porém, oscila entre 1.000 e 1.700, segundo o Inea (Instituto Estadual do Ambiente). O nível é considerado adequado para a prática de esportes em contato secundário com a água. Para a balneabilidade, a concentração não pode passar de mil. Um mergulho, como os de Jobim há 60 anos, nem pensar.
A gerente de qualidade ambiental do órgão, porém, diz que o objetivo não é criar uma nova área de banho na zona sul. "A utilização para banho poderia prejudicar a Lagoa, trazendo mais lixo para cá. O que queremos é um ambiente ecologicamente saudável e com uma comunidade fitoplanctônica com maior número de espécies", diz Fátima Soares.


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