|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cai poluição na lagoa mais famosa do Rio
Obras na Rodrigo de Freitas e fiscalização de despejos irregulares conseguem reduzir concentração de coliformes fecais
Nível de coliformes fecais, que esteve em 16 mil por 100 ml há cerca de três anos, agora oscila entre mil e 1.700, segundo o Inea
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
Nos anos 1940, o jovem Antônio Carlos Jobim nadava nas
águas da lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio. "Tinha
peixe e camarões por lá", escreveu o compositor em anotação
exposta no Espaço Tom Jobim,
no Jardim Botânico.
Depois de décadas recebendo esgoto de prédios próximos,
a lagoa agora consome investimentos de quase R$ 150 milhões para tentar reverter o
processo de degradação que,
em anos recentes, impressionou os cariocas com cenas como a registrada no verão de
2002, quando toneladas de peixes mortos cobriram o espelho
da água.
Após assinar um termo de
ajustamento de conduta com o
Ministério Público, em 2000, a
Cedae (Companhia de Águas e
Esgotos do Rio de Janeiro) concluiu neste mês a reforma da
última das oito elevatórias da
região, responsáveis por bombear milhões de litros de esgoto
por dia. Algumas foram inauguradas na década de 1950 e nunca tinham passado por nenhuma intervenção, o que provocava vazamentos na lagoa.
Com o bom funcionamento
do sistema, o material agora segue para o emissário submarino de Ipanema, de onde é despejado em alto mar.
As obras incluíram também a
construção de uma galeria de
cintura, uma rede de tubulações que tem como função recolher o esgoto que escorre indevidamente pela rede pluvial
em direção à Lagoa.
As obras foram acompanhadas por um esforço de fiscalização para detectar o despejo irregular nas galerias, que deveriam receber apenas as águas
das chuvas.
O flagrante é feito por uma
câmera acoplada a um robô que
percorre a rede subterrânea para identificar a chegada do esgoto, após a colocação de um
corante na saída dos prédios
sob suspeita.
"Já localizamos mais de 200
ligações clandestinas", afirma o
presidente da Cedae, Wagner
Victer, que diz ter investido R$
80 milhões nas ações.
Segundo o professor de biologia da Universidade Santa Úrsula, José Andreata, o número
de espécies de peixes na Lagoa
caiu de 59 no início da década
de 1990 para apenas nove em
2007, quando o pesquisador interrompeu o trabalho de monitoramento que conduziu por
quase 20 anos. As espécies de
água marinha, antes maioria,
foram as que mais sofreram.
"No fim de agosto mesmo
houve uma pequena mortandade de savelha, mas a prefeitura
correu para recolher os peixes e
isso acabou não vindo a público", diz. "Testei o nível de oxigênio dissolvido na água e estava em 2, quando o ideal é acima
de 7", afirma Andreata.
Os efeitos sobre a qualidade
da água já se fazem sentir: o nível de coliformes fecais, que esteve em 16 mil por 100 ml há
cerca de três anos, chega a ficar
abaixo de mil. Normalmente,
porém, oscila entre 1.000 e
1.700, segundo o Inea (Instituto Estadual do Ambiente). O nível é considerado adequado para a prática de esportes em contato secundário com a água. Para a balneabilidade, a concentração não pode passar de mil.
Um mergulho, como os de Jobim há 60 anos, nem pensar.
A gerente de qualidade ambiental do órgão, porém, diz
que o objetivo não é criar uma
nova área de banho na zona sul.
"A utilização para banho poderia prejudicar a Lagoa, trazendo mais lixo para cá. O que queremos é um ambiente ecologicamente saudável e com uma
comunidade fitoplanctônica
com maior número de espécies", diz Fátima Soares.
Texto Anterior: Saiba mais: Poeira fina piora qualidade do ar Próximo Texto: Baixo nível de oxigênio ainda ameaça peixes Índice
|