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UNIVERSIDADES FEDERAIS
Países comunistas cobram taxa dos estudantes, mas outros, como a França, adotam gratuidade
Exemplo de fora serve para os dois modelos
DA SUCURSAL DO RIO
O modelo de financiamento das
universidades públicas em diferentes países é usado tanto por
defensores quanto por críticos da
gratuidade plena do ensino.
Dependendo da posição que se
queira defender, é possível usar
como exemplo países desenvolvidos, em desenvolvimento e até regimes comunistas.
Na França, por exemplo, não
existe cobrança de mensalidade
dos estudantes das universidades
públicas. Os alunos pagam apenas uma taxa de inscrição.
O Reino Unido até recentemente não cobrava nada dos estudantes, mas o primeiro-ministro,
Tony Blair, instituiu a cobrança
de uma taxa anual de 1.025 libras
(cerca de R$ 4.000).
Esse valor, porém, não cobre o
gasto médio anual de um curso
universitário no país, que é de cerca de 4.000 libras.
Nesses dois países, a presença
de universidades privadas, sem financiamento do Estado, é praticamente inexistente.
São cobradas, nessas instituições, altas mensalidades apenas
de estudantes estrangeiros de fora
da União Européia.
China
A cobrança de taxas para os estudantes é uma realidade também
na China e na Coréia do Sul.
Nesses dois países, de acordo
com informações das embaixadas
em Brasília, consultadas pela reportagem, a taxa anual varia de
US$ 300 a US$ 600 (cerca de R$
800 a R$ 1.600). Assim como
ocorre na Inglaterra, o estudante
sem condições financeiras pode
pleitear a isenção dessa taxa.
Em todos esses países, no entanto, o ensino superior é fortemente dependente de financiamento do Estado. Isso porque as
taxas cobradas dos estudantes
não cobrem o custo do curso.
No Reino Unido, a taxa cobrada
representa cerca de 25% do custo
do curso. O restante vem de recursos do Estado ou de parcerias
com a iniciativa privada.
Modelo
Um modelo que se assemelha
ao que alguns setores defendem
no Brasil é o do Chile.
Nas universidades públicas chilenas, existem três tipos de estudantes: os que pagam mensalidades normalmente, como se fossem alunos de instituições privadas, os que recebem financiamento do Estado e uma minoria, mais
pobre, que estuda gratuitamente,
inclusive sem a necessidade de
pagar pelo estudo depois da conclusão do curso.
Mesmo no modelo norte-americano, onde há tradicionais universidades particulares com sistema de financiamento das mensalidades para os estudantes considerados carentes, os recursos estatais são parte importante do
sustento das instituições de ensino superior.
Pesquisa
Em 1986, o Departamento de
Estado dos Estados Unidos realizou uma pesquisa nas instituições
privadas e constatou que apenas
39% da receita dessas instituições
vinha da cobrança de mensalidades. O restante, segundo esse levantamento, era arrecadado por
meio de serviços prestados à iniciativa privada ou de financiamento estatal para pesquisa.
Nas universidades públicas que
cobram mensalidades nos Estados Unidos, uma pesquisa realizada em 1994 mostrou que o dinheiro recebido dos estudantes
respondia por apenas 18% das
fontes de recursos.
Segundo o assessor e coordenador de publicações da Unesco
(Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura), Célio da Cunha, a necessidade
de novas fontes de financiamento
para o ensino superior tem sido
discutida por praticamente todos
os países.
"Esse foi um dos principais temas da conferência sobre ensino
superior realizada pela Unesco
em 1998. No entanto, o documento final do encontro reconheceu
que é essencial o papel do Estado
no investimento nesse setor",
afirma Cunha.
Benefício
O coordenador de publicações
da Unesco diz também que, ao
analisar o gasto com o ensino superior, é preciso sempre levar em
conta seu benefício.
"Uma educação de qualidade,
seja básica ou superior, custa caro. Não se pode desprezar isso. O
que a Unesco considera essencial
é o papel do Estado nesse setor",
afirmou Cunha.
(ANTÔNIO GOIS)
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