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Prevenção e tratamento devem começar cedo
DA REPORTAGEM LOCAL
"As crianças têm vergonha de
vir ao consultório, de dizer que
vêm ao consultório. Quando dois
pacientes que frequentam a mesma escola se encontram na sala de
espera, sempre o mais tímido fica
envergonhado ao pensar que alguém mais sabe que ele precisou
vir ao médico porque é gordo."
O depoimento do endocrinologista Ricardo Marum, que tem
uma clínica para obesos de todas
as idades na Vila Nova Conceição
(bairro nobre na zona sul de São
Paulo), mostra um dos lados nefastos do problema: as questões
de auto-estima e aceitação.
Do outro lado, estão as complicações da saúde física. Elas vão do
desgaste nas articulações dos joelhos e quadris (por causa do excesso de peso) até as dificuldades
de aprendizado e concentração
em consequência de apnéia (parada na respiração) no sono.
Outras consequências são o
inevitável aumento precoce dos
níveis de colesterol e triglicérides
no sangue -que favorecem a
ocorrência de infartos e derrames- e possivelmente uma
maior suscetibilidade à incidência
de diabetes do tipo 2 (que surge
geralmente em pessoas adultas).
Tratamento
A prevenção e, se for o caso, o
tratamento devem começar o
mais cedo possível, de preferência
na primeira infância (até os cinco
anos), dizem os especialistas.
Isso porque, entre os seis e sete
anos de idade, as crianças passam
pela segunda grande multiplicação de células que armazenam
gordura -a primeira se dá até o
bebê fazer um ano. Se já possuem
uma predisposição genética e/ou
se alimentam de forma errada
nessa fase da vida, elas terão
maior possibilidade de desenvolver mais tecido adiposo, ou seja,
ficarão cada vez mais gordas.
Depois dos sete anos, as mulheres ainda ganham gordura naturalmente -sem precisar, para isso, comer mais- na puberdade e
na gravidez; os homens, por sua
vez, não passam mais por esse
processo, o que não significa que
não podem mais engordar, e sim
que isso será mais difícil.
Além da genética e dos erros na
alimentação, outro fator que leva
à obesidade infantil é o sedentarismo, aponta José Augusto Taddei, chefe da disciplina de nutrição e metabolismo do departamento de Pediatria da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo). Pesquisa realizada no âmbito da disciplina concluiu que
crianças que assistem a mais de
quatro horas de televisão por dia
têm chance 88% maior de se tornarem obesas, se comparadas
àquelas que ficam menos tempo.
O estudo, que envolveu cerca de
2.500 crianças entre sete e dez
anos de oito escolas públicas da
Vila Mariana (zona sul), identificou uma proporção de 12% de
obesos, o que surpreendeu os pesquisadores. "Pelos levantamentos
nacionais, esperávamos ter por
volta de 5%", afirma Taddei.
No Brasil, entre 1974 e 1997, a
prevalência de crianças entre seis
e nove anos com sobrepeso aumentou de 4,9% para 17,4%. O
aumento foi maior na classe alta
(de 3,2% para 21,3%), mas a obesidade tem se mostrado "democrática", segundo os especialistas,
por falta de informação e pelo fato
de os alimentos gordurosos serem, geralmente, mais baratos.
(MV)
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