UOL


São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SP 450

Na 1ª viagem, trem teria sido acionado remotamente pelo presidente, mas foi operador que pôs a composição em movimento

Sinal de Médici inaugurou o Metrô

KIYOMORI MORI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se depender da cena que foi presenciada à época, até hoje muitas pessoas podem imaginar que a inauguração oficial do metrô da cidade de São Paulo, ocorrida em 6 de setembro de 1972, significou um marco tecnológico revolucionário.
Ocorrida em pleno regime militar, a solenidade foi protagonizada pelo então presidente da República, general Emílio Médici (1969-1974). De um palanque montado junto à linha, no terminal Jabaquara, Médici acionou um botão, que teria feito o trem se mover remotamente. Mas não foi isso o que aconteceu. O botão fez apenas disparar uma campainha, o sinal para que o operador Antônio Lazarini, que conta essa história, movesse a alavanca que, esta sim, faria o veículo andar diante de uma platéia pela primeira vez.
Depois daquela solenidade, a operação da linha Santana-Jabaquara para os passageiros só iria acontecer dois anos depois, em 14 de setembro de 1974.
Tanto Lazarini quanto o trem que esteve na festa continuam em atividade. O trem é o de número 33 e pode ser visto diariamente na linha norte-sul. Já percorreu mais de 2,9 milhões de quilômetros, o que equivale a cerca de quatro viagens de ida e volta à Lua.
Ocupando atualmente o cargo de assistente da gerência de operações, Antônio Lazarini, 52, também não pensa em se aposentar. "Fiz minha vida profissional e conheci muito dos meus melhores amigos aqui", afirma ele. "Até mesmo minha mulher foi funcionária do Metrô", afirma.
Para Lazarini, a inauguração do metrô significou não apenas mais uma opção de transporte para a cidade, mas também um novo conceito de eficiência em matéria de transporte público, diferente do que até então era oferecido por ônibus e trens metropolitanos. "O Metrô evitou utilizar os termos "vagão" e "maquinista" para afastar qualquer vínculo com os trens metropolitanos, que funcionavam mal. Queríamos criar um novo conceito na cabeça do paulistano."
Lazarini entrou na história do Metrô por acaso. Nascido em Tabatinga (330 km a noroeste de São Paulo), ele veio para a capital com o objetivo de realizar teste para a Polícia Militar. Não foi aprovado, mas, depois, arrumou emprego na Varig, como mecânico de aviões.
Nesse emprego, surgiu a proposta para trabalhar no futuro metrô.
A presença do presidente Médici na inauguração oficial fez com que todos os funcionários que atuariam na operação passassem por investigação policial para verificar a presença de eventuais "subversivos".
"Era para o presidente viajar dentro do trem, mas por motivo de segurança ele ficou em um palanque, de onde acionou o botão", conta.
Segundo Lazarini, as pessoas acreditaram que o mecanismo acionou automaticamente o trem, o que seria um grande avanço tecnológico para a época. Mas, na verdade, apenas fez soar uma campainha dentro do vagão, o sinal para ele entrar em ação.
Nas semanas que antecederam a viagem inaugural, Lazarini e mais três operadores realizaram dezenas de testes para que nada desse errado no dia. "A primeira vez que entramos no túnel no Jabaquara foi emocionante. A gente ia passando devagar, com cuidado para ver se o trem não raspava nas paredes, com medo de que ele ficasse entalado."

Visite o site dos 450 anos de São Paulo na

www.folha.com.br/especial/2003/saopaulo450


Texto Anterior: Rave é proibida em Santa Catarina
Próximo Texto: Há 50 anos: ONU debate situação no Oriente Médio
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.