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CORTE E COSTURA
Ricardo Almeida, que faz ternos de Lula, Clô Orozco e Amir Slama propõem ao Estado modelo diferente de curso
Projeto quer escola de moda no Bom Retiro
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Juntar em um desfile os estilistas
Ricardo Almeida, que faz os ternos do presidente Lula, Clô Orozco (Huis Clos) e Amir Slama (Rosa Chá) não é tarefa fácil. Numa
escola de moda, então, parece improvável. E se a escola for no Bom
Retiro? Se você acha impossível,
jogue no lixo a sua bola de cristal.
O trio assina hoje um protocolo
com o governo do Estado de São
Paulo que dá início a um processo
que visa criar uma escola que quer
mudar o ensino de moda no país.
O plano dos estilistas é que a escola funcione no Bom Retiro,
bairro da região central de São
Paulo que é o epicentro da moda
popular no país, em um prédio de
1893. O edifício abrigou o Desinfetório Central da cidade, instituição que cuidava da desinfecção
das casas no início do século passado assim que acontecia por ali
um caso de doença epidêmica.
Atualmente, ele é dividido entre o
setor de transportes da Secretaria
de Estado da Saúde e o Museu
Emílio Ribas.
"Eu já tinha pronto um projeto
de escola de moda. Acho sensacional se ele puder ser implantado
no Bom Retiro porque o bairro
em si já é uma escola de moda",
afirma Ricardo Almeida. Se o plano der certo, o estilista será o diretor da unidade.
Além da escola
O projeto da Escola Superior de
Moda de São Paulo é uma iniciativa do Núcleo de Ação Empresarial do Projeto Bom Retiro, uma
organização não-governamental
(ONG) da qual fazem parte desde
estilistas até empresários, comerciantes e urbanistas.
O projeto apresentado é ambicioso: ele quer recuperar a malha
urbana do bairro e ao mesmo
tempo colocar a produção de moda das confecções de lá no compasso dos mercados globais, com
o foco na exportação.
"A escola deve ser a âncora do
projeto porque poderá repassar
novas tecnologias para as empresas", afirma o arquiteto Cleiton
Honório de Paula, diretor do Projeto Bom Retiro.
Ensino errado
Almeida teve o estalo de criar a
escola a partir de preocupações
mais modestas: acha que os cursos de moda ensinam de maneira
"totalmente errada."
"Quem gosta de criação tem o
olhar mais desenvolvido e não escuta direito. O negócio dela é o
olhar. As escolas estão erradas
porque privilegiam a fala", afirma
o estilista.
Clô Orozco diz sentir na pele a
falta de preparo dos estudantes
que saem das faculdades. "Os cursos são muito elementares. Os
alunos não aprendem a construir
uma roupa e não sabem como
funciona a indústria."
A ausência de aulas práticas nas
escolas é o maior dos problemas,
porém não é o único existente, de
acordo com Carlos Simões, consultor da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), que já deu aulas nas quatro faculdades de moda que existem em São Paulo.
"As faculdades e o mercado não
conversam e isso vai virar um desastre se não for corrigido. A mão
de obra formada não interessa ao
mercado", diz ele.
As faculdades formam estilistas
e gestores de produto, de acordo
com Simões, mas 90% das empresas são familiares e não têm recursos para contratar esses profissionais. É por isso que as confecções
do Bom Retiro exibem durante o
ano todo cartazes de "Precisa-se
de modelista".
Não dá para ser competitivo no
mercado externo de moda com
problemas tão elementares, acredita o consultor da Abit.
Outra prática que será adotada,
segundo Simões, é a mescla de
professores acadêmicos com profissionais. O modelo de escola que
planeja seguir é o do Goldsmiths
College, de Londres, no qual o
aluno trabalha no ateliê desde o
primeiro ano.
A idéia inicial é que a escola tenha cursos técnicos e de nível superior. O secretário de Ciência,
Tecnologia e Desenvolvimento
do Estado de São Paulo, João Carlos Meirelles, afirma, no entanto,
que seria uma diminuição imaginar mais uma escola técnica: "É
um conjunto de ensino que deve
responder às demandas da cadeira produtiva, que vá do fio à vitrine", afirmou o secretário.
Por sugestão dos empresários
do Bom Retiro, a escola deve ser
pública, mas não estatal. Num
modelo assim, os proprietários
das confecções poderiam bancar
parcialmente o projeto. Com a
parceria, evita-se também os entraves burocráticos do Estado para compra e oferta de cursos.
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