São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2004

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REBELDIA JUVENIL

Conflito entre estudantes de dois colégios tradicionais da capital paulista envolveu até a Polícia Militar

Briga de alunos deixa escolas em alerta

MAYRA STACHUK
DA REPORTAGEM LOCAL

Jovens de dois colégios tradicionais de São Paulo estão levando ao pé da letra a expressão "rebeldes sem causa". Formaram "gangues" e se enfrentaram em briga que envolveu até diretores das escolas e a Polícia Militar. O motivo? Nenhum. O resultado? Mobilização das equipes de segurança dos colégios, que seguem em alerta.
Os protagonistas do incidente, que se estendeu por três dias, eram alunos dos colégios Sion (onde estudou a prefeita Marta Suplicy) e Mackenzie. As escolas ficam bem próximas -em Higienópolis, centro de São Paulo-, e os jovens envolvidos cursam o ensino médio. Apesar de rivais, eles pertencem à mesma classe social e freqüentam os mesmos lugares, como shoppings e danceterias.
O que esfriou a confusão, dizem os jovens e os colégios, foi o feriado prolongado de 12 de outubro. Nem isso deixou as instituições tranqüilas: as diretorias mantêm a segurança atenta para evitar novos confrontos e mais feridos.

Olhar furioso
Tudo começou, segundo aluna do Sion, com um olhar enfezado entre um garoto do colégio e outro do Mackenzie em um shopping. Depois, teria havido farpas pelo ICQ (programa de internet de mensagem instantânea).
O primeiro enfrentamento foi para tirar satisfações, na quarta anterior ao feriado. Nove jovens do Sion foram ao encontro de alunos do Mackenzie na rua. O acerto acabou em pedradas -um garoto do Mackenzie teria sido ferido no nariz. No dia seguinte, cerca de cem pessoas, entre alunos do Mackenzie e jovens da Bela Vista (bairro da região), estavam em frente ao Sion para a revanche.
A diretora do colégio fechou os portões e chamou a Polícia Militar. Em nenhum dos casos, foi registrado boletim de ocorrência.
Nesta semana, questionados sobre o fato, a maioria dos alunos não sabia dizer o que motivou a briga. Uma estudante do Sion relembrou que houve conflitos menores há alguns meses por ciúme, quando surgiram pichações.
Mas a briga que mobilizou a PM e diretores já é passado para os alunos. Em geral, dão risada ao ouvir a palavra rixa. Preferem dizer que "era para pôr uns folgados em seus lugares". Nenhum dos entrevistados quis dizer se conhecia ou não os pivôs do episódio.
A direção do Sion considera o conflito encerrado, mas admite que foi grave. "Desavenças desse tamanho nunca tinham ocorrido", disse Luiza Maria Lisbôa Spessoto, coordenadora de comunicação. A direção acredita que a participação de pessoas de fora das escolas tenha ajudado a briga a tomar essa proporção. A unidade diz que já identificou e conversou com os envolvidos, mas não chamou os pais.
A assessoria do Mackenzie disse que a escola também acredita na influência de terceiros. Segundo o colégio, os alunos já foram orientados sobre o comportamento e a aceitação de provocações.
Para Cintia Freller, do Instituto de Psicologia da USP, especialista em adolescentes, brigas são normais entre jovens de 15 a 18 anos, um momento de desafios e dúvidas, com a agressividade mais latente. Mas ressalva: "Não se pode dizer apenas que é da idade. É claro que eles não precisam de motivos sérios para se rebelar, mas vêem a violência o tempo todo e acabam sendo influenciados".

Briga histórica
A mesma região já foi palco de uma briga histórica entre alunos, mas de ensino superior. Em 1968, confronto entre universitários da USP e do Mackenzie, na rua Maria Antônia, deixou um morto.
No dia 2 de outubro, alunos da USP pediam dinheiro para um congresso da UNE. Houve boatos de que queriam invadir o Mackenzie, que ofereceria resistência.
Gás lacrimogêneo, paus e pedras foram atirados. O aluno secundarista José Guimarães, 20, que ajudava a turma da USP, morreu com um tiro na cabeça.


Colaborou a Redação

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