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ANÁLISE
Insegurança e falta de debate
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A nova portaria do comando da
Polícia Militar de São Paulo coloca em choque duas questões que
deveriam estar em sintonia: a segurança da população e a segurança do próprio policial.
Se esses dois itens estão de lados
opostos, é porque existe algo muito errado. No centro de tudo isso,
está o Estado, que deveria zelar
pela segurança dos dois grupos.
Mais uma vez, os policiais e a população foram surpreendidos
com o anúncio.
Não houve debate. Entidades
representativas dos policiais desconfiaram do que iria acontecer.
Ouviram boatos, mas ninguém
do governo confirmou. A repercussão entre praças e soldados foi
a pior possível.
Dos prós e contras, os argumentos dos dois lados não são desprezíveis. A arma da corporação é a
mesma que o PM usa ao fazer "bicos" nos horários de folga. Não é
apenas para se proteger e proteger
a sua família. O PM também teme
perder o instrumento de seu trabalho extra-oficial.
Mas, por outro lado, o uso da arma no "bico" aumenta o risco de
ela cair em mãos erradas ou de ser
utilizada pelo próprio policial de
forma inadequada ou criminosa.
Em uma ação policial, a arma
empunhada pelo PM deveria ser
apenas mais um instrumento de
uma operação coordenada. No
"bico", o policial está sozinho e isso pode pesar na hora de atirar de
imediato ou de pensar duas vezes.
Mas a questão da segurança
pessoal de quem foi treinado para
garantir a segurança da população não pode ser desprezada.
Ações como reagir a um assalto a
ônibus no caminho de casa são
valorizadas pela corporação. Entram como louvor na folha do policial militar. Se não agir, pode ser
acusado de prevaricação. O Estado incentiva o policial 24 horas.
O medo do PM de morar na periferia, próximo de áreas mais
violentas, também não é encenação. Relatos de policiais que tiram
a farda para não se tornarem alvos potenciais são freqüentes.
Sem arma, podem ser alvos ainda
mais fáceis.
Apesar de ilegal, o bico passou a
ser tolerado. E ninguém discute
uma alternativa aos salários baixos da corporação. Enquanto isso, comerciantes, moradores e
policiais fazem acordos de segurança sem nenhuma fiscalização.
A nova portaria pode seguir o
mesmo caminho. Sem discussão,
podem surgir novos meios para
burlar a lei. Se o bico é tolerado,
outros "jeitinhos" administrativos podem ser adotados, sem resolver o problema.
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