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ADMINISTRAÇÃO
Empresário afirma que o rompimento entre o prefeito e seu padrinho político é "infantil"
Agora Yunes quer "recasar" Pitta e Maluf
CLEUSA TURRA
Secretária-assistente de Redação
O empresário Jorge Yunes, 66,
está às voltas com uma nova reconciliação. Depois de ter patrocinado o reencontro do casal Pitta,
que já estava às portas da Justiça,
busca agora a reaproximação entre Paulo Maluf e Celso Pitta.
Yunes recebeu a reportagem da
Folha em sua casa na sexta-feira,
na mesma sala do seu acervo de
obras sacras onde colocou frente
a frente o prefeito e sua mulher,
Nicéa. Sem cerimônias, desenvolto e falante, sugeriu ângulos para
o fotógrafo: "Fotografe minha
aliança".
Advogado de formação, proprietário da Companhia Editora
Nacional e do Ibep (Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas),
busca demonstrar desapego a títulos: "Uns me chamam de empresário, outros de doutor. Sou
um ser humano qualquer."
Talvez seja por isso que tenha
desembolsado US$ 3 milhões em
1986 para morar na sua casa atual
-hoje com 4.500 m2 de área
construída-, que já pertenceu ao
ministro Horácio Lafer -dos governos Getúlio Vargas e Juscelino
Kubitschek- e a Adolpho Bloch.
Yunes afirma ter se desligado de
90% das coisas que preocupam as
pessoas. Entre elas, do dinheiro.
Faz empréstimos financeiros generosos aos amigos, como fez a
Pitta (R$ 600 mil), sem pedir prazo de pagamento.
Fala sem rodeios da necessidade
de reforçar o caixa daqueles que
optam pela vida pública: "Política
implica gastos."
Uma coisa o incomoda: ser chamado de tesoureiro de campanha
malufista: "Nunca fui. Sou tesoureiro do partido". Um outra o intriga: "Como será a vida de um casal em que a mulher trabalha?"
Folha - Segundo rumores, a reconciliação do prefeito com a
mulher não teria ocorrido. Houve reconciliação?
Jorge Yunes - Uma reconciliação em que ambos choraram e
que depois o filho veio à tarde
agradecer. O Pitta já vinha deprimido com a ausência dela.
Folha - O sr. os procurou depois?
Yunes - Em hipótese alguma.
Daria a impressão de que eu...
"como é que vocês estão", entendeu? É uma questão de bom-tom.
Folha - O sr. conheceu o prefeito por ocasião da eleição?
Yunes - Não. Eu conheci a dona
Nicéa quando ela era corretora de
imóveis. Uma mulher de fibra, esperta e ágil. Para ser corretora,
não pode ser burra. Só conheci o
prefeito quando ele ingressou no
partido (PPB).
Folha - Como o sr. explica conseguir ficar acima das disputas
políticas do malufismo?
Yunes - Com quem eu convivo,
sempre procuro ser amigo e espero que eles possam ser meus amigos. Não brigo.
Folha - Nicéa Pitta diz que eles
foram desrespeitados pelo Maluf com a declaração na TV de
que o Pitta não tinha começado
bem.
Yunes - Uns são mais sensíveis,
outros menos. A grande arte na
política é você não ter memória.
Senão, você não pode fazer política. Porque o que dizem hoje, não
se diz amanhã.
"A grande arte
na política é
você não ter
memória.
Porque o que
dizem hoje não
se diz amanhã."
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Folha - O rompimento entre
Pitta e Maluf já estava delineado logo após as eleições?
Yunes - Absolutamente. O rompimento entre os dois não tem o
menor sentido. Nem pessoal,
nem político. Uma loucura. Eles
iam se acertar. O Duda Mendonça
(publicitário das campanhas de
Maluf) tinha lá sua opinião. Acho
que fez coisas que não deveriam
ser feitas. Por exemplo, o outdoor
(na campanha do Maluf para o
governo do Estado) com uma
mulher negra, desempregada e
parecida com o Pitta. Eu o alertei.
Era a cara do Pitta.
Duda no início era um sujeito
modestíssimo. Depois ele ficou
importante... Ele não gostou, me
perguntou se eu queria que ele colocasse uma loira.
Folha - O sr. acha que era uma
provocação?
Yunes - Acho que o Paulo, pessoalmente, nunca quis provocar o
Pitta. A separação de ambos é
uma loucura política.
Folha - Mas o sr. não acha que
o peso de um prefeito com avaliação péssima é um motivo?
Qual sua avaliação do prefeito?
Yunes - Dentro dos recursos
disponíveis, acho que a gestão é
boa. Ninguém administra sem dinheiro. É uma loucura a pressão
em cima do homem público. O
camarada pode enlouquecer na
vida pública.
Folha - Mas a administração
anterior era do Maluf. Os gastos
que foram feitos no final da administração dele não comprometeram a administração atual?
Yunes - Sob certos aspectos sim,
mas não prejudicaram São Paulo
porque os gastos de Maluf foram
em benefícios da cidade. Nas próximas eleições eles estarão novamente unidos. Eu disse hoje para
um deputado, vou tentar promover um encontro entre ambos.
Folha - O sr. vai promover nova reconciliação?
Yunes - O meu desejo seria esse.
Foi bobagem. Foram pequenas
coisinhas que foram ditas e que
foram tomadas com um pouco de
ardor. Já tinha sido até acertada a
ida do Pitta à casa do Maluf. Se
nós tivéssemos mais dois dias,
não teria havido esse distanciamento. Talvez os marqueteiros tivessem aquela ansiedade de criar
um certo distanciamento. Mas o
Paulo não. Nunca senti isso. Só
que aconteceu. Você põe a foto de
uma mulher com a cara do Pitta,
depois é uma declaração... Pequenas coisas se agigantaram.
Folha - O sr. acha que ainda há
tempo para essa reconciliação?
Yunes - Acho que ela é necessária. O rompimento foi infantil.
Folha - O sr. acha que o Maluf
ainda tem chance em cargo público?
Yunes - Não subestime a força
dele.
Folha - Quem está no páreo
para a Prefeitura de São Paulo?
Yunes - Primeiro, se for candidato, Paulo Maluf. Ele tem tradição. Outro bom candidato é o Geraldo Alckmin, meu amigo.
Émerson Kapaz tem uma possibilidade pequena.
Folha - Também é seu amigo?
Yunes - Meu amigo. Outro forte
candidato e muito preparado é o
Collor. Foi política a sua condenação.
Folha - É seu amigo também?
Yunes Não tenho nada para ser
inimigo dele. A Marta Suplicy já
está sofrendo um certo desgaste
aparecendo muito. Acho que ela
não ultrapassa os 20% do PT.
Folha - O sr. ajudou ou está
ajudando na permanência da filha do casal Pitta nos EUA?
Yunes - Não. Porque já fiz o empréstimo ao Pitta (R$ 600 mil).
Evidentemente ele não tem condições... está com os bens bloqueados. E ter uma posição política dá despesas mais do que as
normais. Você tem que se apresentar adequadamente, uma vez
ou outra dar um presente. Política
implica gastos.
"Você tem que se
apresentar
adequadamente
e, uma vez ou
outra, dar um
presente.
Política implica
gastos."
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Folha - Por que o sr. se dispõe
a ajudar um casal que tem cargo
público?
Yunes - Não estou entendendo
a sua pergunta.
Folha - A primeira-dama disse
que o sr. queria fazer uma doação, não um empréstimo.
Yunes - Já fiz doação para muita
gente. Se você pegar meu Imposto
de Renda, que foi bem investigado pela Promotoria Pública por
causa do empréstimo, você vai ver
que tem muita gente que me deve.
Quando empresto, eu digo para o
camarada: "Não tem prazo para
pagar". Agora, se você disser que
tem prazo, eu cobro.
Folha - O sr. não ambiciona
mais cargos públicos?
Yunes - Tem tanta gente melhor
do que eu. Não tenho voto.
Folha - O sr. prefere ter o poder nos bastidores?
Yunes - Não. Ao contrário.
Acho que é muito sacrifício ser
amigos dos políticos. As pessoas
pensam que eu tenho poder sobre
eles. O que me pedem são as coisas mais absurdas. É inacreditável. Se você me pedir para que eu
peça uma coisa justa, eu peço.
Mas não me peça para eu pedir
coisas que não sejam justas.
Folha - Quanto o sr. acha que
custa hoje uma campanha para
prefeito ou governador?
Yunes - Campanha é o seguinte:
depende daqueles que estão envolvidos com você em relação aos
gastos. Primeiro você tem que ter
arrecadadores de confiança. Muitas vezes em campanha o dinheiro vai para o bolso. Muitas vezes
tem gente que quer agradar a todo
mundo e não quer recibo. "Não
quero que apareça o meu nome, o
fisco vem em cima...". As pessoas
às vezes querem dar dinheiro por
fora.
Folha - Mas o sr. tinha controle
total quando tomava conta do
comitê.
Yunes - Nunca houve um centavo por fora. Nunca assinei um
cheque. Nunca fui tesoureiro de
campanha ou arrecadador. Sou
tesoureiro do partido. Na época
da campanha do Paulo a governador, eu era presidente do comitê
financeiro.
Folha - Então, qual era a função do sr. na campanha?
Yunes - Eu coordenava. Em
campanha, você precisa moralizar. Em comitê eleitoral aparece
malandro, vigaristas, prostituta.
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