São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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ADMINISTRAÇÃO
Empresário afirma que o rompimento entre o prefeito e seu padrinho político é "infantil"
Agora Yunes quer "recasar" Pitta e Maluf

CLEUSA TURRA

Secretária-assistente de Redação
O empresário Jorge Yunes, 66, está às voltas com uma nova reconciliação. Depois de ter patrocinado o reencontro do casal Pitta, que já estava às portas da Justiça, busca agora a reaproximação entre Paulo Maluf e Celso Pitta.
Yunes recebeu a reportagem da Folha em sua casa na sexta-feira, na mesma sala do seu acervo de obras sacras onde colocou frente a frente o prefeito e sua mulher, Nicéa. Sem cerimônias, desenvolto e falante, sugeriu ângulos para o fotógrafo: "Fotografe minha aliança".
Advogado de formação, proprietário da Companhia Editora Nacional e do Ibep (Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas), busca demonstrar desapego a títulos: "Uns me chamam de empresário, outros de doutor. Sou um ser humano qualquer."
Talvez seja por isso que tenha desembolsado US$ 3 milhões em 1986 para morar na sua casa atual -hoje com 4.500 m2 de área construída-, que já pertenceu ao ministro Horácio Lafer -dos governos Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek- e a Adolpho Bloch.
Yunes afirma ter se desligado de 90% das coisas que preocupam as pessoas. Entre elas, do dinheiro. Faz empréstimos financeiros generosos aos amigos, como fez a Pitta (R$ 600 mil), sem pedir prazo de pagamento.
Fala sem rodeios da necessidade de reforçar o caixa daqueles que optam pela vida pública: "Política implica gastos."
Uma coisa o incomoda: ser chamado de tesoureiro de campanha malufista: "Nunca fui. Sou tesoureiro do partido". Um outra o intriga: "Como será a vida de um casal em que a mulher trabalha?"

Folha - Segundo rumores, a reconciliação do prefeito com a mulher não teria ocorrido. Houve reconciliação?
Jorge Yunes -
Uma reconciliação em que ambos choraram e que depois o filho veio à tarde agradecer. O Pitta já vinha deprimido com a ausência dela.

Folha - O sr. os procurou depois?
Yunes -
Em hipótese alguma. Daria a impressão de que eu... "como é que vocês estão", entendeu? É uma questão de bom-tom.

Folha - O sr. conheceu o prefeito por ocasião da eleição?
Yunes -
Não. Eu conheci a dona Nicéa quando ela era corretora de imóveis. Uma mulher de fibra, esperta e ágil. Para ser corretora, não pode ser burra. Só conheci o prefeito quando ele ingressou no partido (PPB).

Folha - Como o sr. explica conseguir ficar acima das disputas políticas do malufismo?
Yunes -
Com quem eu convivo, sempre procuro ser amigo e espero que eles possam ser meus amigos. Não brigo.

Folha - Nicéa Pitta diz que eles foram desrespeitados pelo Maluf com a declaração na TV de que o Pitta não tinha começado bem.
Yunes -
Uns são mais sensíveis, outros menos. A grande arte na política é você não ter memória. Senão, você não pode fazer política. Porque o que dizem hoje, não se diz amanhã.


"A grande arte na política é você não ter memória. Porque o que dizem hoje não se diz amanhã."


Folha - O rompimento entre Pitta e Maluf já estava delineado logo após as eleições?
Yunes
- Absolutamente. O rompimento entre os dois não tem o menor sentido. Nem pessoal, nem político. Uma loucura. Eles iam se acertar. O Duda Mendonça (publicitário das campanhas de Maluf) tinha lá sua opinião. Acho que fez coisas que não deveriam ser feitas. Por exemplo, o outdoor (na campanha do Maluf para o governo do Estado) com uma mulher negra, desempregada e parecida com o Pitta. Eu o alertei. Era a cara do Pitta.
Duda no início era um sujeito modestíssimo. Depois ele ficou importante... Ele não gostou, me perguntou se eu queria que ele colocasse uma loira.

Folha - O sr. acha que era uma provocação?
Yunes
- Acho que o Paulo, pessoalmente, nunca quis provocar o Pitta. A separação de ambos é uma loucura política.

Folha - Mas o sr. não acha que o peso de um prefeito com avaliação péssima é um motivo? Qual sua avaliação do prefeito?
Yunes
- Dentro dos recursos disponíveis, acho que a gestão é boa. Ninguém administra sem dinheiro. É uma loucura a pressão em cima do homem público. O camarada pode enlouquecer na vida pública.

Folha - Mas a administração anterior era do Maluf. Os gastos que foram feitos no final da administração dele não comprometeram a administração atual?
Yunes
- Sob certos aspectos sim, mas não prejudicaram São Paulo porque os gastos de Maluf foram em benefícios da cidade. Nas próximas eleições eles estarão novamente unidos. Eu disse hoje para um deputado, vou tentar promover um encontro entre ambos.

Folha - O sr. vai promover nova reconciliação?
Yunes
- O meu desejo seria esse. Foi bobagem. Foram pequenas coisinhas que foram ditas e que foram tomadas com um pouco de ardor. Já tinha sido até acertada a ida do Pitta à casa do Maluf. Se nós tivéssemos mais dois dias, não teria havido esse distanciamento. Talvez os marqueteiros tivessem aquela ansiedade de criar um certo distanciamento. Mas o Paulo não. Nunca senti isso. Só que aconteceu. Você põe a foto de uma mulher com a cara do Pitta, depois é uma declaração... Pequenas coisas se agigantaram.

Folha - O sr. acha que ainda há tempo para essa reconciliação?
Yunes
- Acho que ela é necessária. O rompimento foi infantil.

Folha - O sr. acha que o Maluf ainda tem chance em cargo público?
Yunes -
Não subestime a força dele.

Folha - Quem está no páreo para a Prefeitura de São Paulo?
Yunes -
Primeiro, se for candidato, Paulo Maluf. Ele tem tradição. Outro bom candidato é o Geraldo Alckmin, meu amigo. Émerson Kapaz tem uma possibilidade pequena.

Folha - Também é seu amigo?
Yunes -
Meu amigo. Outro forte candidato e muito preparado é o Collor. Foi política a sua condenação.

Folha - É seu amigo também?
Yunes
Não tenho nada para ser inimigo dele. A Marta Suplicy já está sofrendo um certo desgaste aparecendo muito. Acho que ela não ultrapassa os 20% do PT.

Folha - O sr. ajudou ou está ajudando na permanência da filha do casal Pitta nos EUA?

Yunes - Não. Porque já fiz o empréstimo ao Pitta (R$ 600 mil). Evidentemente ele não tem condições... está com os bens bloqueados. E ter uma posição política dá despesas mais do que as normais. Você tem que se apresentar adequadamente, uma vez ou outra dar um presente. Política implica gastos.


"Você tem que se apresentar adequadamente e, uma vez ou outra, dar um presente. Política implica gastos."


Folha - Por que o sr. se dispõe a ajudar um casal que tem cargo público?
Yunes -
Não estou entendendo a sua pergunta.

Folha - A primeira-dama disse que o sr. queria fazer uma doação, não um empréstimo.

Yunes - Já fiz doação para muita gente. Se você pegar meu Imposto de Renda, que foi bem investigado pela Promotoria Pública por causa do empréstimo, você vai ver que tem muita gente que me deve. Quando empresto, eu digo para o camarada: "Não tem prazo para pagar". Agora, se você disser que tem prazo, eu cobro.

Folha - O sr. não ambiciona mais cargos públicos?
Yunes -
Tem tanta gente melhor do que eu. Não tenho voto.

Folha - O sr. prefere ter o poder nos bastidores?
Yunes -
Não. Ao contrário. Acho que é muito sacrifício ser amigos dos políticos. As pessoas pensam que eu tenho poder sobre eles. O que me pedem são as coisas mais absurdas. É inacreditável. Se você me pedir para que eu peça uma coisa justa, eu peço. Mas não me peça para eu pedir coisas que não sejam justas.

Folha - Quanto o sr. acha que custa hoje uma campanha para prefeito ou governador?
Yunes -
Campanha é o seguinte: depende daqueles que estão envolvidos com você em relação aos gastos. Primeiro você tem que ter arrecadadores de confiança. Muitas vezes em campanha o dinheiro vai para o bolso. Muitas vezes tem gente que quer agradar a todo mundo e não quer recibo. "Não quero que apareça o meu nome, o fisco vem em cima...". As pessoas às vezes querem dar dinheiro por fora.

Folha - Mas o sr. tinha controle total quando tomava conta do comitê.
Yunes -
Nunca houve um centavo por fora. Nunca assinei um cheque. Nunca fui tesoureiro de campanha ou arrecadador. Sou tesoureiro do partido. Na época da campanha do Paulo a governador, eu era presidente do comitê financeiro.

Folha - Então, qual era a função do sr. na campanha?
Yunes -
Eu coordenava. Em campanha, você precisa moralizar. Em comitê eleitoral aparece malandro, vigaristas, prostituta.


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