São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 2000

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VIOLÊNCIA
Policiais civis são contra a unificação com a PM; associação de delegados entrará na Justiça contra o projeto
Delegados do Rio decidem não fazer greve

PEDRO DANTAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Cerca de 200 delegados da Polícia Civil do Rio decidiram ontem, em assembléia, não entrar em greve, embora tenham votado por unanimidade pelo boicote ao projeto do governador Anthony Garotinho (sem partido) de unificar as Polícias Civil e Militar por meio do ISP (Instituto de Segurança Pública).
"A possibilidade de uma greve está descartada, pois não seria justo privar a população de um serviço essencial em um momento crítico", disse o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Rio, Pedro Paulo Pinho.
Com a presença de cerca de 120 delegados e representantes de entidades representativas de categorias profissionais da Polícia Civil e da PM, a assembléia decidiu recomendar a todos os delegados que não participem do ISP, mesmo em funções burocráticas.
Também ficou decidido que a Adepol (Associação dos Delegados de Polícia) entrará no STF (Supremo Tribunal Federal) com uma nova ação de inconstitucionalidade contra o projeto de unificar o trabalho de policiais civis e militares.
"O STF já decidiu em várias oportunidades que não pode se cobrar taxa de serviço de policiamento. O ISP quer sobreviver em função de taxas cobradas dos eventos", declarou o presidente da Adepol, Wladimir Reale.
Nomeado sexta-feira por Garotinho, o novo chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins, 33, enfrentou na assembléia a irritação dos colegas com o projeto de unificação.
Convidado pelo presidente da Adepol, Lins se negou a responder perguntas dos delegados, sob a alegação de que tinha problemas de agenda, e discutiu com Pedro Paulo Pinho, que questionou a constitucionalidade da unificação.
"Vai se retirar porque não sabe responder", disse Pinho ao chefe da Polícia Civil, que deixava o local. O presidente do sindicato classificou Lins de "arrogante e mau colega".
"Vim à assembléia para fazer uma explanação sobre o ISP. A arguição de inconstitucionalidade vai ser apreciada pelo STF", afirmou Lins.
Segundo ele, não haverá punição aos policiais que não aderirem ao ISP, porque a inscrição no projeto seria voluntária.
"Caso nenhum delegado se inscreva no ISP, o governador tomará outra atitude. Não podemos obrigar o policial a aderir. Não há necessidade de greve nem de atritos", disse Lins.
Sobre a discussão com o presidente do sindicato, Lins disse que o objetivo de Pedro Paulo Pinho é o de questionar sua capacidade e idade para o cargo. Disse ainda que o sindicato não representa a categoria.
"Pinho ficou 72 dias à frente da Polinter e efetuou apenas três prisões. No mesmo período, cumpri 59 mandados", afirmou Lins.
Os delegados ironizavam a todo momento o uso de uniformes, medida prevista para a categoria no projeto do ISP.
"É uma sandice totalmente contrária ao trabalho de investigação", afirmou Zaqueu Teixeira, titular da 37ª DP (Delegacia de Polícia), que teve atritos recentes com o secretário de Segurança durante a apuração da morte da diretora do presídio Bangu 1, Sidneya dos Santos de Jesus.


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