São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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CRIME ORGANIZADO

Delegados e promotores evitam falar em fim da facção e admitem que líderes podem ser substituídos

Polícia de SP anuncia "falência" do PCC

Frâncio de Holanda/Folha Imagem
Godofredo Bittencourt, diretor do Deic, mostra organograma do Primeiro Comando da Capital


GILMAR PENTEADO
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em tom de comemoração e ironia, a polícia anunciou ontem que o PCC (Primeiro Comando da Capital), facção responsável pela megarrebelião em presídios em 2001, é hoje uma "organização falida e desmantelada". Mas a própria polícia evita falar em fim da facção e admite que os líderes podem ser substituídos, como ocorreu nos últimos seis meses.
A suposta derrota da facção foi propagada ontem pelo Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado) e pelo Ministério Público. A estratégia foi a mesma usada em maio: isolar líderes -o que não evitou novos atentados desde então.
O depoimento do ex-líder do PCC José Márcio Felício, o Geleião, que delatou operações, assassinatos e identificou outras lideranças, serviu de base para o novo ataque à facção criminosa. Geleião está ameaçado de morte e teria passado informações em troca de proteção e benefícios para ele e para sua mulher, Petronilha Felício.
A partir do relato de Geleião, 16 líderes atuais serão indiciados por formação de quadrilha e isolados em presídios com RDD (Regime Disciplinar Diferenciado).
"O PCC é uma organização falida e desmantelada", afirmou o diretor do Deic, Godofredo Bittencourt. "Presos do PCC choraram aqui porque estavam próximos de receber uma progressão da pena e vão ficar mais alguns anos da cadeia. Se o PCC tinha uma boca cheia de dentes, agora tem um dentinho ali e outro lá. Não morde mais ninguém."
Mas a polícia admite que o controle da facção exigirá uma ação permanente. Em maio deste ano, uma operação semelhante isolou os principais líderes na época e um organograma do PCC foi montado pela primeira vez.
Seis meses depois, líderes foram substituídos. Da primeira lista de 60 nomes, apenas oito permanecem. Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, continua no topo da hierarquia.
Mas Geleião e Cesar Augusto Roris da Silva, o Cesinha, perderam poder e estão jurados de morte. A queda ocorreu depois de um racha entre uma ala radical e outra moderada.
"Os líderes são substituídos rapidamente. É preciso um trabalho constante de manutenção para impedir que a facção volte a crescer", afirmou o promotor Roberto Porto, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).
Em maio, a polícia desconhecia a ação dos "pilotos" -espécie de coordenadores da facção em cada presídio. O "piloto" é fundamental para o cumprimento das ordens do PCC nas cadeias.
Bittencourt evitar falar em fim do PCC. "Se voltarem [a agir], vai ser mais difícil que as lideranças atuem no sistema", disse o delegado, que comparou o PCC ao time do Palmeiras. "O PCC é como o Palmeiras, está na segunda divisão, mas pode voltar."
Além de renovar suas lideranças desde maio, o PCC fez ataques à Polícia Militar -um provocou a morte de um PM em Campinas- , ordenou assassinatos de integrantes da facção e de funcionários do sistema prisional e preparou um atentado contra a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), que foi descoberto antes de os explosivos serem usados.
Essas ações foram detalhadas por Geleião. O depoimento dele foi usado para para anunciar o esclarecimento de nove atentados e 19 assassinatos. O delegado Rui Ferraz Fontes, do Deic, negou que esse depoimento esteja sendo valorizado demais pela polícia. "Trechos dele foram confirmados nas investigações", disse.


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