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CRIME ORGANIZADO
Delegados e promotores evitam falar em fim da facção e admitem que líderes podem ser substituídos
Polícia de SP anuncia "falência" do PCC
Frâncio de Holanda/Folha Imagem
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Godofredo Bittencourt, diretor do Deic, mostra organograma do Primeiro Comando da Capital |
GILMAR PENTEADO
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em tom de comemoração e ironia, a polícia anunciou ontem que
o PCC (Primeiro Comando da
Capital), facção responsável pela
megarrebelião em presídios em
2001, é hoje uma "organização falida e desmantelada". Mas a própria polícia evita falar em fim da
facção e admite que os líderes podem ser substituídos, como ocorreu nos últimos seis meses.
A suposta derrota da facção foi
propagada ontem pelo Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado) e pelo
Ministério Público. A estratégia
foi a mesma usada em maio: isolar líderes -o que não evitou novos atentados desde então.
O depoimento do ex-líder do
PCC José Márcio Felício, o Geleião, que delatou operações, assassinatos e identificou outras lideranças, serviu de base para o
novo ataque à facção criminosa.
Geleião está ameaçado de morte e
teria passado informações em
troca de proteção e benefícios para ele e para sua mulher, Petronilha Felício.
A partir do relato de Geleião, 16
líderes atuais serão indiciados por
formação de quadrilha e isolados
em presídios com RDD (Regime
Disciplinar Diferenciado).
"O PCC é uma organização falida e desmantelada", afirmou o diretor do Deic, Godofredo Bittencourt. "Presos do PCC choraram
aqui porque estavam próximos
de receber uma progressão da pena e vão ficar mais alguns anos da
cadeia. Se o PCC tinha uma boca
cheia de dentes, agora tem um
dentinho ali e outro lá. Não morde mais ninguém."
Mas a polícia admite que o controle da facção exigirá uma ação
permanente. Em maio deste ano,
uma operação semelhante isolou
os principais líderes na época e
um organograma do PCC foi
montado pela primeira vez.
Seis meses depois, líderes foram
substituídos. Da primeira lista de
60 nomes, apenas oito permanecem. Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, continua no
topo da hierarquia.
Mas Geleião e Cesar Augusto
Roris da Silva, o Cesinha, perderam poder e estão jurados de
morte. A queda ocorreu depois de
um racha entre uma ala radical e
outra moderada.
"Os líderes são substituídos rapidamente. É preciso um trabalho
constante de manutenção para
impedir que a facção volte a crescer", afirmou o promotor Roberto Porto, do Gaeco (Grupo de
Atuação Especial de Repressão ao
Crime Organizado).
Em maio, a polícia desconhecia
a ação dos "pilotos" -espécie de
coordenadores da facção em cada
presídio. O "piloto" é fundamental para o cumprimento das ordens do PCC nas cadeias.
Bittencourt evitar falar em fim
do PCC. "Se voltarem [a agir], vai
ser mais difícil que as lideranças
atuem no sistema", disse o delegado, que comparou o PCC ao time do Palmeiras. "O PCC é como
o Palmeiras, está na segunda divisão, mas pode voltar."
Além de renovar suas lideranças desde maio, o PCC fez ataques
à Polícia Militar -um provocou a
morte de um PM em Campinas-
, ordenou assassinatos de integrantes da facção e de funcionários do sistema prisional e preparou um atentado contra a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), que foi descoberto antes de os
explosivos serem usados.
Essas ações foram detalhadas
por Geleião. O depoimento dele
foi usado para para anunciar o esclarecimento de nove atentados e
19 assassinatos. O delegado Rui
Ferraz Fontes, do Deic, negou que
esse depoimento esteja sendo valorizado demais pela polícia.
"Trechos dele foram confirmados
nas investigações", disse.
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