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BENEFÍCIO PARA POUCOS
Menos de um terço das famílias que ganham até três salários mínimos recebe desconto na tarifa
Subsídio ao transporte tem alcance limitado
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os subsídios ao transporte coletivo não atingem atualmente de
maneira eficaz a população de
baixa renda das principais concentrações urbanas do país.
Na região metropolitana de São
Paulo, 67,4% dos que têm renda
familiar de até três salários mínimos (R$ 720) não recebem nenhum auxílio para a condução
-vale-transporte, dinheiro, isenção ou desconto. Na de Recife, esse índice atinge 76,8%. Nas do Rio
e de Belo Horizonte, 62,8% e
70,5%, respectivamente.
Os resultados constam da pesquisa Mobilidade e Pobreza, cuja
fase quantitativa foi concluída
neste mês pelo Itrans (Instituto de
Desenvolvimento e Informação
em Transporte) e que será apresentada oficialmente na semana
que vem na capital paulista.
Os indicadores, na avaliação do
presidente da ONG, Maurício Cadaval, demonstram a ineficácia
dos sistemas existentes hoje para
subvencionar os deslocamentos
das pessoas mais pobres -já que
há altos índices de desemprego e
de informalidade nesses grupos.
A maioria dessa população tem
de tirar dinheiro do próprio bolso
para bancar as passagens. O resultado é que, para evitar as altas tarifas, 25,5% das viagens dos moradores de baixa renda da Grande
São Paulo são feitas a pé -considerando apenas os deslocamentos superiores a 15 minutos, ou seja, mais de 1,2 km de caminhada.
Praticamente um terço dos moradores com renda familiar de até
R$ 720 nessa região metropolitana diz adotar estratégias não-convencionais para economizar com
a condução. As principais delas,
citadas por 70,6% e 40%, respectivamente, é a compra de passes
mais baratos e de vale-transporte
de segunda mão -geralmente
em bancas clandestinas, que dão
descontos nos bilhetes comprados com deságio dos trabalhadores que recebem esse benefício
mesmo sem utilizá-lo.
"O vale-transporte está sendo
dado, muitas vezes, para quem
não precisa dessa forma de condução. E quem realmente precisa
está correndo atrás do mercado
paralelo", afirma Cadaval.
"Existe a necessidade de pensar
em formas de ampliação do benefício, para incluir os mais pobres",
defende Marcos Bicalho, diretor-superintendente da NTU (Associação Nacional das Empresas de
Transportes Urbanos), citando
como alternativas os subsídios diretos a desempregados, com a inclusão do vale-transporte nos
projetos de seguro-desemprego.
A pesquisa quantitativa do
Itrans foi precedida de um estudo
qualitativo, cujos resultados foram divulgados em agosto -e
que apontavam para a estratégia
da população pobre de andar a pé
ou de bicicleta para economizar.
Em cada uma das quatro regiões
metropolitanas foram realizadas
entrevistas em 400 domicílios.
A exclusão da população de baixa renda das subvenções do
transporte coletivo compromete
sua mobilidade, já que ela não
costuma ter acesso ao transporte
individual de carro e geralmente
vive em bairros periféricos, distantes dos centros de emprego.
A mobilidade é medida pela
quantidade de deslocamentos em
um dia. A pesquisa do Itrans mostra que, entre os que ganham até
três salários mínimos por mês, a
média não chega muitas vezes a
uma viagem diária por habitante
-nos dias úteis, é de 0,88 em São
Paulo, 0,90 em Belo Horizonte e
de 0,86 em Recife. Esse dado exclui apenas os trajetos a pé com
duração inferior a 15 minutos.
Dados preliminares de uma
pesquisa do Metrô paulista feita
em 2002, em contrapartida, apontam que, entre os segmentos mais
ricos, com renda familiar superior
a 20 salários mínimos, essa média
atinge três deslocamentos diários.
A baixa mobilidade dos mais
pobres é um indicativo da privação de acesso a serviços de educação, saúde e lazer. Não é à toa que,
na Grande São Paulo, mais de
80% das viagens desses moradores (estimados em 4,6 milhões, ou
26,7% da população total) têm como únicos motivos trabalhar, estudar ou procurar emprego.
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