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Delegado ataca menina presa com homens; "é débil"
Frase irrita a governadora Ana Júlia; após crítica, delegado diz que não se "expressou bem"
Lula manda Ministério da Justiça antecipar a liberação de R$ 89 milhões para investimentos na área
de segurança no Pará
Alan Marques/Folha imagem
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Governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, discute com delegado-geral Raimundo Benassuly, que chamou menina de débil mental |
JOHANNA NUBLAT
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em mais uma tentativa de
desqualificar a menina L., mantida presa com homens no Pará
durante 26 dias, o delegado-geral da Polícia Civil do Estado,
Raimundo Benassuly, disse ontem que ela tinha "debilidade
mental". "Essa moça tem, com
certeza, alguma debilidade
mental, porque em nenhum
momento ela manifestou sua
menoridade", disse, durante
audiência pública para discutir
o caso no Senado.
Autoridades locais alegam
que L. disse ser maior de idade
e, por isso, não foi encaminhada a instituições próprias para
menores. Em vez disso, ficou
presa em uma cela comum de
Abaetetuba, com homens, que,
segundo ela, a violentaram.
Mas ele não entrou no mérito
de a Lei de Execuções Penais
proibir também que mulheres
dividam a mesma cela com presos nem no fato de a polícia não
ter checado a informação.
No momento da declaração
do delegado, estavam na mesa a
secretária de segurança pública
do Pará, Vera Tavares, o promotor de justiça do Pará Gilberto Valente, o presidente da
OAB, Cezar Britto, e o presidente da Comissão de Direitos
Humanos do Senado, Paulo
Paim (PT-RS). Nenhum deles
se manifestou sobre a frase.
Na saída, Paim e Britto se disseram contra a declaração. "Ele
foi muito infeliz, foi o fim da picada, isso agrava mais ainda a
situação", disse Paim.
A frase do delegado irritou a
governadora Ana Júlia Carepa
(PT), que chegou ao local depois da declaração. Ao sair da
audiência, ela chegou a discutir
rapidamente com o delegado-geral, com quem cruzou no corredor, e depois, aos jornalistas,
disse que a frase era um "absurdo". "É um absurdo, não vamos
tolerar. Não tem justificativa
nenhuma, nenhuma, jamais."
Pouco depois, Benassuly disse que se referia a um possível
abalo psicológico da menina.
"Não me expressei bem, nossa
preocupação era com o estado
psicológico e mental dela. Fiquei preocupado, imagina o
que significa ser violada todo
dia por vários homens?"
Ele confirmou que, entre a
primeira e a segunda declaração, recebeu um telefonema da
governadora. "Ela ficou certamente chateada, mas expliquei
a ela que não tinha me expressado da forma correta."
Pouco depois, após encontro
com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva no Palácio do Planalto, Ana Júlia classificou como "inadmissíveis" as declarações do delegado, mas disse que
qualquer atitude em relação a
Benassuly será decidida no Pará. "Vou conversar com ele para
pedir explicações". Benassuly é
delegado concursado, mas foi
indicado ao cargo de delegado-geral pela governadora.
Na audiência, o deputado federal Neucimar Fraga (PR-ES)
disse, na CPI do Sistema Carcerário, que ouviria ainda ontem
a menina, dando a entender
que ela estaria na cidade.
Mas o ministro Paulo Vannuchi (Secretaria Especial de Direitos Humanos) afirmou, no
entanto, que a menina teria dito que não conseguiria falar do
assunto, pois estaria abalada.
No final da tarde, a secretaria
informou que L. não será ouvida pela CPI e que ela se encontra em outro Estado desde sábado, após passar por Brasília.
O encontro com Lula rendeu
R$ 89 milhões para a área de segurança no Pará, disse Ana Júlia. Ela afirmou que "o presidente determinou ao Ministério da Justiça que nos dessem
todo o apoio institucional, financeiro e político".
A quantia já estava prevista
no Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com
Cidadania), mas a liberação será antecipada para suprir as necessidades "emergenciais".
Colaborou LEILA SUWWAN, da Sucursal de
Brasília
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