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"Faltou pulso", diz pai de agressor da Paulista
O ator e diretor admite falha e conta que filho está morrendo de vergonha
Filho mal fala, diz ele; "É um homenzarrão, mas só chora. Nunca gostou de briga, é da paz. Foi massacrado"
ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO
Pai de um dos cinco jovens
que protagonizaram cenas
de violência na Paulista há 15
dias, o ator e diretor de 43
anos (que juridicamente não
pode ser identificado) escolheu um café na mesma avenida para falar à Folha sobre
as repercussões do episódio
em sua família.
Ele se sente culpado, acha
que precisa colocar limites,
mas defende o filho. "Ele é da
paz, foi massacrado."
Folha - Como está seu filho?
Massacrado. Ele mal fala.
É um homenzarrão, mas só
chora. Nunca gostou de briga, é da paz. Estuda pela manhã, trabalha à tarde e sai no
final de semana, como qualquer adolescente. Tem uma
namorada. Naquele final de
semana, coincidiu de ela estar viajando e os amigos de
verdade também.
Ele não é amigo dos outros
agressores?
Ele conhece esses garotos
da balada. Não são do mesmo colégio. Meu filho estuda
em escola pública. Criou-se
essa imagem que são todos
burgueses, mauricinhos.
Meu filho nunca foi de tribo.
Quem dera sermos de classe
alta, burgueses. Outros podem ser, mas não sei, não os
conheço. Somos de classe
média, ando de ônibus.
O que ele conta do episódio?
Não foi meu filho que pegou a lâmpada. Ele diz que
escutou o barulho e viu a porrada comendo. Aparece no
primeiro vídeo, mas se afasta. Cada um tem que responder pelo que fez. Erraram e
vão pagar pelos seus erros.
Pelo que vem passando desde o episódio, meu filho já está pagando. É uma lição como nenhuma outra.
E a questão da homofobia?
Isso não existe. Meu filho
não é homofóbico. Sou do
meio artístico, meus filhos
foram criados com homossexuais dentro da minha casa.
Vários amigos gays me ligaram e disserem que, se precisar, depõem a favor dele.
O que você tem a dizer às vítimas?
Desculpas. Lamento o
ocorrido. Meu filho não tem
preconceito. Lá em casa convivemos com pessoas com diferentes opções sexuais.
Ele se envergonha de ter participado das agressões?
Ele está arrependidíssimo,
morrendo de vergonha. Não
saiu mais de casa. Ficou numa espécie de prisão domiciliar. Ninguém acredita que
um menino como ele poderia
se envolver em algo assim.
Que questões o senhor se colocou como pai?
Várias. Como pai e como
educador. Onde eu errei? Faltou limite? Eu devia estar
mais presente?
Já encontrou as respostas?
Sim. Tenho que rever muitas coisas. Quero impor mais
limites. Esse episódio foi um
divisor de águas. Meu filho e
os dos outros também saíram
um pouco do controle. Faltou pulso. É aquela coisa de
querer ser moderno demais e
respeitar a liberdade deles.
Temos que olhar mais com
quem ele anda, andou. Meu
filho sempre foi responsável.
Só que um dia a casa caiu.
Como o senhor se sente?
Estou com sentimento de
culpa. Sou um homem feito,
meu filho tem 17 anos. Estou
aqui tomando café na Paulista, enquanto ele tá internado
na Fundação Casa, não sei
com quem. Tive uma doença
grave e doeu mais entregá-lo
à Justiça hoje do que quando
o médico disse: "Você vai
morrer". Sobrevivi. Mas essa
dor de hoje é incalculável.
O que você achou das análises sobre o caso?
Sim. Teve muitas opiniões
coerentes, que me confortaram. Profissionais que olharam para o fato de maneira
crítica, mas sem execrar os
jovens. A vida dos meninos
não pode acabar. Eles têm
apenas 16, 17 anos.
Como lidou com a repercussão do episódio?
Quando ouço as pessoas
falando do caso, dá vontade
de dizer: "Não foi assim, calma". Vivi várias situações na
rua, no ônibus, no metrô e
até da parte dos meus alunos, onde dou aula. Tem
uma parte da imprensa que
ajuda a criar esse clima.
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