São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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ANÁLISE

No Rio de Janeiro, trava-se uma guerra de continuação


SÃO TRÊS OS ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS À VITÓRIA: DETERMINAÇÃO POLÍTICA, COMPETÊNCIA DOS EXÉRCITOS E APOIO DA POPULAÇÃO


JOAQUIM FALCÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mas afinal que guerra se está travando no Rio de Janeiro? Guerras não são iguais. Existe a de vencer e a de continuar.
A vitória da de vencer seria terminar com o tráfico de drogas. É impossível. Não existe em lugar nenhum do mundo.
A vitória da guerra de continuar é controlar o tráfico. O que significa isso? Em vez de os traficantes usarem fuzis e armas pesadas, usarem pistola. Em vez de ocuparem territórios, trabalharem em rede. Como em todo o mundo.
Seja guerra para vencer ou continuar são três os elementos indispensáveis à vitória: determinação política, competência dos exércitos e apoio da população. É o que diz qualquer manual sobre guerra há mais de 300 anos.
Quando falta um desses elementos, a vitória fica mais longe. Por isso os traficantes sempre procuraram o apoio das comunidades, com um mix de repressão e violência, cooptação e distribuição de benefícios. Os EUA perderam a guerra do Vietnã quando sua população ficou contra o governo e seus exércitos.
Na conquista do apoio da população entra o papel da mídia, a força, literalmente, da imagem. Guerra se ganha com embate físico e dissuasão psicológica. Sem esta, aquele fica mais penoso. A mídia pode atuar como dissuasão ou incentivo à guerra.
Quando o comandante, o coronel e o policial falam na TV, eles falam para o público e para o tráfico. Apaziguar e dissuadir.
A imagem dos traficantes como um exército em fuga foi a principal vitória da semana. Forte suficiente para transmitir às comunidades e à população nacional e internacional a mensagem de que o Estado tem a capacidade de retomar territórios e neles implantar a Constituição.
No mesmo sentido, a estratégia dos traficantes de queimar automóveis e ônibus pode influenciar a população de duas maneiras distintas. O de amedrontá-la e conseguir o apoio pelo pânico; ou causar indignação e provocar efeito reverso: jogá-la nos braços e no apoio da polícia.
Neste momento, o governo do Rio parece ter os três elementos básicos da vitória. Na avaliação da competência não basta a vitória física. É preciso parecer vencedor. Outra vez um espaço para a mídia. Os blindados da Marinha e os paraquedistas do Exército pareceram vencedores.
Mesmo assim continuará intacto o motor principal que rearma os exércitos em fuga e revitaliza o tráfico: os bilhões de reais que circulam neste business. Enquanto a guerra não for travada também em campos econômicos, continuará. Será sempre a ordem do Estado contra o lucro do traficante.
Uma das estratégias para combater a lucratividade desse negócio seriam novas mudanças legislativas e policiais sobre a penalização do consumo. Mas para essa batalha ainda não se tem o apoio da população, nem da maioria da mídia.


JOAQUIM FALCÃO é professor de direito da Fundação Getulio Vargas


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