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Maconha plantada em casa
vira "ativismo" contra o tráfico
Plantador pode ser indiciado por tráfico; pena chega a 15 anos
TARSO ARAUJO
DE SÃO PAULO
O estudante de direito Beto, 22, mora desde a infância
no Complexo da Penha, área
de favelas no Rio invadida na
última quinta-feira pela polícia na atual ofensiva contra o
tráfico de drogas.
Usuário de maconha desde os 15, ele comprou sua
droga em bocas de fumo por
anos. Até resolver plantar. "É
bom saber que não estou alimentando bandido", diz.
Rita, 30, fumante desde os
22, aderiu por motivo parecido. "Fui atendida por uma
criança em uma boca de fumo e decidi não fazer parte
do esquema doentio que é o
tráfico. Plantio representa redução de danos sociais", diz.
A julgar pelo tamanho de
uma comunidade on-line sobre cânabis, com informações sobre plantio em português, Beto e Rita não estão
sozinhos. Há 35 mil cadastrados, 90% deles brasileiros
adeptos do slogan lançado
em 1995 pela banda Planet
Hemp: não compre, plante.
Em 2007, o filme "Tropa de
Elite", cujos protagonistas
culpavam "playboys maconheiros" pelo tráfico, impulsionou ainda mais a ideologia da produção própria.
CRIME
De acordo com a Lei de
Drogas, plantar é crime. Mas,
se o cultivo é para consumo
próprio, o réu deve ser tratado como usuário e receber as
penas previstas no artigo 28
-que não incluem a prisão.
Para tráfico, a pena é de
cinco a 15 anos de reclusão.
Mas a lei não faz distinção
objetiva entre usuários e traficantes. "A quantidade é o
principal parâmetro. Mas é
subjetivo", afirma o desembargador Antônio Sérgio
Coelho de Oliveira.
Dados de 2005 do Cebrid
(Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), os mais recentes
disponíveis, mostram que há
4,5 milhões de pessoas que
usam maconha no Brasil.
Para o sociólogo da UFRJ
Michel Misse, que pesquisa o
tráfico, quem planta pode até
aliviar a consciência, mas
não influi na dinâmica do crime. "Os traficantes reconhecem que a maconha não é tão
importante. A cocaína movimenta mais dinheiro", diz.
No Rio, a maconha responde por cerca de 17% do faturamento do tráfico.
Para o sociólogo Renato
Cinco, ativista da Marcha da
Maconha (movimento pró-legalização), plantar sua droga
é um "ato político". "Quando
o usuário compra está bancado o tráfico. Mas o grande financiador é a lei que proíbe."
Os nomes dos plantadores são fictícios
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