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1ª cadeia de SP não tinha muro
da Reportagem Local
Você consegue imaginar uma
prisão sem muros, cercas de arame
farpado e muralhas com guardas
armados, onde os presos ficam separados da sociedade apenas pela
grade da janela?
É muito difícil imaginar, mas era
assim que viviam os presos da Cadeia da Cidade de São Paulo, a primeira prisão paulistana, criada
por uma lei imperial de 1º de outubro de 1828.
A descrição de como era a vida
nessa pioneira prisão é feita na tese
de doutorado em sociologia defendida na USP (Universidade de São
Paulo), "O Encarceramento em
São Paulo: das Enxovias à Penitenciária do Estado", escrita pelo professor Fernando Afonso Salla.
O trecho que fala especificamente das janelas é extraído do relatório da visita feita por uma comissão de deputados à cadeia, em
1833. No relatório, é sugerido, pela
primeira vez no Brasil, que uma
prisão seja cercada por um muro.
"Seria necessário que a comunicação para fora não se pudesse fazer de maneira que possa deixar de
ser inspecionada. As janelas para a
rua têm esse inconveniente, mas
não podendo deixar elas de subsistir por causa da luz e do ar, seria
necessário cercar a prisão com um
muro em roda, deixando um pátio
intermediário", descreve um trecho do relatório. Os muros foram
erguidos no ano seguinte à elaboração do relatório.
Passado e presente
Outros relatórios sobre a cadeia
apontam problemas comuns até
hoje nas prisões brasileiras: superlotação, mistura de condenados e
presos à espera de julgamento, espancamentos, falta de assistência
médica e falta de higiene.
Diz o professor Salla que, desde
aquela época, a cadeia já não cumpria sua função de recuperar os
presos e reintegrá-los à sociedade.
Com a Proclamação da República, o Código Penal de 1890 e o surgimento de novas teorias sobre
criminologia, esse espelho de sistema prisional refletido na Cadeia
de São Paulo tenderia a mudar.
O maior exemplo de mudança
seria a construção de grandes locais apropriados para a recuperação de presos, como a Penitenciária do Estado, no Carandiru (zona
norte de SP), inaugurada em 21 de
abril de 1920.
Mas, nos anos seguintes à inauguração, escândalos envolvendo
funcionários, castigos físicos e
condenação de pessoas inocentes
mancharam precocemente a imagem do novo modelo.
(OC)
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