São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 2002

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PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Pavilhão no Pacaembu, que já foi asilo para crianças abandonadas, abrigará museus de faculdade da USP

Escola de medicina abrirá centro cultural

Tuca Vieira/Folha Imagem
Escadaria central do prédio da Faculdade de Medicina da USP (zona oeste da capital paulista), que está começando a ser restaurado


AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um pavilhão encravado no bairro nobre do Pacaembu (zona oeste de São Paulo) e que já foi asilo para crianças abandonadas será transformado no centro cultural da Faculdade de Medicina da USP e numa porta aberta da escola para a comunidade.
A área vai abrigar os vários museus da faculdade e terá uma programação cultural e cursos para médicos e moradores.
São 46.000 m2 povoados de jaboticabeiras e árvores nativas, e um gigantesco casarão de 8.000 m2 que leva a assinatura do escritório do arquiteto Ramos de Azevedo (1851-1928). Com três alas à direita e três à esquerda, todas interligadas, e uma capela no meio, o prédio está tombado desde 98 pelo Condephaat, órgão de preservação do Estado de São Paulo.
O espaço pertence à Fundação Faculdade de Medicina e foi comprado em 98 do governo do Estado numa operação que não contou com o aval de boa parte dos membros da fundação.
O imóvel de R$ 22,5 milhões -preço pago na época- não teve um uso adequado até que a fundação optou por vendê-lo. Sem uma oferta que valesse a pena, a nova direção da Faculdade de Medicina decidiu por dar ao espaço um uso mais comunitário.
"Concluímos que a venda desse prédio de valor histórico e cultural para a cidade não reverteria em benefício para a comunidade", diz Giovanni Guido Cerri, diretor da Faculdade de Medicina e presidente do Conselho Deliberativo do Hospital das Clínicas. "A faculdade sempre teve um perfil voltado para a assistência. Queremos abri-la também para a educação e à cultura."
No próximo dia 15, a empresária Sandra Papaiz, diretora-geral da fundação e responsável pela nova destinação do imóvel, apresentará um projeto que será debatido com a Faculdade de Medicina, a fundação, a prefeitura, o Condephaat e as associações de moradores do bairro.

Ônibus circular
"É um espaço nobre, que exige cuidados especiais", diz Sandra Papaiz. Por ser construído em alas, o pavilhão -que tem vários prédios anexos- permite diferentes ocupações. Além de abrigar os museus, os espaços serão destinados a cursos e até a congressos menores.
Uma creche inaugurada em setembro poderá abrigar cerca de cem crianças. A capela, já restaurada, passará a ter missas aos domingos. Um cybercafé, doado pelo empresário Eugênio Staub, funcionará no local.
Uma linha de ônibus circular ligará o prédio da Faculdade de Medicina ao espaço do Pacaembu, que ainda não tem um nome oficial. Os dois imóveis ficam separados pela avenida Dr. Arnaldo e pelo Cemitério do Araçá.

"Roda dos expostos"
O imóvel do Pacaembu ganhou espaços na mídia e uma primeira reforma ao abrigar o evento Casa Cor deste ano, a 16ª Exibição Brasileira de Decoração. Antes, abrigou histórias nada felizes nem coloridas que tinham em comum crianças abandonadas.
O prédio foi construído em 1895 para receber crianças deixadas na "roda dos expostos" da Santa Casa de Misericórdia. Mães em desespero que queriam ou tinham de abandonar seus bebês os deixavam anonimamente no hospital. De lá, seguiam para o prédio do Pacaembu.
Em 1935, a casa transformou-se no "Asylu Sampaio Vianna", abrigando crianças de outras procedências. Nos anos 60, passou para o Estado e até 1975 funcionou como orfanato. A partir daí, e até meados dos anos 90, abrigou crianças órfãs ou abandonadas que estavam sob a guarda da Febem (Fundação do Bem-Estar do Menor). Por conta desse perfil, de abrigo para órfãos e crianças abandonadas, o pavilhão sempre foi visto como um misto de tristeza e curiosidade. Agora, o espaço abrigará uma convivência inédita entre médicos e moradores. "Aos poucos, iremos dando melhor destinação ao local", diz Papaiz.


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