São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

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PASQUALE CIPRO NETO

"Como é que se escreve "Réveillon'?"


"Réveillon" é apenas uma das inúmeras palavras que importamos do francês, como "balé", "camelô"...


PAULA TOLLER e Dunga compuseram e Adriana Partimpim gravou uma doce canção chamada "Oito Anos", cuja letra, fiel ao repertório de uma criança de tal idade, é um rosário de perguntas. Lá pelas tantas, a criança indaga: "Como é que se escreve "Réveillon'?". A resposta já foi dada, mas de onde vem "Réveillon"? Temos aí mais uma das palavras que importamos do francês. Usada em boa parte do planeta, "Réveillon" é da mesma família de "réveiller" ("acordar", "despertar").
Em seu livro "Palavras sem Fronteiras", o falecido acadêmico, historiador e diplomata Sergio Corrêa da Costa (que tive o prazer de entrevistar na TV Cultura) fez um apanhado de palavras e expressões universais que encontrou em jornais, livros e documentos que passaram por suas mãos em décadas no Brasil e no exterior. O francês é o campeão, e o inglês nem vice é. Acredite: correm pelo mundo muito mais palavras e expressões francesas do que inglesas.
Entre nós, além das que se mantiveram intactas ou quase intactas ("gourmet" e "debacle", por exemplo; a segunda significa "derrocada", "ruína", "catástrofe" -a forma original é "débâcle"), temos inúmeras palavras que, depois de absorvidas, foram aportuguesadas. É o caso de "filé", "balé", "abajur", "camelô", "bebê", "carpete" (que em algumas regiões do Brasil é "carpê"), "camelô" e até "marmita", que muita gente ainda leva diariamente ao trabalho.
"Réveillon" (que grafamos como no original) é apenas mais um dos tantos casos de francesismo ou galicismo, nomes que se dão à adoção de palavra, expressão ou construção da língua francesa. "Galicismo" se refere à Gália, que o "Houaiss" define como "antigo país no território da França atual, que foi conquistado pelos romanos". O adjetivo relativo à Gália é "gaulês", que hoje se usa como sinônimo de "francês" e não deve ser confundido com "galês", que se refere ao País de Gales, um dos quatro formadores do Reino Unido.
Voltemos à canção "Oito Anos" e à mais do que compreensível pergunta de seu protagonista. Não bastassem os problemas da nossa ortografia (letras que representam mais de um fonema, como o "s" de "mesa" e o de "cansar", e fonemas representados de mais de uma maneira, o que se vê em "exame", "casa" e "azia", por exemplo), cabe ao aprendiz, ainda, a dura missão de "acertar" a grafia de uma palavra claramente "diferente" das nossas, isto é, estrangeira.
Complica a situação o fato de não termos padrão para grafar palavras estrangeiras -aportuguesamos algumas e mantemos intactas outras, sem contar as invencionices, de que são ótimos exemplos os nomes próprios que saem do delírio de quem os cria. Basta dar uma espiadinha em alguns dos nomes "estrangeiros" de lojas e pessoas e depois tentar descobrir de que língua são. De nenhuma. É um tal de meter "h" e de dobrar consoantes (para parecer estrangeiro, sobretudo italiano) que não há estômago que agüente.
Moral da história: se você não sabia como se escreve "Réveillon", be happy, let it be, ou seja, fique frio.
Não podemos esquecer que as festas de fim de ano incluem o Natal e, nele, o lendário bom velhinho, que, no nosso caso, é nomeado por uma expressão luso-francesa. "Noel" vem do francês "Noël" e significa... Significa "Natal", caro leitor. É isso.
inculta@uol.com.br


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