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Professor dá a aluno nota maior que Saresp
Pesquisa da USP revela discrepância entre avaliação que professor faz de estudante e desempenho no exame oficial de SP
Autores de estudo também detectaram que há sinais de discriminação racial em favor de brancos e de que meninas são "protegidas"
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Há uma significativa distância entre o que se vê em sala de
aula e o que é revelado pelo Saresp, o sistema oficial de avaliação da Secretaria Estadual da
Educação de São Paulo.
Estudo feito por três pesquisadores do departamento de
economia da USP -Ricardo
Madeira, Marcos Rangel e Fernando Botelho- mostra que os
professores da rede estadual
dão notas maiores a seus alunos do que as que os mesmos
estudantes recebem no Saresp.
Além disso, há diferença entre as notas do boletim escolar
em comparações raciais e de
gênero. Negros e brancos com
resultado idêntico no Saresp e
as mesmas características têm
notas diferentes em sala de aula, em favor dos brancos. O
mesmo ocorre, com intensidade maior, a favor das meninas.
Esse é o primeiro estudo que
confronta o desempenho de estudantes no Saresp com as notas dos boletins escolares.
A maior discrepância foi verificada nas provas de matemática do 3º ano do ensino médio.
Na escala do Saresp, só 36% dos
alunos eram proficientes. Para
os professores, no entanto,
quase todos (93%) atingiram o
patamar mínimo de aprendizado considerado adequado.
Nas provas de língua portuguesa da 4ª série, a distância foi
menor: 79% de proficientes, segundo o Saresp, e 95%, de acordo com os professores.
"O que percebemos é que o
professor está avaliando seus
alunos de maneira diferente do
Estado. Será que isso acontece
porque ele é ruim e não tem capacidade de discernir adequadamente sobre a proficiência
dos estudantes? Talvez. Mas,
antes de jogar pedra, temos que
considerar que ele vê em sala de
aula características individuais
que o Estado não consegue
ver", dizem os autores.
Entre essas características,
eles citam capacidade de expressão oral, comportamento,
organização e a vivência extraclasse. Se um aluno trabalha
bem em grupo, tem bom relacionamento com colegas e se
mostra esforçado, isso não aparecerá no cálculo de sua nota no
Saresp, mas o professor pode
estar levando isso em conta no
momento de avaliá-lo.
"Se a sociedade considera
que a missão da escola é mais
do que apenas ensinar conteúdos, é de se esperar que o professor avalie isso também. Portanto, antes de concluir que o
professor é ruim, temos que
considerar que pode ser que o
Saresp e outros exames similares sejam instrumentos incompletos de avaliação."
No caso das diferenças de sexo e raça, os autores identificaram que a distância é significativa mesmo depois de controladas todas as variáveis observáveis. Ou seja, alunos com mesma nota no Saresp, que estudam na mesma turma e com características socioeconômicas
semelhantes têm desempenhos diferentes no boletim escolar, conforme sexo ou raça.
No caso da diferença entre
brancos e negros (o estudo soma autodeclarados pretos e
pardos), uma hipótese é que seja resultado de discriminação.
Os autores alertam, no entanto, que o trabalho não permite comprovar empiricamente essa suspeita, até porque não
foi possível identificar comportamento diferenciado de professores brancos ou negros.
Se o preconceito racial explicasse a diferença, era de se esperar que os professores negros
não agissem da mesma maneira que seus colegas brancos.
Para eles, é preciso fazer
mais estudos para entender por
que a diferença a favor de brancos persiste mesmo considerando todas as variáveis observáveis estatisticamente.
"Entender se essa desigualdade é fruto de discriminação
racial ou de diferenças socioeconômicas é importante para
subsidiar políticas públicas de
ação afirmativa", diz Madeira.
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