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RELIGIÃO
Há templos destinados a punks, a góticos, a surdos e a homossexuais e alguns que funcionam em garagens de casas
São Paulo abre uma igreja a cada dois dias
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma igreja para punks e góticos. Uma para surdos. Outra para
quem gosta de black music. Mais
uma só para gays. Em São Paulo,
só não vai à igreja quem não quer.
A cada dois dias, pelo menos
um novo templo é aberto na cidade, sem contar os que funcionam
sem nenhuma autorização em garagens de casas.
Tem igreja para todo tipo de fiel
e nome para todos os gostos. É
possível encontrar desde a Geração dos Filhos de Abraão até a
Deus é Tremendo, passando por
São Kim Degun e O Caminho para a Vida Eterna.
Aos sábados, quem pára em
frente à Deus é Tremendo, na zona sul, jura de pés juntos que ali
não funciona uma igreja. Em vez
de sermões, o que se ouve são
bandas de música black colocando os fiéis para dançar. É o festival
Janeiro Negro, que leva a palavra
de Deus a jovens, muitos deles viciados em drogas.
O pastor Sérgio Marques, 58,
fundador do templo de linha
evangélica pentecostal, explica
que o seu objetivo é recuperar
fiéis mais jovens e "colocá-los no
caminho de Deus".
Para isso, muita linguagem informal e música. A igreja já existe
há cinco anos, mas foi ampliada
no ano passado e atende cada vez
mais fiéis, diz Marques. "Tudo foi
feito regularmente."
A São Kim Degun tem nome coreano, mas é católica. Aberta no
ano passado no centro da cidade,
também seguiu todas as normas
da prefeitura já que foi construída
justamente para ser um templo
religioso. É a mais nova igreja da
Arquidiocese de São Paulo.
Crescimento
De acordo com a Secretaria Municipal da Habitação, apenas no
ano passado, 41 plantas foram
aprovadas para a construção de
novas igrejas.
A grande maioria dos templos
religiosos, no entanto, não é construída especificamente para este
fim. Eles são abertos em imóveis
já existentes e apenas pedem a
mudança de uso para ficarem
isentos de IPTU.
Em 2005, de acordo com a Secretaria Municipal das Finanças,
2.675 imóveis pediram a isenção
-245 a mais do que em 2004 (é
preciso renovar o pedido anualmente). Assim, se somadas as 245
novas isenções com as 41 novas
plantas aprovadas, há 286 novas
igrejas em um ano, uma média de
0,8 por dia.
Não há, no entanto, estatísticas
sobre os imóveis que já tinham
isenção do imposto e que se tornaram templos nem estimativas
sobre o funcionamento de igrejas
sem qualquer autorização.
A prefeitura também não sabe
dizer o total de templos legais que
estão em atividade atualmente. O
último dado, da Secretaria da Habitação, é de 1998. Na época, 4.300
estavam funcionando.
Tanta igreja acabou confundindo a cabeça da dona-de-casa Maria Aparecida Costa, 42, moradora de Parelheiros, zona sul. Criada
católica, se converteu ao espiritismo há 15 anos, quando abriram
um templo na rua onde morava.
"Passei a ir nas sessões, mas aos
poucos fui me perguntando se estava convicta daquilo", conta.
"Já estava descrente quando, há
cinco anos, comecei a freqüentar
os cultos de uma igreja evangélica
do bairro. Também não me encontrei e hoje rezo em casa. Só
queria saber quantos templos têm
nesta cidade, para onde a gente
olha, encontra um diferente."
Descontentes
Professor de sociologia da religião na pós-graduação da PUC-SP, Edin Abumanssur diz que é
muito difícil precisar o número de
igrejas da cidade, até porque elas
abrem e fecham constantemente.
Para ele, esses templos servem para expressar a fé de alguns fiéis
descontentes.
"As pessoas criticam a sua religião, se frustram e abrem a sua
própria igreja. Há dez anos, esse
processo era mais institucionalizado, com regras muito mais rígidas." Além disso, elas podem ser
bastante rentáveis, lembra.
Também da PUC-SP, o ex-padre e professor de teologia e ciências da religião, Fernando Altemeyer, concorda. "Nunca se fundou tanta igreja porque a iniciativa dá dinheiro."
Por observação, ele opina que,
para cada igreja católica, abrem
dez evangélicas. "As regras são
menos rígidas e o mercado é
grande. Além disso, qualquer um
pode abrir um templo, basta escolher o nome. No Brasil, pode tudo,
afinal Deus é brasileiro."
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