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ENTREVISTA
"Doutores da Alegria" divertem crianças em dez hospitais do país
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Imagine médicos e enfermeiros
olhando o hospital e os pacientes
pelos olhos de um palhaço. As relações seriam mais alegres e a internação vista de maneira diversa,
especialmente para as crianças.
Depois de 12 anos de experiência, os palhaços do grupo Doutores da Alegria estão caminhando
nessa direção. Na semana passado, eles desfilaram no Bloco do
Miolinho Mole pelos corredores
do Hospital Barão de Lucena, em
Recife (PE), engrossado por médicos, enfermeiros, crianças e pais
das crianças.
O Barão de Lucena é o décimo
hospital atendido pelo grupo
Doutores da Alegria. Agora são
dois em Recife, dois no Rio e seis
em São Paulo. O grupo começou a
ser montado no fim de 91 e hoje
tem 42 integrantes. Duas vezes
por semana, um casal de palhaços
percorre as pediatrias dos hospitais, parando em cada leito.
O grupo conta com o suporte da
psicóloga Morgana Masetti, autora de dois livros sobre o grupo
-o último deles é "Boas Misturas", editado pela Palas Athena.
"Os profissionais estão preparados para lidar com doenças, mas
raramente com pessoas e saúde",
diz a psicóloga.
O grupo Doutores da Alegria
começou com Wellington Nogueira, 43, que foi estudar teatro
nos EUA e acabou fazendo parte
de uma trupe que se apresentava
em hospitais. "O efeito era tão benéfico que decidi trazer a experiência para o Brasil", diz. Começou, sozinho, no Hospital e Maternidade Nossa Senhora de
Lourdes, no Jabaquara (zona sul).
Hoje, existem cerca de 200 iniciativas semelhantes no país. A equipe dos Doutores da Alegria é patrocinada pelo Tylenol e pela
TRW e tem o apoio da Lei Federal
de Incentivo à Cultura.
"Os besteorologistas formam a
mais nova especialidade na medicina", brinca Nogueira. Abaixo,
trechos de sua entrevista:
Folha - Como se dá a relação do
palhaço com a criança? Que importância isso tem para ela?
Wellington Nogueira - Cada
criança tem uma reação e um
tempo de aceitação. Nós sempre
consultamos a criança se ela quer
ou não nossa aproximação. Com
isso, vai se criando uma relação de
confiança, a criança sente que ela
está tomando uma decisão e que é
respeitada. Nesse momento, ela
sente que está retomando o controle sobre seu corpo, sobre sua
vida. Até então, sua vida estava
apenas na mão do médico. Quando ela sente que está dando as cartas, ela passa a olhar a internação
de outra forma, começa a propor
mudança, vai tomando um papel
pró-ativo na sua recuperação.
Folha - Os médicos e os profissionais de saúde também participam?
Nogueira - O trabalho é sempre
focado na criança, mas não há como não envolver também os pais
e os profissionais. Quando o médico e os enfermeiros também
participam da brincadeira, eles
estabelecem uma relação de igual
para igual com a criança. E isso é
importante para todo mundo.
Folha - Como as crianças que estão sentindo dor recebem vocês?
Nogueira - Cada criança lida
com a dor de um jeito e é importante que ela expresse o incômodo que está sentindo. A dor está
ali, ocupando um espaço. Se você
propõe uma brincadeira e ela
aceita, ela deixa de prestar atenção na dor. Às vezes ela mistura o
choro com o riso, está brincando
e escapa uma lágrima. Um menino disse outro dia: "Quando eu
brinco, não dói". Uma enfermeira
relatou o caso de uma criança que
sentia muita dor quando fazia fisioterapia, mas quando estourava
as bolhas de sabão, fazia movimentos difíceis e não sentia dor.
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