São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Mais um corpo é achado no mosteiro da Luz

Museu de Arte Sacra formará uma equipe multidisciplinar de especialistas antes de retomar as escavações no local

Segundo arqueólogo, existe a possibilidade de o 3º corpo estar mumificado; por ora, especialista confirmou mumificação de apenas um

RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após a confirmação de um terceiro corpo no antigo cemitério do mosteiro da Luz (na região central de São Paulo), onde dois outros corpos -um deles mumificado- foram encontrados no sábado de Carnaval, o museu de Arte Sacra do mosteiro formará uma equipe multidisciplinar de especialistas antes de retomar as escavações.
Não há prazo definido para a retomada do trabalho no local. Análises para obter a datação precisa dos corpos -que pertenceram a freiras da ordem Concepcionista, que vivem em clausura no museu- e detalhes sobre as condições que levaram à preservação serão feitas no Brasil. Nenhum material foi enviado para fora do país.
A confirmação de mais um corpo veio após ter sido verificada a existência de ossos de uma mão, cujo molde na terra pode ser visto no carneiro [gaveta mortuária] abaixo do local onde está a múmia. Embora tenha sido aberto, o túmulo não foi escavado, como o de cima.
"Há possibilidade de que seja ou tenha sido uma múmia", disse o arqueólogo Sérgio Monteiro da Silva, especialista em arqueologia da morte do MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP).
Silva, que acompanhou a escavação desde o início, afirma que, até agora, só um corpo -e não dois, como informara a direção do museu de Arte Sacra- está mumificado. "O outro já está esqueletizado, provavelmente por ação de cupins."
A intenção do grupo, que será formado pela direção do museu, pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional), pelo MAE e pelo IML (Instituto Médico Legal) é abrir os outros cinco túmulos do antigo cemitério -quatro na parede e um no chão. Até 12 corpos podem estar no local.
A prioridade, por ora, é tentar identificar os corpos, através de registros que estão sendo examinados pelo capelão, padre Armênio Nogueira.
"Recebi das freiras quatro livros de crônicas e um com registros da entrada [no mosteiro] e da morte de cerca de 80 [das 129] freiras que estão enterradas no mosteiro. Mas não sei o conteúdo porque ainda não [os] li", disse o capelão.
"Queremos descobrir as causas das mortes. Algumas foram vítimas de epidemias", diz o arqueólogo. O carneiro escavado servirá como "caso piloto".
Dentro dele, um ninho de cupins -motivo oficial da escavação-, foi encontrado. "Controlamos sem usar produtos químicos, que poderiam comprometer os corpos", disse Luiz Roberto Fontes, legista especializado em cupins.
A descoberta da múmia, porém, não foi uma total surpresa. A equipe que acompanhou a escavação sabia que o túmulo escavado já havia sido aberto uma vez, na década de 30, afirmou Silva. "Diz a história oral do mosteiro que as freiras ouviam batidas que vinham lá de dentro. Mandaram abrir, viram que tinha um crânio conservado e fecharam de novo".


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