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São Paulo, sábado, 29 de março de 2003

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SEGURANÇA

Para a polícia do Rio, Sombra era o último líder do CV em liberdade; junto estava um chileno

Braço armado de Beira-Mar é preso

Marco Antonio Rezende/Folha Imagem
Entre os policiais, Jorge Alexandre Cândido Maria, o Sombra (esq.), e Carlos Messina Vidal, o Gringo


MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A Polícia Civil do Rio prendeu ontem na favela da Rocinha (zona sul) o traficante Jorge Alexandre Cândido Maria, 30, o Sombra, apontado como o principal chefe em liberdade da facção criminosa CV (Comando Vermelho) e executor dos atentados promovidos em fevereiro no Estado.
Com Sombra, foi preso o chileno Carlos Orlando Mesina Vidal, 38, o Gringo, que, segundo a polícia, ensinava táticas de guerrilha e resgate, além do manuseio de armas e explosivos, a integrantes do CV. O chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins, informou que investigará uma suposta ligação de Mesina com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Ele diz que será enviado um ofício a polícias de todos os países da América do Sul para obter mais informações sobre o chileno, que portava um documento que teria sido emitido pelo Consulado do Chile no Rio. Havia um mandado de prisão contra Mesina Vidal emitido pela Polícia Federal.
Cândido Maria, o Sombra, era considerado pela polícia o "braço armado" de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Lins disse que, a mando de Beira-Mar e de outros líderes do CV presos em Bangu 1 (zona oeste), organizou ataques em sete municípios do Rio em fevereiro.
"Os presos de Bangu 1 estavam revoltados com o tratamento rígido que estavam recebendo e mandaram os cúmplices em liberdade organizarem os ataques. O tiro saiu pela culatra porque Fernandinho Beira-Mar foi transferido e seu braço armado preso", disse.
Os atentados resultaram na morte de três pessoas. Foram incendiados 58 veículos. Bombas de fabricação caseira foram jogadas em edifícios e supermercados. A governadora Rosinha Matheus (PSB) elogiou a prisão de Sombra e do chileno. "Esse é o trabalho que a polícia tem que fazer. Ela traçou uma estratégia e prendeu esses traficantes", disse.
Sombra e Gringo estavam dentro de uma casa quando foram presos. Apesar de armados com fuzis e pistolas, eles não reagiram à prisão. Os dois foram levados para a carceragem da Polinter (Polícia Interestadual), no centro do Rio. Condenado a 11 anos de prisão por tráfico de drogas, Sombra será transferido para Bangu 1.
Na operação, foram apreendidos dois fuzis, uma pistola, uma granada, carregadores, cem pequenos embrulhos de cocaína e cinco tabletes de maconha.
O documento expedido pelo consulado chileno indica que Gringo ingressou no país em 1988 e possui residência fixa no bairro da Saúde (zona portuária). Segundo o delegado Jader Amaral, Gringo controlava o tráfico na favela Pedra do Sapo, na zona norte.
Por causa do horário em que o documento foi divulgado, a Folha não conseguiu entrar em contato com o consulado. O Ministério do Interior chileno informou que só poderia dar informações sobre Mesina depois que recebesse informações oficiais sobre a prisão.
O delegado Amaral disse que, por ordem de Beira-Mar, Sombra e Gringo foram para a Rocinha em fevereiro, logo após a rebelião ocorrida em Bangu 4 (zona oeste).
A partir daí, Sombra teria passado a ser um dos gerentes do tráfico no local. A Rocinha é apontada pela polícia como o principal entreposto de drogas do Rio. Segundo estimativas da polícia, as bocas-de-fumo do local faturam cerca de R$ 50 milhões por mês.
Sombra vinha sendo procurado pela polícia desde abril, quando fugiu fardado de PM. Ele havia sido preso um mês antes.
Segundo a polícia, Sombra comandou ainda o atentado ao Palácio Guanabara, em outubro do ano passado. Ele dominava o tráfico na Vila Kennedy (zona oeste). Para a coordenadora de inteligência da Polícia Civil, Marina Maggessi, Beira-Mar está "totalmente desarticulado" no Rio e o CV sem nenhuma liderança forte na rua.


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