São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Piloto tem que desviar de prédio para pousar

No Campo de Marte, os helicópteros precisam fazer curva para driblar a proximidade de um prédio em construção

Infraero autorizou a obra, a 180 metros do heliponto, na zona norte, e atribui a confusão à falta de conhecimento dos pilotos

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
MOACYR LOPES JUNIOR
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

Os helicópteros se aproximam e, antes de pousar, fazem uma curva repentina no trajeto -para desviar da proximidade de um prédio em construção.
A cena se tornou corriqueira há mais de um mês no Campo Marte, aeroporto localizado na zona norte de São Paulo e que recebe 180 pousos ou decolagens de helicópteros por dia.
Os pilotos atribuem a manobra -para alguns, desconfortável; para outros, arriscada- à obra de um edifício comercial de três andares, com dez metros de altura, que começou a ser erguido debaixo do trajeto usado desde a última década.
A Infraero (empresa federal que gerencia os aeroportos) autorizou a construção do novo prédio, a 180 metros do heliponto do Campo de Marte, e atribui a confusão ao desconhecimento dos próprios pilotos.
Afirma que a antiga rampa -tipo de via aérea para a descida dos helicópteros- foi alterada no final de 2008 para afastá-los de lá, mas que a mudança tem sido ignorada. A Aeronáutica nega: diz que a modificação da rota não havia sido oficializada até a tarde da última sexta.
A situação é agravada pela presença, há mais de três anos, de um depósito de combustível ao lado da nova obra e bem embaixo do caminho das aeronaves. A ordem da segurança de voo é não sobrevoar áreas de risco para evitar problemas numa condição de emergência.
"Tudo isso é um absurdo. O heliponto tem que sair dali", defende Carlos Alberto Artoni, ex-presidente da Abraphe (associação dos pilotos de helicóptero). Ele já havia reclamado tempos atrás sobre os tanques de combustível. Nas últimas semanas, afirma que se assustou ao deparar com a nova obra.
O atual presidente da entidade, Cleber Mansur, diz que recebeu relatos de preocupação dos pilotos devido ao prédio, mas que não visitou a área para ter uma avaliação. Nos últimos dias, enviou ofício à Infraero para questioná-la sobre a obra.
O edifício que deve ser concluído até julho dentro do Campo de Marte vai abrigar as instalações da Bravio Brasil Avionics, que trabalha com simuladores de voo e que venceu concorrência da Infraero para obter a concessão do espaço.
O diretor da empresa, Otacílio Soares de Lima, ex-comandante de helicópteros da Polícia Militar, diz que "não há anormalidade nem irregularidade" e que, na prática, os pilotos não deveriam sobrevoar a edificação, até por ela ser vizinha a tanques de combustível.
Lima afirma que a obra ainda ficou três metros abaixo do limite legal. E atribui a resistência a "vícios" de alguns comandantes das aeronaves.
Segundo Cristina Lazzari Pelarin, gerente de operações, segurança e manutenção da Infraero, todos os órgãos da aviação foram avisados e deram aval para a construção. A atribuição de alertar e fiscalizar os pilotos, diz, é da Aeronáutica. O major Carlos Alberto Bento, chefe da divisão de operações do SRPV (Serviço Regional de Proteção ao Voo, ligado à Aeronáutica), diz que a obra está de acordo com a legislação.


Texto Anterior: Há 50 anos
Próximo Texto: Aeroporto está entre os 5 mais movimentados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.