São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

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SEGURANÇA

Casos de morte de civis por policiais saem do topo do ranking das queixas recebidas pela Ouvidoria de São Paulo

Crescem denúncias de corrupção policial

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma polícia que mata menos, mas é alvo crescente de denúncias de má qualidade de atendimento e concussão (extorsão praticada por funcionário público). O perfil é traçado pelos dados da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo referentes ao primeiro trimestre deste ano.
De janeiro a março, a Ouvidoria recebeu 52 denúncias de pessoas mortas por policiais militares e civis no Estado -de serviço e na folga- em situações suspeitas, 72,3% a menos do que no mesmo período do ano passado. Na capital paulista, a queda foi maior e chegou a 82,3%.
Os homicídios praticados por policiais saíram do topo do ranking das denúncias da Ouvidoria, que passou a ser ocupado pelo item má qualidade no atendimento. Foram 135 denúncias alertando sobre esse tipo de problema no primeiro trimestre contra 54 em 2003 -aumento de 150%.
O crime de concussão passou de 12º lugar no ranking no primeiro trimestre do ano passado, com 11 denúncias, para 4º lugar, em 2004, com 34 casos.
Para o ouvidor da polícia, Itajiba Farias Ferreira Cravo, a queda das denúncias sobre a letalidade policial não pode ser comemorada antecipadamente. "Estatisticamente, ainda é cedo para qualquer tipo de comemoração", afirmou o ouvidor.
Para ele, a redução está vinculada mais à repercussão de casos emblemáticos envolvendo violência policial -como o do dentista Flávio Ferreira Sant'Ana, assassinado por policiais militares em fevereiro- do que uma mudança na política de segurança.
"Mais do que consciência, a queda mostra o medo imediato de uma punição", disse o ouvidor. O risco estaria na volta do aumento dos índices de letalidade policial à medida que os casos emblemáticos forem esquecidos. "Foi a partir desses casos que as pessoas começaram a pensar: "também pode ser comigo'", disse.
Segundo o ouvidor, os dados do primeiro trimestre mostram que o argumento usado pela polícia -de que as mortes são resultado do aumento do número de confrontos entre policiais e criminosos- é questionável, já que não há registro de alteração nos casos de confronto.
Em relação às denúncias sobre má qualidade do serviço, Cravo afirma que os dados não mostram necessariamente que o serviço oferecido à população piorou em relação a 2003. "Não sei se piorou. Mas esses dados revelam que a população está tendo mais coragem para denunciar, e isso é motivo de comemoração", disse.
Entre essas denúncias, destacam-se problemas nas abordagens de rua, principalmente em blitze, nos atendimentos nos distritos e nas chamadas pelo serviço 190 da Polícia Militar.
"Nas chamadas pelo 190, há casos em que o policial anota, mas ninguém faz nada. Mas o pior é quando o policial ainda tenta convencer a pessoa de que ela está procurando o serviço errado", disse. Segundo Cravo, todos os casos relatados à Ouvidoria referem-se a ocorrências que deveriam ter sido atendidas.
O aumento de denúncias de concussão, segundo o ouvidor, também não pode ser interpretado como um indicativo de que a polícia está mais corrupta do que no ano passado. "Não quero eximir o trabalho da polícia. Talvez só agora estejamos conhecendo melhor a realidade da nossa polícia", disse Cravo.
Dos casos de concussão, a Polícia Civil foi alvo de 28 denúncias à Ouvidoria no primeiro trimestre de 2004, contra nove casos registrados no mesmo período do ano passado. A Polícia Militar teve seis denúncias de janeiro a março, contra dois casos em 2003.


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