|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LETRAS JURÍDICAS
No rumo da desburocratização judicial
WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA
Aproximando-se o Dia do
Trabalho cabe lembrar que
os juízes de primeiro grau, aqueles aos quais cabe o maior contato com a sociedade, estão cada
vez mais ativos e preocupados
com novas práticas para melhorar o Judiciário em seus vários
ramos. Comentário de fevereiro
a respeito, saído na coluna, foi
republicado no "Informativo InterAção", da EPM - Escola Paulista da Magistratura, ilustrado
por fac-símile de cuidadoso trabalho da juíza paulista Ana Paula Bandeira Lins. No mesmo veículo, uma frase do presidente do
Tribunal de Justiça de São Paulo,
desembargador Celso Limongi,
também se volta para as bases do
Judiciário: "A sociedade precisa
conhecer os juízes, até para neles
confiar", pois, no dizer dele, "assim estaremos interagindo, o Judiciário e o nosso povo".
A interação, como estímulo da
eficiência na atividade judiciária requer organização racional
do trabalho, uniformização metodológica, uso adequado dos
equipamentos modernos, aproveitamento integral da eletrônica para melhor atendimento da
sociedade. São Paulo infelizmente está muito atrás de outros Estados e regiões dos ramos da magistratura. O número de processos em andamento é imenso,
mas não desculpa a massa de feitos não julgados até porque as
boas idéias não são novas nem
têm sido aproveitadas. Em 1973,
o juiz Ennio Bastos de Barros,
quando atuava no 2º Tribunal
de Alçada Civil do Estado, produziu diagnóstico e propostas
para melhora funcional da Justiça, a contar da funcionalidade
de seus serviços que, agora, voltam à baila.
Ennio partiu de premissa severa: são raríssimos os tribunais,
com "sua secretaria perfeitamente estruturada". Punha dúvida em que fossem "racionais e
eficientes seus métodos de trabalho". Passados 33 anos, Ennio se
aposentou e voltou à advocacia
-sua crítica ainda representa a
pura verdade. Em princípio, se
refere a ineficiência e aos vícios
da administração pública como
um todo, "do recrutamento de
pessoal à sua classificação, com a
imprópria distribuição de tarefas, critérios de remuneração, determinação de procedimentos,
escolha de material etc". Vícios
que transcendem do nível estadual. É certo que na atualidade:
diminuíram muito os autos processuais costurados, à moda antiga, com uma sovela ou uma
agulha grossa de aço capaz de
formar volumes de mais ou menos 200 folhas cada um. Nessa situação, escrevia Bastos de Barros
em 1973, mesmo na transformação desordenada de varas e tribunais, "atua decisivamente
apenas a tradição", com modificações lançadas "sem maior rigor técnico nem sequer na formulação de suas estruturas".
Entre outras propostas está a de
que os tribunais contem, entre seu
pessoal, para o direcionamento
dos serviços, com elementos técnicos em administração ("Anais do
3º Encontro dos Tribunais de Alçada do Brasil", Porto Alegre,
1973, página 140). Para ele, a frustração do jurisdicionado com a
Justiça dá origem à própria denegação dela, impondo o emprego
criterioso dos dinheiros públicos,
na busca de melhor resultado ao
menor custo. Critica as rotinas
que seus praticantes criam para
"uma convincente aparência de
eficiência e insuperabilidade".
Ennio mantém ainda hoje a velha preocupação com a melhora
da Justiça, evidenciada no trabalho do século passado. Paradoxalmente, porém, ainda há falta de
diálogo dos desembargadores
mais antigos com as bases. No Judiciário o "baixo clero" tem dificuldade para influir, em outro fator prejudicial da qualidade.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Livros jurídicos Índice
|