São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

No Japão, comemoração do centenário se limita a evento para autoridade

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A KOBE (JAPÃO)

O início das comemorações do centenário da imigração japonesa ao Brasil foi prestigiado por membros da família imperial e do governo japonês em Tóquio e em Kobe. Mas, ao contrário das dezenas de eventos com apelo popular programados no Brasil, no Japão eles se limitaram a discursos e coquetéis para autoridades.
Menos de 400 pessoas foram a coquetel ontem em Kobe, de onde há exatos cem anos partiu o navio Kasato Maru, levando os primeiros 781 imigrantes até Santos. O príncipe herdeiro, Naruhito, presidiu a cerimônia.
A idéia inicial era que uma réplica do Kasato Maru fizesse o mesmo percurso dos pioneiros. No lugar, uma "tocha da amizade" irá num navio da empresa Mitsui, que mantém comércio regular com o porto de Santos, num contêiner da Kawasaki.
Não houve comemoração no porto. O príncipe fez um brinde em um hotel cinco estrelas na hora da partida da tocha, às 17h55 locais (5h55 em Brasília).
Para vários imigrantes japoneses presentes em Kobe, o centenário merecia eventos de maior apelo. "Um torneio de futebol ou um festival com grandes nomes da música brasileira teria muito mais repercussão em mostrar o Brasil aqui, mas as grandes empresas não colaboraram", disse à Folha o presidente do Comitê Executivo da Associação para a Comemoração do Centenário, Osamu Matsuo, japonês naturalizado brasileiro que mora em São Paulo há 53 anos.
"Queríamos levar a Orquestra Sinfônica de Tóquio ao Brasil, mas faltou patrocínio."
Para Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica, que fez os personagens Tikara e Keika para celebrar o centenário, a programação no Japão "ainda está devagar". "Precisa de uma chacoalhada."
Os maiores eventos previstos no Japão são shows, ainda não confirmados, de Gilberto Gil e Olodum no segundo semestre. Mas a música baiana não é raridade no país. Em 2007, a banda Asa de Águia esteve no evento que pretende ter Gil.
A cobertura do centenário é mínima na imprensa japonesa -pelo menos nos cinco principais diários e na maior rede de televisão, NHK, segundo pesquisa da agência Nikkei.
"A sociedade japonesa como um todo tem dado menos atenção ao centenário do que a imprensa e a sociedade brasileiras. A imigração não é abordada nos livros escolares como mereceria", diz o sociólogo Angelo Ishi, professor da Universidade Musahi. "As agruras do passado são uma página virada."

Trem-bala no Brasil
O centenário é visto como chance de aprofundar o comércio entre Brasil e Japão e atrair mais investimentos ao Brasil.
Na semana passada, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, visitou vários ministérios e se reuniu com executivos de grandes empresas do país. Dilma foi até Kioto pelo trem de alta velocidade -os japoneses têm interesse na concorrência para a construção de um trem-bala ligando São Paulo ao Rio.
Os investimentos japoneses no Brasil, fortes nos anos 80 e 90, estagnaram na última década. A balança comercial do Brasil com a China é duas vezes e meia a do Brasil com o Japão -apesar de a economia japonesa ser maior do que a chinesa.


Texto Anterior: Produtos japoneses também chegaram antes de imigrantes
Próximo Texto: Mortes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.