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No Japão, comemoração do centenário se limita a evento para autoridade
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A KOBE (JAPÃO)
O início das comemorações
do centenário da imigração japonesa ao Brasil foi prestigiado
por membros da família imperial e do governo japonês em
Tóquio e em Kobe. Mas, ao contrário das dezenas de eventos
com apelo popular programados no Brasil, no Japão eles se
limitaram a discursos e coquetéis para autoridades.
Menos de 400 pessoas foram
a coquetel ontem em Kobe, de
onde há exatos cem anos partiu
o navio Kasato Maru, levando
os primeiros 781 imigrantes até
Santos. O príncipe herdeiro,
Naruhito, presidiu a cerimônia.
A idéia inicial era que uma réplica do Kasato Maru fizesse o
mesmo percurso dos pioneiros.
No lugar, uma "tocha da amizade" irá num navio da empresa
Mitsui, que mantém comércio
regular com o porto de Santos,
num contêiner da Kawasaki.
Não houve comemoração no
porto. O príncipe fez um brinde
em um hotel cinco estrelas na
hora da partida da tocha, às
17h55 locais (5h55 em Brasília).
Para vários imigrantes japoneses presentes em Kobe, o
centenário merecia eventos de
maior apelo. "Um torneio de
futebol ou um festival com
grandes nomes da música brasileira teria muito mais repercussão em mostrar o Brasil
aqui, mas as grandes empresas
não colaboraram", disse à Folha o presidente do Comitê
Executivo da Associação para a
Comemoração do Centenário,
Osamu Matsuo, japonês naturalizado brasileiro que mora
em São Paulo há 53 anos.
"Queríamos levar a Orquestra Sinfônica de Tóquio ao Brasil, mas faltou patrocínio."
Para Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica, que
fez os personagens Tikara e
Keika para celebrar o centenário, a programação no Japão
"ainda está devagar". "Precisa
de uma chacoalhada."
Os maiores eventos previstos
no Japão são shows, ainda não
confirmados, de Gilberto Gil e
Olodum no segundo semestre.
Mas a música baiana não é raridade no país. Em 2007, a banda
Asa de Águia esteve no evento
que pretende ter Gil.
A cobertura do centenário é
mínima na imprensa japonesa
-pelo menos nos cinco principais diários e na maior rede de
televisão, NHK, segundo pesquisa da agência Nikkei.
"A sociedade japonesa como
um todo tem dado menos atenção ao centenário do que a imprensa e a sociedade brasileiras. A imigração não é abordada
nos livros escolares como mereceria", diz o sociólogo Angelo
Ishi, professor da Universidade
Musahi. "As agruras do passado
são uma página virada."
Trem-bala no Brasil
O centenário é visto como
chance de aprofundar o comércio entre Brasil e Japão e atrair
mais investimentos ao Brasil.
Na semana passada, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, visitou vários ministérios e
se reuniu com executivos de
grandes empresas do país. Dilma foi até Kioto pelo trem de
alta velocidade -os japoneses
têm interesse na concorrência
para a construção de um trem-bala ligando São Paulo ao Rio.
Os investimentos japoneses
no Brasil, fortes nos anos 80 e
90, estagnaram na última década. A balança comercial do Brasil com a China é duas vezes e
meia a do Brasil com o Japão
-apesar de a economia japonesa ser maior do que a chinesa.
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